#Alive (2020)

4.7
(3)

#Alive
Original:#Saraitda
Ano:2020•País:Coreia do Sul
Direção:Il Cho
Roteiro:Il Cho, Matt Naylor
Produção:Saemi Kim, Saerom Kim, Eugene Lee, Hyo-jin Oh
Elenco:Ah-In Yoo, Shin-Hye Park, Bae-soo Jeon, Hyun-Wook Lee, Hye-Won Oh, Woon Jong Jeon

Enquanto boa parte das produções cinematográficas pelo mundo se baseiam em continuações, refilmagens e reboots – além, é claro, de reciclar ideias -, a Coreia do Sul dá uma lição de como reinventar um subgênero, aparentemente em estado criogênico. Parecia que Invasão Zumbi figuraria como um caso isolado, um bilhete premiado de Sang-ho Yeon, tanto que o cineasta não conseguiu transparecer a mesma criatividade com a sequência, lançada recentemente, porém mais uma vez fomos surpreendidos pelos mortos-vivos de olhos puxados. #Alive chegou a Netflix no começo de setembro como mais um exemplar do estilo zumbis canibais, e logo foi apontado pelas primeiras resenhas como o verdadeiro Invasão Zumbi 2. É um exagero, se comparar ao filme de 2016, mas faz sentido em relação aos mortos contorcionistas da península.

E o mais interessante desse trabalho de estreia em longas de Il Cho é sua simplicidade. Desde os aspectos técnicos (custaram o preço de um café de Invasão Zumbi 2) ao elenco reduzido, da ambientação simples ao roteiro que deve ter sido escrito em poucos dias, #Alive consegue ser bastante funcional: traz momentos de tensão e insegurança, ao mesmo tempo que diverte e expõe críticas sociais em referência ao uso das tecnologias. Impressiona também pela caracterização dos mortos, com hemorragia ocular e agressividade, e pelo carisma dos protagonistas, dois jovens envoltos em contextos particulares, e que lutam por uma improvável aproximação.

O gamer Oh Joon-woo (Ah-In Yoo) vive com a família em um condomínio, fazendo uso de variadas formas de tecnologia para passar o tempo. Aguardando seus pais retornarem das compras, ele é surpreendido pela doença que chega às ruas de uma maneira rápida e catastrófica, com os informes pessimistas dos noticiários, com a recomendação óbvia de que as pessoas devem evitar sair de casa. Pela varanda de seu apartamento, ele percebe a gravidade da situação, na movimentação acelerada dos infectados em uma voracidade animalesca. Sem opções, principalmente quando o contato com os pais torna-se complicado, Joon-woo tenta sobreviver à nova realidade, alimentando-se de tudo o que há em sua casa, incluindo até mesmo bebidas alcóolicas, enquanto transmite pela internet pedidos de ajuda.

No vigésimo dia de quarentena, sem ter o que comer, resta a ele a busca por uma morte rápida para sair desse pesadelo. E é quando ele recebe o contato de uma vizinha do prédio da frente, Kim Yoo-bin (Shin-Hye Park), que lhe traz a motivação que precisava para continuar lutando. Mas, como se aproximar dela, com tantos infectados pelas ruas? A resposta mais uma vez virá das tecnologias, seja através de um drone ou até mesmo de um walkie talkie, para que planejem um meio de se aproximarem na busca pela sobrevivência. Assim, o enredo do próprio Il Cho, com o apoio de Matt Naylor, explora, em seu dinamismo, diversas sequências de suspense, como o momento em que a garota desmaia e um infectado encontra um jeito de escalar o prédio em direção a ela, ou aquele em que confundem o barulho da chuva com a correria dos mortos, além de todas as vezes em que Joon-woo tenta sair de seu apartamento, munido de apenas um taco de golfe.

Dentro de uma condição inacreditável de sobrevivência, aos poucos o “idiota” consegue conquistar a empatia do espectador. Em uma cena curiosa, ele encontra em um apartamento um pote de Nutella, com a expressão de ter encontrado um tesouro. Ainda assim, ele envia a guloseima para Kim, que desdenha do produto mesmo já tendo devorado-o. São esses sintomas de humanidade que tornam os personagens atraentes: ora são jovens comuns, com hábitos estranhos e que valorizam coisas simples como música alta e estão dispostos a novas descobertas.

Se o enredo corrigisse alguns acidentes narrativos – como a energia que se finda na região, mas não acaba a bateria do celular – e evitasse repetir conceitos como o do ser humano que é pior do que a ameaça externa, #Alive poderia, sim, se avizinhar de Invasão Zumbi. Tem uma boa proposta e diverte tanto quanto emociona, confirmando mais uma vez o poderio da Sétima Arte sul-coreana.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

4 thoughts on “#Alive (2020)

  • 14/03/2023 em 19:29
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    Esse filme foi feito para atrair a atenção da geração Z com a atualidade tecnológica.
    E pra todos nós vermos como o isolamento social nessa pandemia viral nos faz refletir sobre muitas coisas.

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  • 03/02/2021 em 19:09
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    O protagonista tem um canal no youtube e faz aplicativo pra pedir socorro? Esse é o filme do subgênero zumbi mais “moderninho” que já vi. E gostei. Agora, ele é como um lamen, que nosso amigo come: não faz muito bem, portanto só vejo de vez em quando. Simples até demais, poderia ser algo que eu veria num tablet ou celular, durante uma viagem. É impressionante a facilidade com a qual esse filme foi digerido por mim. Mas simplicidade, nesse caso, não foi sinônimo de má qualidade, como o autor escreveu, esses zumbis tão muito bem feitos. Se isso aí fosse publicado em quadrinhos, seria bem aceito também, essa é a impressão que ficou.

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  • 19/10/2020 em 21:51
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    Incrivelmente já ganhou um remake americano, intitulado Alone.

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    • 19/11/2020 em 13:58
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      Na verdade esse é um remake do americano, que já é uma espécie de releitura de outro filme francês (se não me engano)

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