Fábrica de Vespas (2016)

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Fábrica de Vespas
Original:Wasp Factory
Ano:2016•País:Escócia
Autor:Iain Banks•Editora: Darkside Books

Poucas literaturas me levaram a um estado de absoluta perturbação, acompanhando-me na hora dos pesadelos. Não costumo me importar ou ficar incomodado com assombrações, demônios, monstros e até assassinos em série, por mais doentes e insanos que aparentem ser. Casos reais também não me impressionam, principalmente quando você sabe que a realidade sempre sofre distorções na liberdade criativa. Fábrica de Vespas, de Iain Banks, foi uma delas.

Lançado caprichosamente pela editora Darkside Books, a obra, em sua primeira edição brasileira, foi capaz de me abalar de tal maneira que tive que ler os últimos capítulos com algumas pausas para respirar. E não foi assim o tempo todo. Foi um longo caminho até que o conteúdo me cativasse, me fizesse sentir vontade de não abandoná-lo. Mas, fui aos poucos me envolvendo com a paranoia de Frank Cauldhame, conhecendo a sua consciência através de suas memórias. A imagem de um quebra-cabeça de muitas peças começou a se formar a cada revelação. No final, tudo fez sentido.

Fábrica de Vespas (2016) D

A narrativa em primeira pessoa, bastante descritiva, acompanha o adolescente de 16 anos em suas desventuras em uma ilha escocesa. Com sérios distúrbios psicológicos, ele ocupa seus dias com os cadáveres de animais – cujas cabeças são deixadas em estacas -, em brincadeiras de guerra, com bombas, em seu abrigo sombrio e, claro, em sua Fábrica. Cada elemento de seu mapa, nomeado como jogos infantis, é apresentado ao leitor lentamente, permitindo que a imaginação construa a partir das pistas dadas.

O leitor fica sabendo que o irmão dele, Erick, que estava internado num hospital psiquiátrico pelo seu currículo de incendiar cães, fugiu e está cada vez mais próximo. Vivendo apenas com o pai, com poucos diálogos, Frank cria seus próprios mistérios como as andanças do pai pela cidade e o que ele esconde em seu escritório, sempre trancado. Frank conta ao leitor que já assassinou três pessoas, e, suas memórias vão trazendo as ações frias que conduziram aos crimes, deixando sempre a impressão para os mais próximos de que foram acidentes. A descrição de cada ato fatal, criativamente mórbido, perturba, assim como descobrir o que aconteceu com o irmão, que incidente o deixou como um “meio-homem” e a revelação que a obra reserva para as páginas finais.

Fábrica de Vespas é um livro bastante cultuado lá fora pelo seu enredo frio, como o protagonista em suas experiências. Descobrir o que seria a tal Fábrica exige um percurso pelo cotidiano do garoto perturbado; e o resultado não poderia ser mais engenhosamente sádico. Uma obra que pede uma nova leitura, já consciente das peças que compõem o quadro final.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

3 thoughts on “Fábrica de Vespas (2016)

  • 20/02/2017 em 08:50
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    Livro péssimo, horrível! Protagonista raso e infantilizado, psicopata de araque , estava esperando mortes brutais sem razão aparente e me vejo com aquelas besteirinhas de criança. Parece muito mais Menino Maluquinho encontra Denis o Pimentinha.
    Lixo , Puro Lixo kitsch

    Resposta
    • 04/10/2019 em 15:29
      Permalink

      Papo sério? Queria comprar esse livro, mas sei que a darkside faz um auê de muita porcaria em impressões impecáveis.

      Resposta
      • 26/10/2020 em 17:47
        Permalink

        Então Marcelo… tenho vários livros darkside e penso isso, compro porque são lindos, mas geralmente as histórias são bem rasas…

        Resposta

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