O mais famoso vampiro da história da literatura de horror e posteriormente cinema, o Conde Drácula, criado pelo escritor irlandês Bram Stoker em 1897, foi tema de uma infinidade de filmes produzidos ao longo das últimas décadas, constituindo-se num dos personagens literários mais filmados em todos os tempos. Entre essa enorme quantidade de filmes, alguns se destacaram e podem ser considerados como referências em suas respectivas épocas, sendo sempre lembrados e reverenciados pelos apreciadores de vampirismo e cinema de horror em geral.
Drácula (Dracula, 1931), de Tod Browning, foi produzido pelo estúdio americano Universal com fotografia em preto e branco num estilo bem teatral (inspirado pela peça de Hamilton Deane e John L. Balderston) e traz o ator Bela Lugosi no papel do vampiro e Edward Van Sloan como seu eterno inimigo Prof. Abraham Van Helsing. O Vampiro da Noite (Horror of Dracula, 1958), de Terence Fisher, foi filmado a cores pela nostálgica produtora inglesa Hammer (que nesse período estava resgatando o cinema de horror levando novamente às telas os monstros sagrados do gênero, eternizados pela Universal nos anos 30 e 40), e dessa vez com o ator Christopher Lee no papel de Drácula e Peter Cushing como Van Helsing (em papéis que eles repetiriam juntos posteriormente em muitas outras oportunidades). E mais recentemente, como um filme moderno contando com mais recursos de produção e efeitos especiais, temos Drácula de Bram Stoker, dirigido por Francis Ford Coppola em 1992, sendo bastante fiel ao livro que originou o lendário vampiro, e com elenco principal formado por Gary Oldman e Anthony Hopkins (Drácula e Van Helsing, respectivamente).
Uma grande quantidade de atores diferentes tiveram a oportunidade de interpretar o papel do terrível vilão sedento de sangue Drácula, e mais uma outra infinidade deles protagonizaram outros vampiros em geral nas telas do cinema.
Dentre os principais, destacam-se certamente dois nomes consagrados principalmente por suas performances como as criaturas da noite, o húngaro Bela Lugosi e o inglês Christopher Lee. Eles tiveram suas carreiras e imagens eternamente associadas ao personagem Conde Drácula, transformando-se em ícones do gênero e sendo imortalizados na história do Horror.
Principalmente no caso de Bela Lugosi, que após deixar de interpretar o vampiro, teve um incrível declínio em sua carreira sendo apenas acolhido em meados dos anos 1950 pelo lendário cineasta Edward Wood Jr., responsável por alguns dos mais bizarros filmes de horror e ficção científica da história, inaugurando a chamada categoria trash do cinema fantástico, onde seus filmes produzidos de forma séria passaram a ser cultuados algum tempo depois justamente por serem muito ruins não propositadamente. Lugosi participou em fim de carreira de alguns filmes de Ed Wood, vindo a falecer doente em 1956 quando filmava The Ghoul Goes West, onde suas cenas foram depois aproveitadas em Plan 9 From Outer Space, lançado três anos depois e famoso por receber da crítica especializada o inusitado e simbólico título de o pior filme de todos os tempos. Para se ter uma ideia da precariedade da produção, para finalizar o trabalho de filmagem após a morte de Bela Lugosi, o diretor Ed Wood recrutou um ator dublê para continuar as cenas de seu personagem na história, escondendo parte do rosto com uma capa negra, e deixando evidente a falta de semelhança física com o ator falecido a quem estava substituindo.
Bela Lugosi nasceu em 1882 na cidade de Lugos, Hungria, e em sua carreira destacaram-se principalmente os seus trabalhos no cinema fantástico, em filmes onde interpretou vampiros, monstros e cientistas loucos como em Zumbi Branco (1932), O Gato Preto (1934), Mark of the Vampire (1935, como o Conde Mora), O Raio Invisível (1936), O Lobisomem (1941), Frankenstein Meets the Wolf Man (1943, interpretando a famosa criatura feita a partir de restos de cadáveres), The Ape Man (1943), Return of the Vampire (1944), O Túmulo Vazio (1945) e A Noiva do Monstro (1955), contracenando com outros atores que também tiveram seus nomes eternamente ligados ao Horror como Boris Karloff, Lon Chaney Jr., Lionel Atwill, John Carradine e o grandalhão Tor Johnson (ator sueco e figura carimbada dos filmes trash).
