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Ray Harryhausen

É impossível falar sobre os filmes de monstros das décadas de 50 a 80 sem citar o nome de Ray Harryhausen, pois este grande homem, falecido em 7 de maio de 2013, deu vida as mais estranhas e bizarras criaturas. Os monstros e seres fantásticos criados por Harryhausen povoaram os filmes de horror e ficção científica de uma dedicada geração de fãs, pois pelo menos no auge de sua carreira, a popularidade de suas criaturas era grande. No entanto, muito pouco se comenta dele e de sua criação hoje em dia, devido ao fato, talvez, da esmagadora sequência de filmes envolvendo efeitos especiais de última geração. Porém, entre os próprios criadores de efeitos especiais, Harryhausen é continuamente citado como o eterno mestre no seu estilo, estilo esse conhecido como stop-motion.

Só não e citado como o pai da técnica por haver, antes dele, um outro gênio que também usou dos recursos do stop motion para animar diversos filmes, o genial Willis O’Brien, responsável pelos efeitos do filme King Kong (EUA, 1933). Porém, a popularidade de Harryhausen superou a de O’Brien, talvez pelo fato dele ter se aperfeiçoado mais e numa época em que o cinema de horror e ficção científica estava em alta.

O Stop-Motion é uma antiga técnica cinematográfica que basicamente é a filmagem quadro-a-quadro de bonecos ou objetos inanimados para a simulação de constante movimento. E até hoje esta primitiva técnica vem fascinando os cinéfilos. Mas como já disse, é um recurso primitivo e praticamente extinto, não sendo mais usado (ou muito pouco usado) pelos responsáveis em efeitos especiais.

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Aos 13 anos de idade, Harryhausen assistiu a primeira versão de King Kong, dirigida por Merian C. Cooper e Ernest B. Shoedsack, e ficou fascinado pelo efeito stop-motion. As animações de O’Brien para o macaco gigante já eram bastante sofisticadas, combinando, inclusive, com outro efeito cinematográfico, o Rear Projection, que consistia em projetar, atrás de uma cena animada, um boneco de Kong, que aparecia de forma gigantesca contracenando com atores reais. Efeitos tão antigos como o próprio cinema.

Esses efeitos, considerados moderníssimos na época, foram responsáveis pela projeção de Harryhausen no mundo cinematográfico, pois o jovem garoto dedicou-se, daí em diante, a esse tipo de técnica e criou em sua própria casa um pequeno zoológico de criaturas e monstros de toda espécie. E não se contentou com isso apenas; resolveu, também, criar seus próprios filmes com a ajuda dos materiais que tinha em casa e uma pequena câmera de 16 mm. E essas mesmas criaturas, mais tarde em 1938, serviriam para fazer suas tentativas iniciais no cinema profissional.

Foi apadrinhado por, nada mais nada menos que Willis O’Brien, o mestre dos efeitos especiais, mas teve que começar a trabalhar para outro gênio do cinema de ficção científica, George Pal, e nos documentários de guerra de Frank Capra (o mais importante produtor da década de 30, inclusive ganhador de 3 Oscars).

A estreia oficial de Harryhausen como animador foi no longa metragem Mighty Joe Young, lançado em 1949 (dirigido por Ernest B. Shoedsack, o mesmo de King Kong). O filme demorou três anos para ser produzido e Harryhausen trabalhou em parceria com O’Brien, mas o mérito recaiu sobre ele, pela quase totalidade de suas sequências de animação, que combinavam todos os efeitos desenvolvidos pelo seu mestre, como a Rear Projection e o Matte Painting (cenários pintados em vidro e compostos com imagens reais).

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Seu filme seguinte, O Monstro do Mar (The Beast from Twenty Thousand Fathoms, 1953), foi mais expressivo e marcante do que o anterior, mesmo tendo sido realizado com um terço do orçamento em comparação com o Mighty Joe Young. Isto deveu-se ao fato do novo refinamento das sequências, que combinavam ação real e animação. Novamente foram usados os efeitos Rear Projection para colocar um gigantesco réptil andando sobre pessoas e carros e aterrorizando a cidade de New York. Com tantos efeitos de primeira categoria, o filme só poderia se tornar num sucesso imediato. E foi o que se sucedeu.

