A Lei dos Mortos (2022)

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A Lei dos Mortos
Original:A Lei dos Mortos
Ano:2022•País:Brasil
Autor:Alex Mendes•Editora: Life

Olho por olho, dente por dente. Essa é uma das leis do primeiro Código de Conduta que se tem conhecimento, escrito pelo rei babilônico Hamurabi por volta de 1700 a.C. Basicamente, significa que toda ação tem uma reação, ou seja, todo crime tem uma pena. A frase se popularizou e é uma expressão utilizada até os dias de hoje, especialmente por pessoas que foram seriamente lesadas de algum modo e pretendem pagar na mesma moeda. Em outras palavras: vingança.

Alex Mendes, autor de Cinevil, leva essa frase a outro patamar. Em A Lei dos Mortos, a morte não é o fim de tudo. É possível se vingar de seus agressores mesmo no além vida.

Uma casa com fama de assombrada é alvo do programa especial de Ronaldo Fera, apresentador que vai atrás dos casos paranormais mais assustadores para se livrar de fantasmas e outras figuras “maléficas”. Tudo encenação, é claro. Desde suas falas até os monstros que aparecem, os barulhos sem explicação que encontravam e tudo mais. A audiência de Ronaldo é fiel, e seu programa especial bate até mesmo o futebol da noite da emissora concorrente. Tudo vai muito bem, o apresentador finge que expulsa o espírito do local e garante que a casa é novamente habitável, até que uma desgraça que não estava programada acontece.

Jean, advogado obstinado e futuro candidato a deputado, fica sabendo da tal casa assombrada onde o famoso apresentador sofreu um acidente. Por causa dos acontecimentos recentes, a residência está com o preço muito abaixo do mercado, e Jean não perde a chance de alugá-la, imaginando que tudo aquilo de assombração é besteira. Não poderia estar mais equivocado. O advogado é conhecido por livrar pessoas claramente culpadas de crimes hediondos da prisão, inventando e manipulando informações de forma hábil. Em breve sua família pagará o preço por sua desonestidade.

Enquanto a vida do advogado e família segue, somos espectadores de um violento crime. Um casal é morto de forma brutal, e seus corpos são encontrados apenas 7 meses após o ocorrido. Acompanhamos o sofrimento das almas de Fernando e Kelly até chegarem ao limbo, desnorteados e com raiva da forma como morreram, da forma como foi injusto. Ali, Fernando conhece uma sociedade que aplica a Lei dos Mortos. Vingança por serem mortos e verem seus entes queridos mortos, vingança contra seus agressores, vingança contra quem deixou eles impunes. Uma caçada sobrenatural para todos aqueles que querem justiça.

Alex Mendes pega vários temas já bastante utilizados – purgatório, vida após a morte, casas assombradas por espíritos com assuntos pendentes – e cria uma narrativa criativa, original e diferente do que já foi visto, assim como inovou em Cinevil.

À primeira vista parece mais uma história de alguma alma desencarnada apegada ao local por algum motivo, que aterroriza qualquer um que entre ali. Entretanto, conforme avançamos, vemos que é muito mais do que isso. Não é a casa o interesse dos fantasmas, e sim as pessoas. Esses espíritos estão interessados em vingança, em aplicar o código de Hamurabi. O ódio que sentem não permite que eles ascendam até que os responsáveis por suas mortes sofram o tanto que merecem. Ser uma pessoa boa ou ruim ganha outro significado aqui.

Acompanhamos três histórias distintas que logo se entrelaçarão e, enquanto em algumas delas a tensão é construída lentamente e chegando ao clímax por volta da metade do livro, em uma delas em específico a violência acontece quase imediatamente e é descrita de forma explícita e nauseante. Certas atitudes são tão revoltantes, alguns personagens são tão odiosos que, muitas vezes, torcemos para os mortos. Vale alertar o leitor de que é preciso ter estômago forte para algumas cenas, especialmente as que envolvem estupro.

Dado o alerta, A Lei dos Mortos é um terror nacional que reinventa o fenômeno poltergeist e cria uma leitura tensa e envolvente, promovendo reflexões sobre desapego, caráter e o eterno debate: existe vida após a morte? Segundo o autor, se você tiver rancor suficiente para não esquecer do que passou em vida, sim. Tudo isso com muito sangue e mortes envolvidas, é claro.

O desfecho é cheio de reviravoltas, algumas bem inesperadas, e o final derradeiro é extremamente satisfatório. Se a justiça falha em vida, ainda tem a chance de ser feita no purgatório.

Ser uma pessoa boa para ir ao paraíso quando morrer? Que nada. Ser uma pessoa boa para espíritos não se vingarem, isso sim. Com a Lei dos Mortos, as consequências não acabam com a morte.

Os livros de Alex Mendes, Cinevil e A Lei dos Mortos, podem ser adquiridos no site da editora Life e também pela Amazon

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Louise Minski

Um experimento de Schrödinger entediado.

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