Já Christopher Lee interpretou de tudo em sua carreira, demonstrando uma incrível versatilidade no ofício, mas principalmente ele ficou marcado por seus papéis de vilão, protagonizando além de Drácula, vários outros monstros famosos como a criatura de Frankenstein e a múmia, além do criminoso Dr. Fu Manchu, e do perturbado cientista Dr. Charles Marlowe e sua dupla personalidade maléfica Mr. Edward Blake (numa referência clara ao Dr. Jekyll e Mr. Hyde, do livro O Médico e o Monstro de Robert Louis Stevenson), no filme Soro Maldito (1971). Lee atuou na maioria das vezes em filmes das produtoras inglesas Hammer e Amicus, e contracenou ao lado de atores igualmente cultuados como Peter Cushing, Vincent Price e Boris Karloff. Alguns outros filmes interessantes de seu currículo são A Górgona (1964), A Maldição do Altar Escarlate (1968), O Ataúde do Morto-Vivo (1969), A Casa Que Pingava Sangue (1970), O Expresso do Horror (1972), O Homem de Palha (1973), A Essência da Maldade (1973) e Uma Filha Para o Diabo (1976).
E apesar de ficar conhecido para sempre pelo papel do conde vampiro, Lee também se destacou em outros personagens do Horror, e ainda está na ativa, com seus 92 anos de idade, atravessando mais um momento mágico em sua carreira, tendo o privilégio de ser homenageado por vários cineastas modernos importantes como Tim Burton, participando do seu excepcional A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999), ou George Lucas, que lhe deu o papel do vilão Conde Dookan / Darth Tyranus em na nova trilogia Star Wars, ou ainda Peter Jackson, com sua participação no papel do vilão mago Saruman na fantástica trilogia O Senhor dos Anéis e na trilogia O Hobbit, baseada na obras homônimas do popular escritor J. R. R. Tolkien.
Christopher Lee nasceu em 1922 em Londres, Inglaterra, sendo possuidor de uma vasta filmografia com aproximadamente 300 trabalhos, boa parte dentro do gênero fantástico. Ele é o único ator ainda vivo de uma lendária geração formada ainda por Vincent Price, Peter Cushing, John Carradine e Donald Pleasence, que faleceram todos ao longo dos últimos 15 anos, e que deixaram um enorme legado de filmes para preservar suas memórias eternamente entre os fãs do cinema de horror e ficção científica.
Alguns outros atores igualmente expressivos que também experimentaram o papel do Conde Drácula em algum momento de suas brilhantes carreiras foram John Carradine, Jack Palance e Frank Langella. O primeiro interpretou o vampiro em dois filmes no estilo crossover entre monstros sagrados do Horror como Drácula, A Criatura de Frankenstein e O Lobisomem, produzidos na década de 1940, House of Frankenstein (1944) e House of Dracula (1945). Americano nascido em 5 de fevereiro de 1906 em Nova York, seu nome verdadeiro era Richmond Reed Carradine, que teve uma extensa carreira composta por mais de 250 filmes, muitas vezes participando como um ilustre coadjuvante, e interpretando todo tipo de personagem, sobretudo dos gêneros horror, ficção científica e western. Carradine morreu em 27 de novembro de 1988, na cidade italiana de Milão.
O veterano Jack Palance estrelou em 1973 numa performance digna de seu talento, um interessante filme produzido especialmente para a televisão também chamado Drácula, com direção de Dan Curtis e roteiro do especialista Richard Matheson. Sua filmografia ultrapassa a marca de 100 obras, mas ele faleceu em 10 de novembro de 2006, tendo entre seus últimos trabalhos um episódio macabro da ótima série de TV Night Visions (2001), produzida pela Fox e Warner.
Frank Langella nasceu em 1940, e interpretou Drácula na versão homônima produzida em 1979 pela Universal e dirigida por John Badham, tendo como seu histórico oponente Prof. Van Helsing, o ator Laurence Olivier. Com uma carreira com mais de 90 filmes, de todos os gêneros, recentemente Langella participou, ao lado de Cameron Diaz e James Marsden, do thriller de horror A Caixa (2009), baseado num conto de Richard Matheson e que já serviu de base para um episódio da série Além da Imaginação, de 1986.
