O Cemitério (2006)

3.7
(3)

O Cemitério
Original:The Graveyard
Ano:2006•País:EUA
Direção:Michael Feifer
Roteiro:Michael Hurst
Produção:Michael Feifer
Elenco:Christopher Stewart, Sam Bologna, Trish Coren, Eva Derrek, Brett Donowho, James Gallinger, Lindsay Anne Hugghins, Patrick Scott Lewis, Erin Reese, Mark Salling, Natalie Denise Sperl

Atenção! Esta crítica contém spoilers!

Hoje as crianças e seus brinquedos possuem a comodidade de sequer se levantar da cadeira para escolher uma porcaria qualquer em um serviço de streaming, mas ‘back in my day‘ a frustração envolvia uma perda de tempo ainda maior: a caça de preciosidades nas locadoras. Houve um tempo quando as pessoas tinham que se deslocar fisicamente, muitas vezes pagando transporte público, para um estabelecimento comercial, munido tão somente de sua intuição e de uma boa dose de ousadia para escolher uma obra desconhecida. Para o fã de terror, a caçada podia ser ainda mais frustrante: lá vai você para a locadora procurar um filme de terror, principalmente porque já assistiu a todos os filmes do mainstream e tenta pegar um filminho lançado “direto para o vídeo” na esperança de que alguma coisa boa saia de lá. Você lê a sinopse no encarte do DVD, e ainda indeciso, pergunta alguma coisa para a simpática atendente do estabelecimento. Como sempre ela te responderia a mesma coisa se você estivesse procurando um filme de romance. Você pensa, algo dentro de você diz que esse dinheiro poderia ser empregado em uma causa mais nobre, uma cerveja por exemplo. Você pensa “Ah, dane-se” e aluga o filme, coloca no seu aparelho e se arrepende miseravelmente de não ter comprado aquela cerveja. Bem, se esta pequena história, baseada em fatos, parece clichê para você, parabéns, pois O Cemitério é justamente isto, basicamente um grande (e dependendo do caso enfadonho) filme de assassinos seriais de acampamento clichê.

Esta produção de 2005, que foi dirigida e produzida pelo novato Michael Feifer com roteiro de Michael Hurst, com um elenco em sua maioria inexperiente também, é um daqueles filmes que você já assistiu sem nunca ter visto antes, pois tenta fazer funcionar uma velha fórmula que já foi enterrada há muito tempo, porém sem tentar dar uma variada na história ou na narrativa, o que provavelmente vai acabar apagado e envelhecido como todos os anteriores.

Senão vejamos: um grupo de seis adolescentes sem nada melhor para fazer invade o cemitério de Placid Pines, para brincar de “corram por suas vidas“. Se você não sabe como jogar, veja as regras e, se interessar, chame alguns amigos e brinquem também:

1 – Sorteie um amigo para ser a vítima;
2 – Então o prenda em um jazigo bem bonito;
3 – Grite “corram por suas vidas” e corram para se esconder enquanto o outro conta até vinte (se ele souber contar, é claro);
4 – Não se esqueça de colocar um cara com uma máscara e uma faca para assustá-lo, e pronto, não é divertido??

Enfim, ditas as regras, a vítima da vez é Eric (Mark Salling, Colheita Maldita 4) e vão se “esconder Allie (Trish Coren, Boo), Sarah (Erin Lokitz), Charlie (Chris Stewart), Michele (Lindsay Ballew) e o babacão Jack (Leif Lillehaugen).

Então é até desnecessário dizer que a brincadeira acaba mal e Eric acaba morrendo perfurado pelo portão do cemitério enquanto foge de Bobby (Patrick Scott Lewis, Zodíaco dirigido por David Fincher), o amigo vestido de slasher. Duas coisas são estranhas (também conhecido como furos) nesta sequência: primeira, Eric nem desconfia que é uma brincadeira, mesmo com os amigos bebendo e tirando sarro minutos antes, e, segunda, o que raios fez aquele rombo gigantesco no portão do cemitério? De qualquer forma, todos choram em volta do corpo pendurado do garoto, ninguém nem cogita a possibilidade de ligar para uma ambulância, e Bobby é preso e considerado culpado pela morte de Eric. Cinco anos depois, Michele, formada advogada, consegue colocar Eric na condicional e todos resolvem se reunir novamente no acampamento de Placid Pines para morrer… É verdade!!! – “tentar concluir o acontecimento“, seja já o que isso signifique, não me parece uma explicação plausível pra todo mundo voltar ao local da tragédia, então vão só pra morrer mesmo e pronto. Aliás, é melhor ir se acostumando, porque explicações convincentes estão em extinção neste roteiro e estamos com menos de 15 minutos de projeção.