Logo os produtores se interessaram pela genialidade de Harryhausen. O primeiro deles foi Charles Schnneer, que produziu o filme O Monstro do Mar Revolto (It Came from Beneath the Sea, 1955). Desta vez Harryhausen coloca uma gigantesca lula destruindo o Golden Gate de San Francisco e levando pânico à população.

Para o filme de Irwin Allen, The Animal World (1956), Harryhausen elaborou diversos dinossauros e reproduziu a vida desses animais de forma surpreendente. Um filme raro.

Para Fred Sears, Harryhausen criou uma aterrorizante invasão de alienígenas em Washington, em A Invasão dos Discos Voadores (Earth Versus the Flying Saucers, 1956), fazendo com que suas maquetes de discos voadores projetassem sombras artificiais num chão real, em proporção realista. Uma rara joia da ficção científica que poucos conhecem.

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Outro pequeno clássico da ficção científica é o filme Vinte Milhões de Milhas da Terra (Twenty Million Miles to Earth, 1957), onde um pavoroso monstro, o Ymir, vem diretamente do planeta Vênus e após fugir ao controle, acaba escapando e tornando-se um gigante que leva pânico e medo à população romana.

Finalmente em 1958, Harryhausen poderia mostrar sua genialidade em filmes à cores, e sua estreia “colorida” foi com A Sétima Viagem de Simbad (The Seventh Voyage of Simbad),  com grande popularidade na época, inclusive levando o nome de Harryhausen pela primeira vez nos cartazes de cinema. Neste filme, Schnneer se junta novamente ao mestre para produzir cenas antológicas, iniciando um ciclo de filmes que relembravam os fatos curiosos e interessantes da mitologia clássica. Uma cena inesquecível (eu tinha oito anos quando assisti!) é quando um cíclope e um dragão se confrontam num combate brutal, numa belíssima praia. Um filme de fantasia obrigatório para quem gosta de mitologia greco-romana.

Após este filme, cresceu em Harryhausen a vontade de explorar novos temas, abordar assuntos mais fantasiosos, como podemos notar nos filmes As Aventuras de Gulliver (The Three Worlds of Gulliver, 1960), baseado na obra de Johann Swift, e A Ilha Misteriosa (Mysterious Island, 1961), baseado na obra de Julio Verne, filmes dirigidos por Jack Sher e Cy Endfield respectivamente.

No entanto, foram apenas um preparativo para uma das mais impressionantes adaptações no cinema de fantasia-aventura, Jasão e o Velo de Ouro (Jason and the Argonauts, 1963), no qual ele finalmente pode explorar sua antiga paixão pela mitologia clássica. Como não poderia deixar de ser, desfilam neste filme as mais impressionantes cenas de animação e aventura, como o antológico combate entre Jasão e um grupo de esqueletos, que impressionaram pela realidade dos movimentos.

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A cada novo filme, Harryhausen se aperfeiçoava mais em sua técnica dando-nos, inclusive, uma sequência arrasadora de filmes de aventura. Filmes que são considerados as definitivas obras-primas da “fase de ouro” do mestre.

Os Primeiros Homens na Lua (First Men in the Moon, 1964), Mil Séculos Antes de Cristo (One Million Years B. C. , 1966), Valley of Gwangi (1969), são filmes antológicos.

