O Rastro (2017)

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O Rastro
Original:
Ano:2017•País:Brasil
Direção:J.C. Feyer
Roteiro:André Pereira, Beatriz Manela
Produção:Bia Caldas, Vinicio Espinosa, Malu Miranda, André Pereira
Elenco:Rafael Cardoso, Leandra Leal, Cláudia Abreu, Alice Wegmann, Érico Brás, Gustavo Novaes, Jonas Bloch, Felipe Camargo

Em 2015 o Estado do Rio de Janeiro enfrentou uma de suas piores crises financeiras, impactando, principalmente no sistema de saúde pública, gerando filas gigantescas, unidades em funcionamento irregular, atrasos nos salários e reclamações em geral dos funcionários e população. O governador do Estado chegou a decretar estado de emergência “setor dois” às vésperas do Natal daquele ano. E é neste cenário caótico que os roteiristas André Pereira e Beatriz Manela e o diretor J.C. Feyer situam a história de seu primeiro longa metragem, O Rastro.

João, muito bem interpretado por Rafael Cardoso, é um jovem médico encarregado de coordenar a transferência de pacientes entre hospitais na cidade do Rio de Janeiro se depara com um mistério: uma paciente desaparece sem deixar vestígios durante o processo. Enquanto o jovem médico tenta descobrir a verdade por trás deste desaparecimento, ele lentamente começa a perder o senso de realidade quando começa a ser assombrado pelo que acredita ser o fantasma da menina desaparecida.

Ao contrário de muitos de seus contemporâneos desta nova safra do cinema de horror brasileiro, O Rastro já sai na frente ao se assumir como um filme genuinamente do gênero e abraçar a estética e as fórmulas do estilo. A direção de J.C. Feyer aliada à cinematografia de Gustavo Hadba se aproveita muito bem das sinistras locações para criar uma atmosfera densa e aterradora. O filme foi gravado em um hospital fechado de verdade e o roteiro consegue utilizar com perfeição a geografia do local com seus corredores abarrotados de equipamentos descartados e andares e salas fechados há muito tempo. A ambientação criada é eficaz como poucas vezes vista no cinema de horror nacional. Uma pena que o diretor parece não saber o que fazer com ela e frequentemente apele para jumpscares que nem sempre funcionam.

Rafael Cardoso se entrega ao papel de João como um médico obcecado com o desaparecimento da menina que estava aos seus cuidados e à medida que se afunda mais e mais em sua investigação, sua transformação fica cada vez mais evidente. Leandra Leal, que interpreta Leila, esposa grávida de João, está ótima como sempre e seu papel cresce conforme o filme se desenrola, passando de uma mera coadjuvante para protagonista no terceiro ato da película. Cláudia Abreu, no papel da médica Olívia, e Jonas Bloch, no papel de Heitor, diretor do hospital onde se passa a história, possuem papéis importantes, mas atuam naquele estilo quase teatral muito comum no nosso cinema, que prejudica algumas passagens que exigem mais credibilidade. Felipe Camargo faz um bom trabalho como secretário da saúde que se mantém à margem dos acontecimentos.

Mas apesar de um ótimo elenco e uma atmosfera impecável, o resultado final acaba sendo prejudicado pelo roteiro indeciso de André Pereira e Beatris Manela. Há uma preocupação constante em ser socialmente relevante que, embora seja muito bem vinda e frequente no cinema de gênero, nunca deve ser o fio condutor da trama. O filme também se esforça demais em esconder seus segredos para conduzir a história à uma revelação bombástica. Mesmo assim as duas cenas finais são duas das melhores coisas do filme todo.

O Rastro possui qualidades técnicas inquestionáveis e acerta em cheio na ambientação, atmosfera e elenco, não ficando devendo nada para as grandes produções gringas do gênero. O filme ainda traz uma boa dose de crítica social e denúncia no pacote ao mesmo tempo em que se preocupa muito mais com seu público do que com os críticos e jurados de festivais. A condução se perde em alguns trechos, mas já entendeu como funcionam os filmes de terror. E esse é o ponto principal para construirmos nossa própria indústria de cinema de gênero.

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Rodrigo Ramos

Designer por formação e apaixonado por HQs e Cinema de Horror desde pequeno. Ao contrário do que parece ele é um sujeito normal... a não ser quando é Lua Cheia. Contato: rodrigoramos@bocadoinferno.com.br

2 thoughts on “O Rastro (2017)

  • 24/06/2017 em 22:00
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    gostei do filme por completo ! mas tinham que colocar a já rotineira final girl ! pois a personagem de leandra leal era omissa o filme todo ,até inseri-la no final, para confrontar os vilões..mas o filme é ótimo.

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    • 25/06/2017 em 19:15
      Permalink

      Até o meio do filme eu estava me perguntando qual era o papel dela no filme! Mas depois ela ganha importância e faz todo o sentido. Tem seus defeitinhos, mas tá no caminho!

      Resposta

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