De qualquer maneira, todos se reúnem novamente em Placid Pines e somos apresentados ao caseiro do local, Peter Bishop (Markus Potter), e à nova namorada de Jack, Verônica (Eva Derrek), que, de seus 10 minutos de cenas, em 9 aparece pelada (pra alegria dos marmanjos), mas em tempo, Bobby está indisposto com os amigos, afinal só ele levou culpa na morte de Eric e não recebeu um bilhete na cadeia (oh, dó…).

A noite cai e vemos alguém amarrado em uma cadeira com uma pessoa mascarada andando em volta dela, então o assassino mata o candango com duas machadadas no ombro (hã???), com um machado muito do cego por sinal. Só mais um detalhe: essa vítima não havia aparecido antes no filme, na verdade sua identidade só será descoberta mais tarde, tão tarde que talvez você nem lembre disso. Corta para Verônica que dá uma “rapidinha” com Jack, e, mais alguns sustos gratuitos depois, Michele vai ao quarto de Bobby, onde tem um saco de papel sobre a cama, então em uma tentativa estúpida e ridícula de dar profundidade ao roteiro, Bobby filosofa sobre “causa e consequência” e alerta que “a floresta pode ser perigosa e tal” com Michele, que acaba desistindo de olhar o que tem no saco… Uhhhhh, tão arrepiante quanto um desenho do Scooby-Doo

Michele revela aos amigos que os pais de Eric morreram queimados em um acidente simulado. As garotas ouvem um barulho e Jack faz uma constatação incrível: “Não é o Jason que está lá fora esperando a próxima vítima…” Ufa, fiquei aliviado…

Sarah então faz a coisa mais manjada e estúpida em um slasher: sai correndo do acampamento para ir ao cemitério anexo (exatamente, o acampamento tem um cemitério ao lado…), e Michele vai correndo atrás. O motivo? Sarah vai “Rezar pelo perdão de Eric“… Esse Michael Hurst é tão engraçado…

Verônica vai tomar uma ducha e o assassino aparece na porta para pegá-la, e agora somos premiados pela magistral edição de Christopher Roth, que nos agracia com a cena de banho mais demorada da história do cinema: close nos peitos de Verônica, câmera no assassino entrando, close nos peitos, assassino fazendo barulho, close nos peitos, Sarah e Michele entram no cemitério (que a propósito, mesmo passados cinco anos, continua com aquele rombo enorme no portão) e… close nos peitos!!! Caramba, isso é um filme de serial killer ou é uma sessão do Cine Privé??

Muitos closes depois, descobrimos que a cova de Eric está vazia e finalmente Verônica é morta. Os amigos se reúnem na cabana para procurá-la, mas Bobby os adverte que ela provavelmente já era, citando mais uma vez a “floresta má”. Bobby discute com eles e Jack, o rei dos diálogos toscos, fala que um corpo foi encontrado mutilado há dois dias  (lembra aquele do começo do filme? Então temos um erro grotesco de cronologia, pois aparentemente tudo ocorreu na mesma noite), tudo muito natural, é claro: “algum caipira bêbado deve tê-lo confundido com um veado e o matou” (ah, sim lógico, por que não? Ele devia estar correndo de quatro por aí mesmo…).

Se até esse ponto você estava pensando: “Ah. Agora só faltam eles se separar para procurar a garota, se tornando presas fáceis do assassino“, meu amigo e minha amiga, parabéns, você poderia ser remunerado para ser o roteirista dessa tranqueira. Michele, Sarah e Peter vão pra um lado, enquanto Jack, Charlie e Ellie vão para outro. O grupo de Michele é abordado por mais uma personagem secundária, Zoe (Natalie Denise Sperl), que é a ex-namorada ciumenta-vingativa de… Sarah. Discussão, Zoe ameaça todos de morte, sai andando e depois morre na mão do assassino degolada, tudo em questão de 3 minutos, rápido assim. Mas tem uma coisa sobre a morte de Zoe que é digna de nota: do local onde a faca corta até onde o sangue sai tem uma diferença de pelo menos 2 dedos, um erro grosseiro de “efeitos especiais” e muito engraçado por sinal.

Jack e Bobby pregam um susto no grupo e voltam ao acampamento. Ao chegarem, descobrem que seus carros foram sabotados. Bobby, o maratonista, pretende ir correndo por 16 quilômetros até o telefone mais próximo; o restante do grupo começa a achar os corpos pelo acampamento e Ellie, correndo feito uma barata tonta, acaba sucumbindo ao assassino.

