O Altar
Original:The Shrine
Ano:2010•País:Canadá Direção:Jon Knautz Roteiro:Jon Knautz, Brendan Moore, Trevor Matthews Produção:J. Michael Dawson Elenco:Aaron Ashmore, Cindy Sampson, Meghan Heffern, Trevor Matthews, Vieslav Krystyan, Laura de Carteret, Ben Lewis, Monica Hewes, Connor Stanhope |
No mapa dos lugares malditos a serem evitados, você pode fazer uma marcação na pequena vila polonesa de Alvainia, onde existem relatos de turistas desaparecidos. Seriam vítimas de moças bonitas em um albergue-isca patrocinado por empresários ricos, fãs de tortura? Ou uma milícia de extração e venda de órgãos no mercado negro? Não. The Shrine conduz o espectador a um ambiente realmente amaldiçoado, um local de perdição e loucura, mas sem as plantas assassinas de As Ruínas. Quem embarca nessa viagem investigativa é a insistente jornalista Carmen (Cindy Sampson), que tem planos de ascensão profissional, indo além de estudos sobre abelhas e plantações, como sugere seu chefe, Dale (Philip Craig). Ela convence a estagiária Sara (Meghan Heffern) e seu namorado fotógrafo Marcus (Aaron Ashmore) a partirem para uma busca que nem a polícia conseguiu.
Antes de partirem, eles passam na casa da mãe de Eric Taylor (Ben Lewis), desaparecido para a família, mas morto no prólogo do filme, e conseguem acesso ao diário do rapaz – por que ele não o levou consigo já que trazia anotações sobre o local onde iria? São muitas as dicas para que desistam da investigação, como um pesadelo de Carmen e principalmente a hostilidade dos locais. Até mesmo a pequena Lídia (Julia Debowska) dá indícios que eles não deviam estar ali, mas a persistente Carmen vai além dos limites, adentrando a mata até um ambiente escondido por uma densa névoa. Carmen e Sara entrarão no véu cinzento, tateando no vazio, até uma estátua de Pazuzu escondida, segurando um coração, que verterá sangue, sussurrará, e dará início ao horror criativo de Jon Knautz, a partir de um roteiro próprio em parceria de Brendan Moore e Trevor Matthews.
Além dos moradores pouco amigáveis e de uma estátua estranha, existe em Alvainia uma ordem religiosa que realiza sacrifícios em um santuário ermo no subsolo. As vítimas, incluindo Eric, são mantidas em caixões, com máscaras de Bárbara Steele afixadas com marretas. Os três viajantes terão que achar uma forma de escapar desse vilarejo, com seus segredos e maldições, para contar à sociedade, em um survival terror que não é exatamente como se imagina. Os dois primeiros atos são bastante convencionais, seguindo o lugar-comum do gênero: turistas enfrentando pessoas estranhas e seus rituais e tradições. Até o terceiro ato, quando se entende o que está acontecendo e percebe uma interessante inversão de papéis.
É claro que se pode questionar o mais simples: por que não disseram logo para eles sobre o que acontece ali, permitindo que a curiosidade possa matar o gato? Aliás, oito em dez produções de terror se resolveriam com uma comunicação, uma placa de aviso, cercas de arame farpado e cães de guarda. Para a proposta, o enredo se configura de maneira bastante surpreendente até mesmo nos efeitos de maquiagem e no grafismo das mortes violentas. Constrói-se um folk horror eficiente, claustrofóbico e satânico, similar a outras cidades pequenas e com baixa sinalização (lembrei até de O Dia de Satã), mas sem o grau apocalíptico como se sugere. E a eficiência se deve ao elenco reduzido, à atmosfera bem realizada e à proposta ousada, três dos fatores que tornam o filme como uma das melhores produções de 2010.
Com um final alternativo bem melhor do que o oficial, The Shrine deveria ser mais conhecido e prestigiado – o filme, não a cidade maldita! Faz parte daqueles filmes despretensiosos e divertidos, com todos os elementos que tornam o cinema de horror necessário. É possível encontrá-lo no youtube com legendas em inglês, caso você queira conhecer mais um filme da série “guia de vilarejos malditos para evitar nas férias“.