O Predador: A Caçada (2022)

4.2
(23)

O Predador: A Caçada
Original:Prey
Ano:2022•País:EUA
Direção:Dan Trachtenberg
Roteiro:Dan Trachtenberg, Patrick Aison
Produção:Jhane Myers, John Davis, Marty P. Ewing
Elenco:Amber Midthunder, Dakota Beavers, Dane DiLiegro, Stormee Kipp, Michelle Thrush, Julian Black Antelope, Stefany Mathias, Bennett Taylor, Mike Paterson

Na segunda aparição do Predador, em 1990, quando a criatura deixou de lado as selvas para caçar guerreiros na cidade grande, uma cena despertou a atenção dos fãs do alienígena: no final, após o tenente Michael R. Harrigan eliminar seu inimigo e notar que há diversos outros exemplares na nave, um deles deixa com o personagem de Danny Glover uma arma de pederneira antes de ir embora. Era o indício de que a raça de alienígenas inteligentes já havia estado na Terra em outras oportunidades, principalmente no século XVIII. O novo filme de Dan Trachtenberg (de Annabelle 3) veio com a proposta de mostrar como aconteceu uma dessas primeiras vindas, talvez até mostrar como as criaturas conseguiram a arma de fogo, resgatando o espírito selvagem do longa original.

O conceito surgiu durante o lançamento do quarto filme, O Predador, de 2018. Trachtenberg conversou com o produtor John Davis sobre a ideia que vinha desenvolvendo com o roteirista Patrick Aison desde 2016. A intenção era realizá-la discretamente, chamando o projeto de Skulls, mas acabou se permitindo a descoberta em novembro de 2020, quando o longa já tinha elenco escalado e datas de filmagens determinadas em 2021. Trachtenberg queria que o filme fosse o mais próximo possível do original, mostrando a ingenuidade de um humano enquanto tenta aprender a lidar com uma ameaça muito mais poderosa e mortal. Nada mais justo que a obra abordasse os comanches, pela sua própria natureza de caça e desenvolvimento de seus guerreiros. Mas, o novo filme foi além, ao explorar a temática do papel da mulher na sociedade da época – e que refletiria nos séculos seguintes.

Ambientado em 1719, a trama apresenta a deslocada jovem comanche Naru (Amber Midthunder), que apenas exerce em sua tribo o papel de curandeira, embora deseje se tornar uma caçadora, espelhada no irmão Taabe (Dakota Beavers). Ela rastreia cervos e sofre para caçar coelhos com seu cão fiel Sarii, sempre questionada sobre suas funções serem outras. Depois de avistar a chegada de uma nave, sem realmente entender do que se trata, ela tenta ajudar os guerreiros a resgatar um jovem que teria sido atacado por um leão da montanha. Falhando mais uma vez no combate com o felino, ela tenta dizer aos demais que existe algo a mais na selva, por ter visto luzes e pegadas bípedes, sendo desacreditada, enquanto nota mais uma vez o sucesso do irmão. Disposta a mostrar seu valor como guerreira, Naru caminha na direção contrária às mulheres da tribo para tentar descobrir o que está à solta, mas terá problemas com um urso e um grupo de franceses, além, é claro, do Predador.

Não há necessidade de expor mais detalhes do enredo até mesmo porque nem há muito mais a contar. Não que isso seja indício de demérito, mas é porque o que se segue é até óbvio, ainda que o desenvolvimento funcione de maneira bem interessante. A protagonista, de poucos sorrisos, terá que aprender a enfrentar seu inimigo como grande desafio de uma futura guerreira, mas também terá que ir além de seus limites. Depois que percebe a dificuldade de resgatar a machadinha quando a atira, por exemplo, ela resolve amarrar uma corda nela e prendê-la em seu pulso, o que a auxilia durante vários enfrentamentos e até na dificuldade que encontra para sair de um pântano.

Diferente de um herói típico do cinema de gênero, ela sabe o momento certo de simplesmente fugir de um lugar ao invés de tentar um combate físico. Naru também se mostra esperta na preparação de armadilhas e no uso da mata como recurso de defesa e esconderijo. E são aprendizados importantes porque o Predador se mostra um inimigo ágil, mais até do que os vistos nos outros filmes, saltando entre árvores, e inteligente no uso de seus recursos tecnológicos. Como se passa no século XVIII, o roteiro explora o passado de algumas armas que serão vistas em filmes futuros, como o triângulo de luzes que, até então, não solta lasers, mas pequenas flechas, e também a própria máscara do alienígena, ainda sem proteção para a boca.

Contribuem para a boa aceitação do filme a excelente direção de Trachtenberg e a ótima fotografia de Jeff Cutter, ainda mais nas cenas noturnas. O bom posicionamento de câmeras auxilia na construção da linguagem cinematográfica, como a vista na já mencionada cena em que a jovem anda no primeiro momento acompanhando as mulheres da tribo e em outro na direção contrária. Os efeitos especiais e visuais também são muito bons, destacando as boas sequências que envolvem os destinos de um pássaro e uma cobra, além dos movimentos do leão da montanha, dos cervos e principalmente de um urso.

Quinto filme da franquia, iniciada com Predador (1987) e seguida por Predador 2: A Caçada Continua (1990), Predadores (2010) e O Predador (2018) – sem contar os dois embates Alien Vs Predador -, este é, sem dúvida, o melhor exemplar desde o original. Bem realizado e gravado em duas linguagens (o streaming permite que você o assista com o elenco falando comanche), trata-se de um filmaço, provavelmente um dos grandes destaques de 2022. Assista e se divirta com um survival horror na selva, com elementos de western, e que responde à dúvida que Michael deve ter tido em 1990, quando a criatura lhe deu aquela arma do passado.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

4 thoughts on “O Predador: A Caçada (2022)

  • 17/01/2023 em 14:08
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    Filme inesperadamente bom, só que achei mó forçado a guria vencer de uns 5 caras brancos sozinha tudo ao mesmo tempo e ainda consegue enfrentar o Predador com menos dificuldade do que quando o Arnold enfrentou o bicho

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  • 14/09/2022 em 20:43
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    É um bom filme, mas sinceramente falhou no final ao colocar um jovem de 50 kg para lutar com alienígena sanguinário que nem Amold teve coragem de fazer.
    “Diferente de um herói típico do cinema de gênero, ela sabe o momento certo de simplesmente fugir de um lugar ao invés de tentar um combate físico. Naru também se mostra esperta na preparação de armadilhas e no uso da mata como recurso de defesa e esconderijo”. Acho que esse trecho tem mais a ver com o primeiro filme de 1987.

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  • 10/08/2022 em 07:45
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    Excelente. Concordo 100%! segundo melhor filme da franquia dês de Predador de 1987!

    Resposta

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