Ghosthouse: A Casa do Horror (1988)

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Ghosthouse - A Casa do Horror
Original:Ghosthouse / La casa 3
Ano:1988•País:Itália
Direção:Umberto Lenzi
Roteiro:Umberto Lenzi, Sheila Goldberg, Cinthia McGavin
Produção:Joe D'Amato
Elenco:Lara Wendel, Greg Rhodes, Mary Sellers, Ron Houck, Martin Jay, Kate Silver, Donald O'Brien, Willy M. Moon, Kristen Fougerousse,

Apesar de seguir tendências e estar sempre atento ao que fazia sucesso pelo mundo, Umberto Lenzi também gostava de se vangloriar pelas descobertas. Depois de realizar exemplares de spaghetti westerns, gialli e thrillers policiais, o cineasta fez o selvagem Mundo Canibal (Man from Deep River, 1972), considerada a obra precursora do ciclo dos canibais italianos, mas não a mais importante. Depois que Ruggero Deodato alcançaria o ápice com Cannibal Holocaust, Lenzi responderia com mais dois filmes inferiores, Os Vivos Serão Devorados (1980) e Cannibal Ferox (1981). Também se aventurou pelos zumbis comedores de carne humana com Cidade Maldita (1980), dedicando sua produção nos anos seguintes a outros estilos como guerra, ação e dramas para a TV. Em uma filmografia tão diversificada, é fácil entender como Ghosthouse – A Casa do Horror foi realizado em 1988.

O mercado cinematográfico oitentista abraçava com muita força os slashers. Continuações de Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo disputavam a atenção com o terrir e filmes de casas assombradas. Ainda estava na retina de qualquer fã do gênero obras como Poltergeist – O Fenômeno (1982), A Casa do Espanto (1986), A Casa do Espanto 2 (1988), além dos mais bem conceituados A Morte do Demônio/Uma Noite Alucinante (1982) e Uma Noite Alucinante 2 (1987). Como estes dois últimos foram lançados na Itália como La Casa, os produtores italianos picaretas tinham um roteiro em mãos escrito pelo próprio Umberto Lenzi e resolveram nomeá-lo de La Casa 3. Tratava-se de uma produção de baixo orçamento da Filmirage, de Joe D’Amato (vulgo Aristide Massaccesi, um dos picaretas), filmada em Boston e Cohasset, Massachusetts, utilizando como cenário principal a mesma casa de A Casa do Cemitério, de Lucio Fulci.

A jogada de marketing funcionou bem. O longa teve uma exibição no Avoriaz Fanstastic Film Festival na França em janeiro de 1988 ainda como Ghost House, mas foi com a estreia na Itália com o título La Casa 3 que fez com que o sucesso comercial empolgasse D’Amato a brincar de usar o título em outras falsas sequências como La Casa 4 (O Feitiço das Almas aka Witchery, 1988) e La Casa 5 (Vingança das Bruxas aka Beyond the Darkness, 1990). Se como produto comercial, Ghosthouse se saiu bem, por outro lado, foi bastante criticado pelo seu conteúdo que mescla referências e pouco explica o que acontece. Basicamente, utilizou como força narrativa a influência sobrenatural a uma garotinha sinistra e um boneco de palhaço amaldiçoado, um item que teria uma boa briga com o visto em Poltergeist – O Fenômeno. Para torná-lo mais dinâmico, embora pouco justificável, incluiu um Jason Voorhees ali, como se Crazy Ralph tivesse enlouquecido e decidisse matar as pessoas para que ninguém visitasse Crystal Lake.

O filme começa em 1967, com uma descoberta terrível de Sam Baker (Alain Smith) no porão de sua residência após encontrar a filha escondida: Henrietta (Kristen Fougerousse) matou o gato da família com uma tesoura. Como castigo pelo assassinato de uma “criatura de deus“, o pai a prende no porão, deixando-a entre lágrimas com o apoio de seu boneco de palhaço, enquanto alega à esposa (Susan Muller) que a filha parece estar sob uma influência negativa, uma possível maldição. Pouco depois, quando percebe um estranho inchaço da lâmpada, ele tem a cabeça arrebentada por uma mão monstruosa que segura um machado, e sua esposa nem tem tempo de sofrer a perda, pois o espelho da sala começa a “respirar” e explode em vários pedaços, tendo alguns estilhaços varado seu olho esquerdo. O assassino ainda rasga a garganta dela com uma faca, e seu corpo fica pregado à porta, ao som da trilha de ninar emitida pelo boneco. Um começo sangrento, relembrando os bons momentos do cinema gore italiano.

A ação salta vinte anos para apresentar o operador de rádio amador Paul Rogers (Greg Rhodes, que fez uma pontinha em Baile de Formatura 2 – Vestida para a Vingança), que conversa por telefone com a namorada Martha (Lara Wendel, de Tenebre) para depois captar pelo aparelho o som de duas pessoas gritando – uma referência à lenda urbana do rádio. Intrigado pelo som, ele convence a garota a viajarem juntos para descobrir de onde a captação original veio, dando carona no caminho ao jovem mochileiro Pepe (Willy M. Moon), que, além de fazer brincadeiras com uma mão de esqueleto de brinquedo, ainda rouba cinco dólares de Martha. O rapaz só terá importância mais para frente, tornando-se mais uma vítima da casa maldita.

