A Clínica do Horror (2015)

4.6
(16)

A Clínica do Horror
Original:Villmark 2
Ano:2015•País:Noruega
Direção:Pål Øie
Roteiro:Pål Øie, Kjersti Helen Rasmussen
Produção:Einar Loftesnes, Bendik Heggen Strønstad
Elenco:Ellen Dorrit Petersen, Anders Baasmo, Tomas Norström, Baard Owe, Mads Sjøgård Pettersen, Renate Reinsve, Éva Magyar

Traduzido a partir do norueguês, “Villmark” significa algo como “região selvagem“, o que se justifica pela ambientação do primeiro filme, Floresta das Sombras (Villmark, 2003), que se passa em um local ermo, próximo a uma represa, onde há uma barraca aparentemente abandonada. O original também foi intitulado “Dark Woods” nos lançamentos em países de língua inglesa, o que impossibilitaria uma continuidade do título para o segundo – apesar de que a franquia Wrong Turn ferrou os tradutores brasileiros que insistiam em absurdos como Pânico na Floresta ou Floresta do Mal, mesmo no quarto e sexto filmes, ambientados em um sanatório e um resort, respectivamente. Mesmo assim, Villmark 2 é conhecido em alguns lugares como “Dark Woods 2“, enquanto na Suécia teve uma escolha melhor ao ser intitulado “Villmark Asylum“. Já o nosso terrível A Clínica do Horror deve ter vindo da nomeação italiana “Villmark Asylum – La clinica dell’orrore“. De qualquer modo, trata-se de mais uma produção que chama a atenção pelo retorno ao comando de Pål Øie.

Floresta das Sombras foi durante muito tempo apontado em escolha popular como o filme mais assustador da Noruega, batendo a franquia Cold Prey (Presos no Gelo) e o clássico Lake of the Dead (De dødes tjern, 1958), o que é um absurdo em relação a este último, dirigido por Kåre Bergstrøm. O longa trazia um grupo de quatro jovens e um instrutor numa cabana isolada, com uma ameaça crescente, sem muitas pistas inicialmente sobre o que os estaria observando. Construído a partir dessas possibilidades, o longa atmosférico só perde pontos em seus últimos acordes, quando resolve explicar tudo até mesmo de maneira didática. Com a boa aceitação, o cineasta continuou realizando curtas, fez o terror Skjult (2009) e o documentário Lysets vanvidd (2013) antes da realização do claustrofóbico Villmark 2.

O segundo filme se passa em um sanatório abandonado próximo à mata e à represa de Floresta das Sombras, explicando algumas insanidades vistas no original. Nele, um grupo de empreiteiros – a líder Live (Ellen Dorrit Petersen), Ole (Anders Baasmo), Frank (Tomas Norström), Even (Mads Sjøgård Pettersen) e Synne (Renate Reinsve) – está no edifício para identificar produtos quimicamente perigosos a poucos dias de sua demolição. Após algumas palavras com o estranho zelador Karl (Baard Owe), que parece estar surpreso sobre a iminente destruição, eles se dividem entre as tarefas, com o tempo apertado, e começam a trabalhar na vistoria, sem saber que a planta do local foi alterada. Logo eles começam a perceber que não estão sozinhos.

Encontram um homem pendurado no andar inferior que até tenta se comunicar, mas não resiste aos ferimentos. Embora o rapaz tenha sido visto em câmeras na sala do zelador, este apenas justifica que o prédio é constantemente utilizado como abrigo. Assim como acontecia no primeiro filme, há aqueles personagens que se negam a relatar a morte às autoridades, com desculpas como “não quero a polícia zanzando por aqui“, “vamos ter problemas com a empresa“. E não é o único diálogo estabelecido com Floresta das Sombras: aqui também um personagem cai em uma armadilha com estacas e não se fere; e há também um personagem visto no primeiro e que aparece por aqui, sem maiores explicações. Mas qual seria a real ameaça de Villmark Asylum?

Algumas aparições fantasmagóricas dão o tom da continuação. Há realmente pessoas ali, vítimas de experimentos mal sucedidos, envoltas em loucura, como uma menina esquisita, uma enfermeira, entre outros doidos. Lembra vagamente os conceitos de Sessão 9, com toques de A Casa da Colina e até Wrong Turn 4, com todos os clichês espalhados pelos andares. Mas, o que mais incomoda são as ações estúpidas das personagens pela negação em chamar a polícia mesmo quando seus colegas desaparecem e um está com os pés feridos: “Se eu não retornar em 20 minutos, chame a polícia.“, diz Live, deixando um rapaz machucado sozinho. Depois faz o mesmo com Synne, após encontrá-la ferida, quase afogada e presa em um ambiente isolado. Live a ajuda, tirando-a dali e depois a abandona novamente para ir atrás de Ole.

Algumas visões da represa e até da barraca abandonada, de cor diferente da vista no primeiro filme, mostram que o diretor quis realmente propor uma continuação. Todo o clima de suspense de Floresta das Sombras não é repetido neste aqui, com uma atmosfera menos assustadora, apostando na claustrofobia. É um bom filme, ainda que convencional e sem qualquer rastro de criatividade. Mais movimentado que o primeiro passeio na região, eu ainda fico com os jovens do teste de sobrevivência na floresta, mesmo com a narrativa cadenciada.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “A Clínica do Horror (2015)

  • 29/02/2024 em 04:16
    Permalink

    Esse foi um tanto decepcionante mesmo, filme um tanto sem inspiração.

    Uma pequena reclamação: tenho sentido um pouco de falta das resenhas de livros, a parte literária do horror muito me interessa. Abraços

    Resposta

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