O famoso vampiro Drácula foi também interpretado por Carlos Villarias na versão espanhola de Dracula (1931), dirigida por George Melford ao mesmo tempo em que Tod Browning filmava a sua versão americana com Bela Lugosi, muito mais conhecida pelo público. Aliás, foram utilizados os mesmos cenários para ambos os filmes, e com o surgimento do cinema sonoro no início da década de 30 e a ainda inexistência de recursos técnicos como a dublagem e as legendas, as produtoras foram obrigadas a fazerem filmes voltados especialmente para as audiências localizadas fora dos Estados Unidos, sendo que a produção em espanhol de Dracula foi direcionada justamente para o mercado latino americano.
Outros atores que também atuaram como Drácula foram George Hamilton em 1979 na comédia romântica de horror Amor à Primeira Mordida, de Stan Dragoti. O alemão Udo Kier em Blood for Dracula (1974), filme italiano de Paul Morrissey e produzido por Andy Warhol. E o escocês Gerard Butler em Drácula 2000, com produção de Wes Craven e direção de Patrick Lussier, num filme muito pouco inspirado, com o roteiro relacionando o vampiro ao histórico traidor Judas Iscariot, mas que ainda assim originou uma franquia com outros dois filmes do mesmo diretor, Dracula II: Ascension (2003) e Dracula III: Legacy (2005). E também não é possível deixar de falar da atuação fraca de Thomas Kretschmann como Drácula no péssimo Drácula 3D, dirigido por Dario Argento, em 2012.
Além do já tradicional Príncipe das Trevas Drácula, que foi levado às telas exaustivamente, outros vampiros importantes na história do cinema de horror foram o Conde Graf Orlok no clássico mudo do expressionismo alemão Nosferatu, Uma Sinfonia de Terror (1922), baseado de forma não autorizada no livro de Bram Stoker e dirigido por Friedrich Wilhelm Murnau; o Conde Yorga, que no início da década de 1970 teve dois filmes interessantes dirigidos por Bob Kelljan; além de Lestat, o vampiro criado pela escritora Anne Rice em sua série de livros Crônicas Vampirescas e que apareceu em dois filmes até o momento, Entrevista com o Vampiro (1994), de Neil Jordan, e A Rainha dos Condenados (2002), de Michael Rymer.
O Conde Orlok foi interpretado pelo estranho ator Max Schreck na clássica versão em preto e branco de 1922, sendo que na versão européia de 1979, mais moderna, Nosferatu, o Vampiro da Noite, dirigida pelo alemão Werner Herzog, e baseada e devidamente creditada na obra de Bram Stoker, o vampiro foi interpretado pelo também alemão Klaus Kinski. Em 2000, ainda foi lançado o filme A Sombra do Vampiro, estrelado por Willem Dafoe, com uma história mostrando os bastidores das filmagens de Nosferatu da década de 20, sugerindo que o próprio ator Max Schreck fosse na verdade um vampiro real. Já o Conde Yorga foi interpretado por Robert Quarry e o vampiro Lestat esteve nas mãos de Tom Cruise no filme de 1994 e do irlandês Stuart Townsend em 2002.
Dentre os inúmeros filmes com vampiros ao longo de mais de cem anos de história do cinema, vale destacar o clássico mudo London After Midnight (1927), também do cineasta especialista em horror Tod Browning (de Freaks, 1932), com o ator Lon Chaney interpretando um papel duplo, sendo o detetive Burke da Scottland Yard e ao mesmo tempo também um vampiro simulado, com o objetivo de tentar desmascarar e capturar um assassino. Lon Chaney ficou conhecido como um ator especializado na preparação de sua própria maquiagem sendo conhecido como O Homem das Mil Faces, um título adquirido por suas clássicas caracterizações em filmes como O Corcunda de Notre Dame (1923, da obra de Victor Hugo), como o deformado Quasímodo, e O Fantasma da Ópera (1925, do livro de Gaston Leroux), interpretando o personagem do título. Ele morreu vítima de câncer, mas deixou seu filho Lon Chaney Jr. para continuar o legado de horror da família, vindo a transformar-se na mais importante criatura mista de homem e lobo do cinema, com o lançamento de O Lobisomem (The Wolf Man, 1941). Apesar de London After Midnight não apresentar um vampiro real em sua história, ele é considerado um dos precursores dos filmes americanos trazendo elementos de vampirismo em sua trama básica.