Assim que encontram a casa, são atormentados pelo zelador local Valkos (Donald O’Brien, figurinha carimbada da época. Esteve em Emanuelle e os Últimos Canibais, foi um padre em O Convento das Taras Proibidas e interpretou o cientista louco Dr. Obrero em Zombie Holocausto), que anuncia que a casa está deserta, somente com ratos, e os acusa de estarem bisbilhotando. É ele que será o assassino vivo da casa, matando qualquer um que se aproxime ou tente algo no local, sem que tenha uma boa justificativa para seus crimes. Paul e Martha ignoram os alertas e invadem a casa em busca de algo que comprove o sinal recebido, encontrando um rádio amador no sótão. Ele é operado por Jim Dalon (Martin Jay), presente no local com os irmãos Mark (Ron Houck) e a adolescente Tina (Kate Silver), além da namorada do irmão, Susan (Mary Sellers, de Aquarius, de Michele Soavi).

Paul reconhece pela voz de Jim que é ele que está gritando na gravação, sem que o rapaz entenda a razão disso. Ele compreende mais tarde, no porão, quando encontra o fantasma de Henrietta com seu boneco soando a irritante canção de ninar, apenas para dizer exatamente o que ouviu pouco tempo antes na fita. Uma das lâminas da hélice de um ventilador se solta e corta seu pescoço, com o assassinato sendo atribuído a Valkos, que está em sua missão pessoal de aterrorizar os demais. Apesar dos avisos do tenente Ferguson (William J. Devany) para que desistam da investigação e vão embora, Paul e Martha resolvem ir atrás da funerária Gaffey ao qual Sam Baker era proprietário e conversaram com o novo dono, que os indica o cemitério onde ele fora enterrado, descobrindo, por fim, que itens dos mortos eram roubados, assim como o boneco de palhaço. Isto é, o item é amaldiçoado influenciou a garotinha a matar o gato, despertando algo maléfico no porão.

Ghosthouse é bem dinâmico, distribuindo sequências de assassinato, perseguição e fenômenos sobrenaturais. Tina e Martha são aterrorizadas pela menina e o boneco, reservando bons momentos como o que copia Poltergeist e faz vários brinquedos e penas de travesseiro – e inclui um boneco do Mickey – flutuarem sobre a namorada de Paul. Ela, inclusive, é “abraçada” pelo palhaço, agora em uma versão com dentes, assim como Robbie (Oliver Robins), no filme do Tobe Hooper / Steven Spielberg. Curiosamente, depois de enfrentar esse fenômeno no quarto de Henrietta, ela e Paul conversam sobre a menina e o boneco de palhaço, acreditando que Tina possa estar mentindo sobre ter visto algo estranho. “Ela pode ter visto a foto da garota no baú e ter inventado o resto.” Se a própria Martha experimentou momentos antes os horrores da casa assombrada, vendo até mesmo o tal boneco voando, por que ela acharia que Tina teria inventado seu relato?

Outra falha no roteiro de Umberto Lenzi envolve o assassino Valkos. Ele segue Paul e Martha até a funerária – sabe-se lá como ele sabia que eles iriam para lá – e matam o novo proprietário, sem razão alguma, apenas ampliar o número de mortes violentas. O tenente havia alertado sobre a insanidade do zelador, mas seria muito mais coerente se ele matasse pessoas que se aproximassem da casa, em vez de ir até o centro da cidade perpetuar seus crimes. Ele chega a perseguir Martha no cemitério da cidade, como se estivesse simplesmente obcecado em matar qualquer contato do casal. Em outro momento, Tina, após andar pela casa, tem seu destino selado no quarto onde Henrietta matava ratinhos e pendurava em um varal. A garota tropeça, e do nada surge sobre ela uma guilhotina que a corta ao meio. Apesar da câmera esperta de Lenzi fazer uma interessante tomada em que as partes da garota são vistas separadas, com a ajuda de um cavalo de madeira, não se entende por que o tronco ficara tão distante das pernas.

Ainda há uma cena bastante lembrada pelos fãs de horror, quando aparece uma figura esquelética, cheio de vermes cobrindo o rosto, atacando Susan. Seria uma entidade invocada pelo palhaço ou a própria garotinha versão zumbi? É melhor acreditar que se trata de uma assombração para assim justificar o assassinato dos Bakers no começo do filme, uma vez que Henrietta ainda estava viva. Ghosthouse termina com uma brincadeira de Lenzi ao estabelecer um diálogo com o cadáver de uma mulher vista na funerária. “Ela foi atropelada por um ônibus. Dá para acreditar?

Mesmo com alguns problemas em sua realização, Ghosthouse diverte pela tosquice do roteiro de Umberto Lenzi. Está bem distante de seus trabalhos mais reconhecidos, mas traz mortes violentas e mescla subgêneros, sem nunca incomodar o espectador. E ainda o deixa curioso sobre a canção de ninar assustadora, marca registrada do filme, que também não traz explicações, nem sobre o que ela pronuncia. No momento em que Paul tentava decifrá-la, Martha o interrompeu para que deixe para lá as curiosidades que envolvem as gravações premonitórias. É mais um dos mistérios relacionados à filmografia de Umberto Lenzi, não tendo explicações mas permitindo bons momentos de entretenimento ainda que já vistos antes em filmes mais conhecidos.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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