No auge de sua carreira como animador, Harryhausen, novamente com Schnneer, cria seus três melhores filmes: A Viagem de Ouro de Simbad (The Golden Voyage of Simbad, 1973), Simbad e o Olho do Tigre (Simbad and the Eye of the Tiger, 1977) e A Fúria de Titãs (Clash of the Titans, 1981). Estes dois filmes envolvendo o Capitão Simbad foram duas sequências tardias do filme A Sétima Viagem de Simbad. Já A Fúria de Titãs foi seu projeto mais caro, isto por causa do elenco de atores ilustres. Mas a animação não fica devendo; eu, pessoalmente, considero como sua obra-prima, foi um dos filmes que mais me impressionou. Diversas criaturas desfilam ao longo da história; talvez a mais impressionante seja a Medusa (monstro mitológico grego, metade mulher, metade animal com serpentes em lugar de cabelos e que transformava em pedra quem a encarasse). O terrível monstro marinho, Kraken, também é apavorante. No entanto, o que atrai a simpatia dos telespectadores neste filme é uma pequena coruja de metal, que auxilia o herói Perseu em suas arriscadas aventuras. É, sem dúvida nenhuma, o maior clássico da fantasia que o cinema já fez. Um filme que deve ser visto, revisto, gravado e guardado à sete chaves na sua videoteca. Com esta obra-prima do cinema, Harryhausen fecha com chave de ouro sua brilhante carreira como animador. No entanto, sua influência permanecerá para sempre, pelo menos na memória dos seus verdadeiros fãs.

Os filmes Dragonslayer e O Império Contra-Ataca (1980) demonstram influências diretas com o velho mestre, tendo, inclusive, uma técnica variada de animação que se originou do stop-motion, que, apesar de ser mais sofisticado, não deixa de apresentar características com o antigo método.

Harryhausen se dedicava totalmente ao seu trabalho, no entanto ganhou apenas um Oscar (o qual teve que dividir com O’Brien em seu primeiro filme em 1949). Hoje, porém, seu trabalho é pouco comentado. Seus filmes são raros e seu nome aparece apenas como obrigação em documentários de TV. Mas na memória dos fãs, suas animações e sua obra em geral serão sinônimos de emoção. Eu nem sabia escrever ainda e já me maravilhava com as criaturas de Harryhausen, por isso hoje eu estimo muito sua obra e o mínimo que eu posso fazer por ela está feito.

PRINCIPAIS FILMES

1949 – Joe, o Forte (Mighty Joe Young), de Ernest B. Schoedsack
1953 – O Monstro do Mar (The Beast From Twenty Thousand Fathoms), de Eugène Lourié
1955 – O Monstro do Mar Revolto (It Came From Beneath the Sea), de Robert Gordon
1956 – A Invasão dos Discos-Voadores (Earth Vs. the Flying Saurcers), de Fred S. Sears
1957 – The Animal World, de Irwin Allen
1957 – À Vinte Milhões de Milhas da Terra (Twenty Million Miles to Earth), de Nathan Juran
1958 – Simbad e a Princesa (The Seventh Voyage of Simbad), de Nathan Juran
1959 – As Aventuras de Gulliver (The Three Worlds of Gulliver), de Jack Cher
1961 – A Ilha Misteriosa (Mysterious Island), de Cy Endfield
1963 – Jasão e o Velo de Ouro (Jason and the Argonauts), de Don Chaffey
1964 – Os Primeiros Homens na Lua (First Men in the Moon), de Nathan Juran
1966 – Mil Séculos Antes de Cristo (One Million Years B.C.), de Don Chaffey
1969 – O Vale Proibido (The Valley of Gwangi), de James O’Connoly
1974 – A Viagem Dourada de Sinbad (The Golden Voyage of Sinbad), de Gordon Hessler
1977 – Sinbad e o Olho do Tigre (Sinbad and the Eye of the Tiger), de Sam Wanamaker
1981 – Fúria de Titãs (Clash of Titans), de Desmond Davis

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3 Comentários

  1. saudades……, e Phil Tippett ainda ganha poucos trabalhos na continuação do legado! menos WETA e mais efeitos pratico pra um cinema melhor!

  2. Eu fiquei muito triste com sua morte ano passado. Lembro de assistir os filmes dele na televisão na antiga Rede 21, a luta do ciclope com o dragão é uma coisa que ficou gravada na minha mente e espero lembrar dela para sempre. Quem realmente ama o cinema fantástico vai sempre guardar esse nome no coração.

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