Bobby encontra um carro de polícia durante a corrida e é levado preso pelo xerife (Sam Bologna), até porque, convenhamos, interceptar um policial com uma faca na mão e sujo de sangue falso não faz parte das boas maneiras. Amanhece, Bobby é trancafiado pelo xerife, que suspeita que ele é o autor da morte do corpo mutilado, e os sobreviventes no acampamento começam a desconfiar que Charlie está por trás das mortes, já que encontraram várias fotos suspeitas de Sarah em seu laptop. Mas na realidade, Charlie é só um maníaco obsessivo por Sarah, sabem por quê? Arriscam um palpite? Não? Charlie tinha um amor platônico por Eric, que na época estava namorando Sarah e por isso culpa a todos por sua morte (pausa para respirar, isto está ficando cada vez mais complicado para minha cabecinha).

Charlie então acaba matando Sarah eletrocutada em um momento de raiva, na única cena mais inspirada do filme. Agora, se você já deduziu que Charlie é o assassino, deduza mais uma vez, pois ele acaba morrendo em seguida picado por uma cobra venenosa (um assassino serial usando cobras? Agora sim eu já vi de tudo…).

A confusão entre Bobby e o xerife acaba esclarecida, mas o velho não vai até o acampamento porque tem um assalto em andamento em outro lugar e ele é o único policial por aquelas bandas. Por isso Bobby precisa correr contra o tempo para descobrir a verdade e salvar Michele antes que seja tarde demais.

Tem uma fala da heroína Michele que resume o filme inteiro: “E para o resto de nossas vidas, clichês, clichês, clichês…“, e como o filme é infestado deles, vou fazer uma análise um pouco manjada também: o roteiro escrito por Michael Hurst é isso que você leu, igual a tantos por aí. Diga o nome de uma passagem de algum filme genérico qualquer e provavelmente ele estará neste filme: a cena do gato, checado. Perseguição na floresta, checado. As pistas falsas, checado. O assassino querendo matar a mocinha de uma maneira mais ritualística só para o mocinho chegar no final e salvar o dia, checado. O gancho do final do filme, checado. A revelação final para quem já assistiu esse tipo de filme também pode ser deduzida com certa facilidade, principalmente porque os potenciais responsáveis pelos crimes são eliminados assim que tomam alguma atitude suspeita.

A direção de Michael Feifer segue a cartilha, mas não chega a atrapalhar; o problema é que ele não é ajudado pelas atuações, como já se deve imaginar: alguns exageram demais e outros são inexpressivos demais, o que dificulta para que se tenha alguma simpatia com as personagens, além do fato de a maioria delas tomarem decisões estúpidas e os diálogos serem muito mal trabalhados.

Agora a pergunta: mas o filme é tão chato assim? Nem tanto, se levarmos em conta que é um típico “slasher oitentista“, só que feito no século 21, tanto pelas situações quanto pelas personagens, ou seja, a não ser que você estivesse em uma câmara criogênica pelos últimos 30 e tantos anos e não viu as ondas Sexta-feira 13 e Pânico passarem, você pode achar muito maçante ver tudo outra vez. Mas talvez se você encarar tudo como uma exaltação aos clichês, uma homenagem, ou como quiser chamar, fica tudo mais fácil e dá até pra encarar sem pretensões.

Vale dizer que O Cemitério é um filme derivado da franquia Bloody Murder, que teve dois filmes até o momento, o primeiro de 2000 e o seguinte em 2003. Salvo melhor juízo, depois deste não saiu mais nenhum. Sobre estes dois filmes não há muito que dizer, apenas que é mais do mesmo: “serial killer mascarado mata vítimas em acampamento“, e assim como este aqui reviram todos os clichês do gênero sem trazer nada de novo. O Cemitério, inclusive, foi denominado por alguns de Bloody Murder 3, mesmo não se tratando de uma continuação direta, apenas o lugar da chacina (Placid Pines) é o mesmo. Para terminar, a sensação final que fica é que os produtores ficaram presos ao tempo, que a maioria dos assassinos mascarados de hoje infelizmente já não assustam mais como antigamente… Quanto àquela cerveja, que no começo dos anos 2000 deixei de comprar para alugar essa perda de tempo, não consegui recuperar.

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Gabriel Paixão

Colaborador e fã de bagaceiras de gosto duvidoso. Um Floydiano de carteirinha que tem em casa estantes repletas de vinis riscados e VHS's embolorados. Co-autor do livro Medo de Palhaço, produz as Horreviews e Fevericídios no Canal do Inferno!

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