A Noite das Bruxas (2023)

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A Noite das Bruxas
Original:A Haunting in Venice
Ano:2023•País:EUA, UK, Itália
Direção:Kenneth Branagh
Roteiro:Michael Green, Agatha Christie
Produção:Kenneth Branagh, Judy Hofflund, Simon Kinberg, Ridley Scott
Elenco:Kenneth Branagh, Michelle Yeoh, Jamie Dornan, Tina Fey, Dylan Corbett-Bader, Amir El-Masry, Riccardo Scamarcio, Fernando Piloni, Lorenzo Acquaviva, David Menkin, Camille Cottin, Kelly Reilly, Jude Hill

Hercule Poirot está de volta em seu terceiro mistério de assassinato sob a direção e vestimenta de Kenneth Branagh. Parecia que o personagem não seria visto tão cedo após a sequência final de Morte no Nilo, mas o detetive belga acabou se envolvendo por acaso em uma trama com aparentes elementos sobrenaturais, precisando ir além de seu faro investigativo para testar suas crenças. Levemente inspirado na obra Hallowe’en Party, de Agatha Christie, lançada em 1969, e distante de seus trabalhos mais populares – teve apenas algumas adaptações para a TV e uma de 2011 pela ITV Studios -, A Noite das Bruxas chegou aos cinemas brasileiros em 14 de setembro, um dia antes do aniversário de 133 anos da escritora, falecida em 1976, em uma passagem discreta pela necessidade de competir com outras estreias e sucessos.

Alterando o cenário inglês para o italiano, com uma amostra do Halloween de Veneza, A Noite das Bruxas começa mostrando a rotina do aposentado Poirot, pós-Segunda Guerra Mundial, com suas plantações e ovos no alto de sua morada, com o apoio do segurança Vitale Portfoglio (Riccardo Scamarcio). Mantendo novamente seu extravagante bigode e preferindo “bolos a casos“, ignorando pessoas que pedem ajuda para seus mistérios particulares, o detetive recebe a visita de sua amiga, a escritora de mistério Ariadne Oliver (Tina Fey), que o convence a participar de uma sessão espírita no casarão da cantora Rowena Drake (Kelly Reilly), para provar a fraude da médium Joyce Reynolds (Michelle Yeoh).

A sensitiva foi contratada para ajudar na comunicação com a falecida filha de Rowena, Alicia (Rowan Robinson), que aparentemente cometera suicídio devido ao término do noivado com o chef Maxime Gerard (Kyle Allen). Participam também da sessão, além de Poirot, Vitale e Ariadne, a governanta de Rowena, Olga Seminoff (Camille Cottin), o médico da família, o psicologicamente traumatizado Leslie Ferrier (Jamie Dornan) e seu filho leitor Leopold (Jude Hill), e a auxiliar de Joyce, Desdemona Holland (Emma Laird). Como acessório de comunicação, Joyce utiliza uma máquina de escrever, que responde com letras iniciais, realizando o experimento com direito a sons estranhos, movimentação da mesa e dos lustres e sugestão de possessão.

Em menos de cinco minutos, Poirot revela a fraude, mostrando dois ajudantes escondidos na chaminé como o meio-irmão Nicholas (Ali Khan), mas, durante o encerramento, quando o detetive resolve experimentar a máscara da médium, uma tentativa de assassinato e uma morte acontecem. Presos no local por Poirot, além da intensa tempestade que acomete a cidade, tem início as investigações através de interrogatórios, com a “noite das bruxas” ainda trazendo outros crimes, além de manifestações sobrenaturais. A revelação do mistério tem relação com o passado, envolvendo traições e enganos, alucinação e envenenamento, com todos os elementos interessantes da literatura de ficção policial.

Feito com um orçamento menor do que os dois primeiros filmes, A Noite das Bruxas não traz um elenco recheado de estrelas, mas boas participações especiais e atuações. Além de Branagh, é bom rever Tina Fey em uma atuação menos bem humorada e a vencedora do Oscar pelo filme Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, Michelle Yeoh. Os demais também estão bem para confundir o espectador na solução do mistério – e ele até não é tão complicado assim: o roteiro de Michael Green facilita a junção do quebra-cabeça, com vários elementos e repetições, às vezes até permitindo que o público antecipe um possível passo da narrativa, como um assassinato de determinado personagem.

Ainda sobre os aspectos técnicos, Branagh se sai bem como diretor de horror, colocando assombrações e sons incômodos, aproveitando a ação ágil de sua câmera. Essa movimentação nem sempre flui bem, principalmente nas cenas em que ela está presa ao protagonista acompanhando seus passos: nos outros dois filmes, ele fez uso do mesmo recurso, mas aqui até que é justificável pela proposta de apresentar vestígios de loucura e pesadelo.

Pode ser que não tenhamos uma nova aventura de Poirot tão cedo. Mesmo com o fim da greve dos roteiristas, é preciso saber se as tramas de Agatha Christie ainda se encaixam no perfil do personagem de Branagh. Há muitos crimes e mistérios a serem apresentados na tela grande, enredos instigantes não faltam, desde que façam realmente jus aos originais e mantenham a qualidade da produção.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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