Frio nos Ossos
Original:Little Bone Lodge
Ano:2023•País:UK Direção:Matthias Hoene Roteiro:Neil Linpow Produção:Leonora Darby, Mark Lane Elenco:Joely Richardson, Neil Linpow, Sadie Soverall, Harry Cadby, Roger Ajogbe, Euan Bennet, Cameron Jack, Jamie Melrose, Clifford Samuel, Sharon Young |
“Dizem que Mãe é o nome de Deus nos lábios e corações de todas as crianças. Ela pode ser gloriosa ou terrível, benevolente ou cheia de ódio. Ela vai lutar contra os monstros com as garras de um lobo e os dentes de um dragão. E amar com uma ferocidade nunca vista. O dever dela é proteger. A qualquer custo. E se alguém chegar a machucar sua família, nem dá para imaginar do que ela seria capaz.”
Com essa narrativa de abertura, com referência ao escritor britânico William Makepeace Thackeray, o longa Frio nos Ossos (Little Bone Lodge, 2023) já dá evidências de que não será apenas mais um thriller sobre invasão domiciliar. Ou pelo menos penderá para outros caminhos, como o de Aniversário Macabro, ao levar os invasores a um inferno de violência e morte. Também não é o caso. Permite que a estrada tenha várias ramificações e possibilidades, restando ao espectador somente ser conduzido pelo roteiro de Neil Linpow.
Durante uma tempestade, dois irmãos criminosos – Jack (o roteirista Linpow) e Matty (Harry Cadby) – buscam abrigo na “última casa à esquerda” onde residem três moradores: a matriarca (Joely Richardson), sua filha Maisy (Sadie Soverall) e o doente Pa (Roger Ajogbe). A Mamãe, como é creditada, demonstra simpatia e disposição para recebê-los, com atenção especial ao que está gravemente ferido e inconsciente, costurando o corte no seu abdômen. Todos ali possuem segredos e passados repletos de perturbações familiares, como é o caso de Matty, pressionado psicologicamente pelo irmão, com sinais de falta de afeto e discernimento.
Maisy tem uma vida completamente reclusa. Não conhece o mundo exterior e sonha em viajar para Paris, aprender coisas novas, mas entende as restrições de sua mãe sobre violência e perdição. Sua protetora divide a rotina em cuidar do marido, em estado vegetativo, e ensinar a filha a lidar com uma realidade que ela desconhece. E Jack tem dívidas com outros criminosos, precisa planejar um acesso ao veículo acidentado, sem que aquela família acolhedora possa perceber a natureza de sua estadia ali. Esses cinco personagens entram em conflito em um jogo que vai além do psicológico, envolto em claustrofobia e combate sangrento.
Os dois primeiros atos de Frio nos Ossos se saem muito bem ao estimular expectativas. O infernauta sente a todo momento que todos ali são problemáticos, que existem peças que não possuem encaixe, e nem sabe para quem torcer. E o filme de Matthias Hoene (Cockneys vs Zombies) promove interessantes mudanças em seus personagens no decorrer da produção, com anti-heróis involuntários e pouco carismáticos e redenção. Perde pontos em seu final exagerado – por que ensinou ela a dirigir? -, na apresentação de um faroeste que destoa de toda a tensão desenvolvida no decorrer da produção.
Também vale menção à atuação convincente de Joely Richardson (Sandman), que sabe alternar doçura e frieza, preocupação e insanidade nas mesmas proporções. Age como a mãe da narração inicial, nas palavras de Maisy, em seu dever de proteção, acolhimento, e a ferocidade de um lobo. É ela que permite que o espectador sinta o “frio nos ossos” da tradução nacional que, embora não seja literal, faz sentido pela proposta.
Disponível na plataforma da HBO desde 30 de junho, Frio nos Ossos é um acerto, dentre as produções que chegam constantemente ao streaming. Recomendado para quem busca um thriller de ambiente único, com poucos personagens e uma trama maternal de loucura e tensão.
Apesar de já ter visto essa história em algum outro filme, é um filme bom, tem bastante mistério que faz com que você acompanhe até o final sem muito sacrifício, porém o filme tem algumas situações bem forçadas.