Trocas Macabras (1993)

3.9
(7)

Trocas Macabras
Original:Needful Things
Ano:1993•País:EUA
Direção:Fraser C. Heston
Roteiro:W.D. Richter, Stephen King
Produção:Jack Cummins
Elenco:Max von Sydow, Ed Harris, Bonnie Bedelia, Amanda Plummer, J.T. Walsh, Ray McKinnon, Duncan Fraser, Valri Bromfield, Shane Meier, William Morgan Sheppard, Don S. Davis

O livro Trocas Macabras, de Stephen King, reeditado recentemente pela Editora Suma, é um dos melhores do autor (pelo menos é um dos meus preferidos). A cidade de Castle Rock é novamente cenário de uma fábula lúgubre que mostra a instalação de uma nova loja cujo proprietário misteriosamente atende aos desejos mais profundos das pessoas. O charmoso e sinistro Leland Gaunt, recém chegado à cidade, parece conhecer bem demais a tudo e a todos e, além do preço financeiro, cobra uma ação de cada comprador. Essas ações, a princípio inocentes travessuras, se tornarão graves, causando impactos enormes e consequências devastadoras para todos.

O livro trabalha muito bem a interação de Leland Gaunt com os habitantes da cidade (e são vários focados pelo livro), a satisfação de suas ânsias secretas e os resultados estarrecedores de seus atos. O balé de causa e efeito proposto é cruel, violento e sem concessões. Quem ainda não leu, é uma ótima oportunidade, pois, além do teor fantástico, o livro é uma dura crítica ao consumo, ao fanatismo religioso e mostra o absurdo da mesquinhez e ganância do ser humano quando confrontado com o objeto de desejo.

O único problema do livro é o final. O duelo entre Leland Gaunt e o xerife Alan Pangborn, o herói da vez, é ridículo e destoa do elevado grau de qualidade e inventividade até então. Mas no cômputo geral, esse tropeço não tira o brilho da obra.

Por esse motivo resolvi ver a adaptação do livro para as telas, disponível para locação na Amazon Prime. O filme já começa chamando a atenção pelo elenco, com Max Von Sydow (deliciosamente canastra) e Ed Harris (fazendo o que pode…) como protagonistas, e pelo clima soturno também presente no livro, contudo, essas são as duas únicas qualidades do longa. Todo o desenvolvimento da história e dos personagens é deixado de lado, optando-se por mostrar apenas dois ou três conflitos entre a população de forma muito mal elaborada, e o filme avança sem muito contexto até o final. Tudo é simplificado ao extremo, não há motivação plausível e a relação de causa e efeito não alcança o nível de perversidade presente no livro.

Ao ler o livro, imaginei um seriado de 10 ou 12 capítulos mesmerizando o espectador com a colcha de retalho das relações entre os moradores de Castle Rock e a insanidade que tomou conta de todos, gerando um turbilhão de violência e desespero. Nada disso acontece no filme que tentou, mas não logrou êxito, em colocar isso na tela.

Há que se ressaltar a mudança no final (os roteiristas devem ter percebido que, se não funciona no livro, funcionaria menos ainda no filme), mas a opção por colocar um outro morador da cidade no confronto final não é trabalhada de maneira adequada, tornando inverossímil a proposta.

Já assisti a adaptações de Stephen King para todos os gostos e com diferentes patamares de qualidade, mas, infelizmente, essa pegou um material muito rico e o transformou num pálido retrato da obra original. Faz com que desejamos um filme, ou melhor, uma série que faça jus à obra original e ao personagem Leland Gaunt.

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Ricardo Gazolla

Formado em Direito e trabalhando no setor privado, apaixonado por cinema desde a infância quando assistiu Os Goonies (1985) na tela grande. Sua predileção pelo horror começou um pouco depois ao conhecer em VHS A Hora do Pesadelo (1984), Renascido do Inferno (1987) e A morte do demônio (1981). Desde então o cinema se tornou um hobby, um vício socialmente aceito, um objeto de estudo, um prazer público e, agora, no site Boca do Inferno, uma forma de comunicação com as pessoas.

3 thoughts on “Trocas Macabras (1993)

  • 30/05/2023 em 23:40
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    Eu vi esse filme no finado vhs não me conectei não sei se não entendi por ser legendado , mas algumas obras de Stephen king e isso ama ou odeia como o exemplo o apanhador de sonhos livro grande e chato o filme tão chato ou pior.

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  • 11/12/2022 em 20:51
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    Adoro este filme… legal demais . O sr. Gaunt e fantástico ! Sempre cito o filme, pois as “ brincadeiras “ revelam-se devastadoras para todos !

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  • 11/12/2022 em 20:39
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    cara, odeio aquele duelo final do livro tambem…mas até aí varios livros do king terminam bem mais ou menos….o ultimo que li que me decepcionou no fim foi outsider….tava se encaminhando pra ser um dos meus favoritos e o cara me vem com um monstro feito de, sei lá, baratas?…..acho que pegou a idéia daquela graphic da mulher hulk do byrne…enfim, nao desmerece a obra totalmente, mas deixa uma sensaçao de que podia ser bem melhor….boa análise…

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