Onibaba – A Mulher Demônio (1964)

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Onibaba (1964)

Onibaba - A Mulher Demônio
Original:Onibaba
Ano:1964•País:Japão
Direção:Kaneto Shindô
Roteiro:Kaneto Shindô
Produção:Hisao Itoya, Tamotsu Minato, Setsuo Noto
Elenco:Nobuko Otowa, Jitsuko Yoshimura, Kei Satô, Jûkichi Uno, Taiji Tonoyama, Senshô Matsumoto, Kentarô Kaji

O cinema de terror japonês é considerado por muitos como dono de uma forte identidade cultural própria. Utilizando lendas, folclores e mitos para contar histórias de fantasmas, a filmografia nipônica conseguiu atravessar fronteiras sem perder suas características e marcar seu espaço dentro do gênero terror.

O topo desta montanha de películas assustadoras costuma responder como Ringu, que foi lançado em 1998 e teve direção de Hideo Nakata. No entanto, décadas antes de Sadako assustar plateias e inspirar remakes norte-americanos, um outro título ocupou o topo de obra fílmica de mais impacto vinda do Japão. O filme em questão tem o título de Onibaba e foi lançado em 1964. No Brasil, ficou conhecido como Onibaba – A Mulher Demônio.

Visto hoje, Onibaba não perdeu seu impacto quando comparado com outras obras japonesas. Na verdade o filme segue como uma opção obrigatória para quem tem interesse pelos fantasmas e demônios made in Japan, assim como pela própria cultura do país.

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A trama se passa no século XIV em um Japão devastado por guerras civis. Neste cenário, duas mulheres, uma mais velha e outra mais jovem, vivem em uma pequena cabana. Para terem o que comer, elas atacam samurais perdidos ou fracos, os matam e trocam suas armaduras por comida com comerciantes ilegais. A mulher mais nova (Jitsuko Yoshimura) é casada com o filho da mais velha (Nobuko Otowa). Curiosamente, nunca temos o nome das duas mulheres pronunciados.

Um dia, um guerreiro chamado Hachi (Kei Sató) chega ao local onde as mulheres vivem. Ele teria lutado no mesmo exército que o filho da mulher mais velha e este teria morrido recentemente. A mais nova começa a desenvolver um interesse sentimental e principalmente sexual por Hachi. A mais velha desaprova este romance e passa a assustar a nora com histórias do inferno para mulheres que fazem sexo fora do casamento. Sem conseguir afastar a garota de Hachi, a velha desenvolve então um plano maligno para impedir que os dois fiquem juntos.

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O filme Onibaba é baseado na parábola budista yome-odoshi-no-men na qual uma mãe utiliza uma máscara para impedir que a filha chegue até o templo. Como castigo, a mãe não consegue mais retirar a máscara tendo que arrancar a pele junto. Aqui, temos um reflexo traumático dos efeitos do pós-guerra e os horrores que ele desencadeou na sociedade japonesa.

Apesar de ser considerado uma obra com elementos de terror, é possível perceber outras temáticas em Onibaba como a dificuldade de viver em meio a falta de recursos, segregação social e a figura da mulher na sociedade japonesa.

Uma questão curiosa em Onibaba é que o mal tem origem humana, diferente de muitas obras nipônicas onde o lado espiritual é mais presente. Aqui temos a questão do ciúme, do medo e de uma vida cruel e miserável como motivos para justificar as ações dos personagens que não vivem, mas sobrevivem quase como animais e sem noção de certo ou errado diante de ações como assassinatos, mentiras e desejo sexual. Tudo gira em torno da sobrevivência. Mesmo se passando em um Japão do passado, suas temáticas e medos acabam soando ainda bastante contemporâneos.

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A figura da mulher é então o centro do debate. Assustada por ser velha e não ter marido ou filho, a mais velha deixa claro que não pode se manter sozinha e precisa que a nora fique ao seu lado. Em uma sociedade onde as mulheres em geral passaram a trabalhar e estudar depois das duas guerras mundiais, o debate proposto pelas figuras femininas mostra a dificuldade de se nascer mulher e ser pobre no Japão.

A direção de fotografia completa o clima mórbido de Onibaba com um preto e branco forte, quase sem iluminação de preenchimento. Além disso, os cenários são poucos e claustrofóbicos. Dentro desta realidade de fome e sem esperança, o plano armado pela mulher mais velha se mostra assustador diante da esperança frustrada de uma vida melhor. Para a apresentação do demônio, o diretor Kaneto Shindô utiliza iluminação especial e direcionada para criar um ambiente não natural. O resultado é assustador.

Este ano, Onibaba completa 50 anos do seu lançamento. Uma ótima oportunidade para quem viu poder rever e principalmente para quem nunca assistiu a este pequeno clássico do cinema de terror japonês. Trata-se de uma produção obrigatória para quem gosta do gênero.

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Filipe Falcão

Jornalista formado e Doutor em Comunicação. Fã de filmes de terror, pesquisa academicamente o gênero desde 2006. Autor dos livros Fronteiras do Medo e A Aceleração do Medo e co-autor do livro Medo de Palhaço.

4 thoughts on “Onibaba – A Mulher Demônio (1964)

  • 11/07/2021 em 00:40
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    Excelente crítica. Me chamou a atenção a fotografia de alto contraste, que reflete a tensão vivida pelos personagens.

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  • 29/04/2017 em 23:34
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    Existe um filme chamado “Kaidan” que reúne histórias assim, o que na verdade, eu sempre vi como o horror original Japonês. Eu sempre considerei que, filmes como Ringu eram tentativas nipônicas de fazer um horror ocidental, com um sotaque Japonês. Já o Kaidan são histórias de ‘horror’ próprias do japão com centenas de anos de idade.

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  • 05/10/2015 em 13:45
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    Assisti, é um filme bastante lento, para quem está acostumado com os filmes de terror da atualidade eu recomendo não criar muitas expectativas, assisti um Blue Ray (1080p) e achei a ambientação e os cenários muito bons, a cena do buraco até o desfecho final foram coisas muito bem representadas, claro que por ser um filme de 50 anos atrás você não vai encontrar os elementos do terror japonês atual, então é apenas a título de curiosidade.

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    • 10/10/2020 em 02:45
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      Mu mu mu. Imbecil. Filme de terror não é para dar medinho em bobalhão que não saiu da adolescência. É para contar uma história que seria demorada demais para ser contada de outra forma.

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