Outro filme que merece registro é Blácula, o Vampiro Negro (Blacula, 1972), de William Crain. No início dos anos 70, foram produzidos uma série de filmes com atores predominantemente negros num estilo batizado como blaxploitation, e um dos destaques desse período foi justamente Blácula, com o ator William Marshall (falecido em 11/06/03 aos 79 anos) interpretando um vampiro negro em busca do sangue de suas vítimas. O mesmo papel ele ainda repetiria no ano seguinte em Os Gritos de Blácula, ao lado de Pam Grier.
Enveredando para o caminho da comédia, é interessante citar três filmes dentro desse estilo. O clássico A Dança dos Vampiros (Dance of the Vampires, 1967), dirigido por Roman Polanski e trazendo o ator Ferdy Mayne como o vampiro Conde Von Krolock. Em 1974 foi lançado o filme Vampira, de Clive Donner e com David Niven como o Conde Drácula e Teresa Graves como a sua companheira Condessa Vampira. E depois tivemos Drácula: Morto Mas Feliz (Dracula: Dead and Loving It, 1995), dirigido por Mel Brooks e com o experiente comediante canadense, recentemente falecido, Leslie Nielsen como o Conde Drácula, e o próprio Brooks como seu inimigo histórico Prof. Van Helsing.
E para completar esse breve relato sobre atores que interpretaram vampiros no cinema, em 1985, um filme dirigido por Tom Holland (de Brinquedo Assassino, 1988) acabou tornando-se uma referência do vampirismo da memorável década de 80. Trata-se de A Hora do Espanto (Fright Night), cujo título nacional impulsionou a nomeação de uma série de filmes lançados no Brasil no mesmo período utilizando-se o nada original prefixo A Hora…. Com um roteiro misturando elementos de horror e humor negro, o charmoso vampiro do filme foi interpretado por Chris Sarandon, num elenco formado ainda pelo veterano Roddy McDowall como um falido apresentador de filmes de terror na televisão, promovido obrigatoriamente à caçador das sanguinárias criaturas da noite.
Nota do Autor: Esse artigo tem como objetivo servir de pequena referência sobre os atores que interpretaram Drácula e outros vampiros importantes no cinema, apenas citando e comentando a existência de alguns filmes e atores representativos do tema. Portanto, certamente muita informação não foi mencionada nesse texto, e cujo material de pesquisa é praticamente inesgotável…
Em “Desconhecido” , há uma cena envolvendo o Dracula de 79 ( Frank Langella) e o Harker do Nosferatu do mesmo ano . Duvido que seja coincidência.
Grande Christopher Lee na minha opinião interpretou o Drácula magistralmente ! Pena que os recursos da época era fracos
senão o povo ia correr das salas de cinemas apavorado .
Legal!!! – marcio “osbourne” silva de almeida/joiville-sc
o Bela tinha uma cara tão engraçada como nessa foto que sinceramente não dava pra ter medo do Dracula que ele interpretava!
Vc deve ter 13 anos…entende nda
Saudades desses vampiros !!! Filmes clássicos é sempre bom rever!!🥰🥰🥰
Bela Lugosi deu o pontapé inicial, interpretando o primeiro filme sonorizado do cinema, tornado-se referência para outras gerações de atores que interpretaram o conde vampiro no cinema.
Fico imaginando se Cristopher Lee atuasse num castelo lúgubre e arruinado como no Dracula de 1931, seria mais assustador!
Gostei de Dracula de 1931, pelo ambiente sombrio de seu castelo na Transilvânia, gostei também da versão espanhola, com Carlos Villarias interpretando Drácula, buscando suprir as deficiências observadas na versão dirigida por Browing, isso sem levar em conta, a falta de recursos tecnológicos e efeitos especiais que vieram posteriormente, onde contava muito, a interpretação e o talento dos atores no início da Sétima Arte como entretenimento.