A Bolha (1958)

4.3
(6)

A Bolha
Original:The Blob
Ano:1958•País:EUA
Direção:Irvin S. Yeaworth Jr., Russell S. Doughten Jr.
Roteiro:Theodore Simonson, Kay Linaker, Irvine H. Millgate, Irvine H. Millgate
Produção:Jack H. Harris
Elenco:Steve McQueen, Aneta Corsaut, Earl Rowe, Olin Howland, Stephen Chase, John Benson, George Karas, Lee Payton, Elbert Smith

Lançado em VHS no Brasil pela distribuidora “Opção“, com a taglineInsaciável, Indestrutível, Indescritível“, A Bolha é o filme que representa bem o cinema drive-in. Uma ficção científica bagaceira, ingênua, feita com poucos recursos – foram gastos apenas U$110 mil na produção -, mas que diverte pela proposta apocalíptica ousada. Teve inspiração numa informação real sobre a descoberta na Pensilvânia das chamadas “geleias estelares“, que costumam acompanhar chuvas de meteoros. Devido à notícia, o longa teve seu título inicial definido como The Molten Meteor, mas foi alterado pela brincadeira da roteirista Kay Linaker, que se referia à criatura alienígena como “bolha“. Seja o que for, “massa estelar” ou “gosma“, o que importa é que o filme fez sucesso nas bilheterias da época conquistando mais de U$4 milhões, sem mostrar muito do que se propõe.

Traz no elenco um jovem Steve McQueen, que aceitou participar por um cachê simbólico de U$3 mil dólares para quitar seu aluguel, sem imaginar que depois passaria a ser um astro requisitado de Hollywood. Interpretando Steve Andrews, ele aparece logo no prólogo com a namorada Jane Martin (Aneta Corsaut), discutindo a relação e observando queda de meteoros naqueles locais de encontros de casais. Ao avistar um que parece ter caído numa colina – com um som muito divertido na dublagem -, ele sugere uma investigação, mas o velho Barney (Olin Howland) chega primeiro, cutuca o meteorito, abrindo-o, e, uma massa avermelhada se move, prendendo sua mão. Sequência bem parecida com a vista na refilmagem, A Bolha Assassina, lançada em 1988.

Quase atropelado pelo carro de Steve, Barney é levado ao consultório médico do Dr.T. Hallen (Stephen Chase), prestes a sair em viagem, e que lhe aplica uma anestesia e sugere uma amputação do braço, além de uma investigação mais aprofundada sobre o que teria causado esse derretimento da mão. Assim que Steven e Jane partem em busca de respostas, encontram na saída da clinica um grupo de jovens, liderados por Tony (Robert Fields), desafiando-os para um “pega“, e o rapaz até aceita, mas, ao invés de ir para a frente, dá ré, numa ação que depois seria homenageada na franquia De Volta para o Futuro. Sem sucesso, o casal retorna para alertar o médico, apenas para Steve testemunhar o momento em que a bolha, depois de devorar o velho e a enfermeira Kate (Lee Payton), avança sobre o Dr.Hallen.

Mesmo tendo visto o crescimento da criatura na cena anterior, Jane não confirma a história para o Tenente Dave Barton (Earl Rowe) e nem para o incrédulo Sargento Jim Bert (John Benson) – algo que também nunca entendi no roteiro de Linaker, em parceria de Irvine H. Millgate e Theodore Simonson. A garota esteve junto o tempo todo, viu a coisa se alimentando do braço de Barney, ouviu o parecer inicial do médico, mas parece que não recorda, fazendo o namorado parecer um doido com teorias conspiratórias ou brincalhão. O relato também perde força pelo depoimento da senhora Porter (Elinor Hammer), que confirma a possibilidade de o médico ter ido viajar, desaparecendo com o sujeito ferido. Faz sentido? Não.

Como se nota, pelos efeitos precários, a bolha pouco aparece na história. Steve convoca o grupo de Tony, que no momento estava no cinema vendo o clássico filme Demência (Dementia, 1955), para ajudar a alertar a população, com mais sequências que não levam a lugar algum. Nesse ínterim, a criatura apenas ataca um mecânico e depois aparece na mercearia do pai de Steve para a famosa cena do casal buscando abrigo no freezer, dando uma dica sobre como derrotar a bolha assassina. Tal sequência, assim como a do cinema, também foram lembradas na refilmagem de Chuck Russell. Esta, contando com uma jovem Shawnee Smith (a Amanda da franquia Jogos Mortais) e Kevin Dillon, é mais movimentada, com efeitos sangrentos, gore, rostos derretidos na gigantesca gosma, numa produção muito mais bem realizada.

No último ato, Steve e a namorada ficarão encurralados em um restaurante, e terão que contar com a ajuda da população, e alguns absurdos típicos do cinema bagaceiro da época, para enfrentar a bolha gigantesca. Mas já é tarde: o cinema fantástico estaria diante de uma obra curiosa, mas bastante ofuscada do gênero. Ainda que limitada, é uma produção simpática, despretensiosa, e que conseguiu colocar nas paradas uma composição própria para o filme, intitulada “The Blob“, composta por Burt Bacharach e Mack David, para os vocais de Bernie Knee. Uma canção bonita e que já dá o tom drive-in na abertura, preparando o espectador para uma obra com personalidade.

Disponível em versão dublada no “Youtube“, A Bolha (ou A Bolha Assassina, como foi renomeada), mesmo com sua narrativa arrastada e efeitos bobos, vale uma espiada em comparação à refilmagem. É claro que a segunda versão é bem melhor, uma ótima representante dos anos 80, porém a primeira aparição do monstro gigante é um bom exemplar da ficção científica feita no final dos anos 50. Pode ser até que você se veja envolvido pela canção-titulo, ainda que a bolha não apareça muito para proporcionar isso.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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