Krampus: O Terror do Natal
Original:Krampus
Ano:2015•País:EUA, Canadá Direção:Michael Dougherty Roteiro:Michael Dougherty, Todd Casey, Zach Shields Produção:Michael Dougherty, Alex Garcia, Jon Jashni, Thomas Tull Elenco:Adam Scott, Toni Collette, David Koechner, Allison Tolman, Emjay Anthony, Stefania LaVie Owen, Krista Stadler, Conchata Ferrell, Queenie Samuel |
Nos quatro dias que antecederam a véspera de Natal, vi seis filmes com o demônio natalino Krampus para completar o álbum de textos referentes à temática no Boca do Inferno. Sobrevivi a Krampus: o Justiceiro do Mal, Krampus 2: O Retorno do Demônio, Krampus: O Acordo, Krampus: 12 Mortes no Natal, Krampus: O Demônio das Sombras e Krampus – O Terror do Natal. Deixei para o final aquele que eu sabia que iria dar o melhor trato à entidade, com a direção do agora conhecido Michael Dougherty, de Godzilla II: Rei dos Monstros (2019) e Godzilla vs. Kong (2021). É claro que o resultado só poderia ser um filme de excelência, com um ótimo elenco e o melhor da safra no resgate ao espírito natalino, com elementos fantásticos e, por que não, assustadores.
Segundo as trívias, Dougherty sempre quis fazer um filme de terror ambientado no Natal. E foi seduzido a invocar Krampus quando recebeu de amigos um cartão virtual com a criatura, alegando ter sido “amor à primeira vista“. Começou a desenvolver o roteiro em 2011, com acréscimos de produtores e elenco até 2015, quando foi feita a fotografia principal. Com um orçamento estimado em US$15 milhões de dólares – o mesmo de Godzilla Minus One -, o longa faturou mais de US$60 milhões, isso sem contar todo apoio de marketing que envolveu bonecos, adereços temáticos, máscaras já vendidas no Halloween de 2015 e uma graphic novel. Após a bem sucedida estreia nos cinemas em 4 de dezembro desse mesmo ano, com boas críticas, o sucesso se estendeu ao lançamento de DVDs e Blu-Rays, incluindo uma versão sem cortes, intitulada Krampus: The Naughty Cut, disponível em dezembro de 2021.
Mesmo com os elogios recebidos, Krampus – O Terror do Natal não teve lançamento nos cinemas brasileiros – sabe-se lá por quê. O longa passeou pelo mundo, mas só encontrou o mercado digital brasileiro em 6 de julho de 2016, o que justifica o fato de eu não ter visto o filme na época. Um pecado após a constatação de que se trata da produção que melhor foi embebida pela atmosfera Joe Dante de fazer cinema, quando desenvolveu o terror natalino com os Gremlins. Sem dúvida, trata-se de uma obra divertida, com brinquedos assassinos, goblins malditos, criaturas de gengibre, bonecos de neve aterrorizantes e, claro, um Krampus disposto a despertar o inferno na Terra, depois que uma criança abandona o espírito de Natal.
Iniciando com uma confusão numa loja de brinquedos, com pessoas agindo como animais possuídos pelo consumismo – algo visto na Black Friday de Feriado Sangrento -, a trama apresenta a vasta família de atitudes comuns a peculiares. Os Engels são compostos pelos pais Tom (Adam Scott) e Sarah (a ótima Toni Collette), a filha Beth (Stefania LaVie Owen), o filho Max (Emjay Anthony) e a mãe alemã de Tom, Omi (Krista Stadler), e estão receptivos à chegada da família de Sarah, sua irmã Linda (Allison Tolman), o marido dela, o fanático por armas e camionetes Howard (David Koechner), seus filhos tratados como homens, Howie Jr. (Maverick Flack), Stevie (Lolo Owen), Jordan (Queenie Samuel) e a bebê Chrissie (Sage Hunefeld), além da tia chata Dorothy (Conchata Ferrell) e a buldogue Rosie. Entre situações embaraçosas no jantar em família, a carta que Max escreveu para o Papai Noel é lida com gozação pelos primos até o momento em que o garoto diz odiar todo mundo e a rasga em pedaços atirando-a pela janela.
O efeito fantástico envolve a noite numa forte nevasca, acabando com a eletricidade do bairro. Beth resolve visitar o namorado a poucas quadras dali, mas observa ao longe uma criatura grandiosa, com chifres, saltando pelos telhados, indo ao seu encontro embaixo de um veículo, com um jack-in-the-box ameaçador. Quando percebem a demora no retorno da garota, Tom e Howard vão atrás dela até a casa do rapaz, encontrada abandonada com sinais de destruição e ataque. Mais tarde, naquela mesma noite, o gordinho Howie Jr. será atraído para a chaminé com um biscoito de gengibre vivo. Com o pesadelo desperto, Omi é a única que conhece o demônio Krampus e narra sua experiência de encontro, quando seus pais deixaram de acreditar no espírito natalino durante a Segunda Guerra Mundial. Mesmo com o descrédito inicial, logo a casa é atacada pelos brinquedos de Natal, como os biscoitos, robôs e um temível jack-in-the-box, antecipando a vinda dos goblins de Krampus, dispostos a conduzi-los ao inferno
Não tem como não se divertir com Krampus – O Terror do Natal, principalmente na segunda metade, com as sequências imaginativas e mortes ousadas. Aquele tom de comédia-família é substituído por um caos, envolto em confrontos em diversos ambientes, com crianças sendo devoradas e os adultos gravemente feridos, ameaçados por diversas criaturas ao som da trilha incidental de Douglas Pipes. Não tem melhor forma de traduzir o espírito de Natal do que a mensagem proposta em uma narrativa atmosférica, explorando elementos natalinos, sem deixar de lado o sangue e sustos. É claro que, de uma forma ou outra, a história encontraria um final feliz, mas justificado pela boa intenção de um recado moralista sobre união familiar e esperança.
Com um roteiro desenvolvido por Dougherty, Todd Casey e Zach Shields, esse filme é, como o subtítulo nacional adianta, O Terror (definitivo) de Natal, uma das produções significativas dessa época para ser vista e revista, mesmo que na companhia de uma tia chata, tão sincera quanto desagradável. Se ainda não viu, dê a você esse presente! Só não confunda com outros Krampus genéricos por aí.
Poderia ter desandado para algo chato ou ruim, mas é um filme divertido, vale a pena conferir.