![]() O Mundo Odeia-Me
Original:The Hitch-Hiker
Ano:1953•País:EUA Direção: Ida Lupino Roteiro:Collier Young, Ida Lupino, Robert L. Joseph Produção:Collier Young Elenco:Edmond O'Brien, Frank Lovejoy, William Talman, José Torvay, Sam Hayes, Wendell Niles, Jean Del Val, Clark Howat, Natividad Vacío |
Dois amigos deixam suas famílias e partem para uma pescaria de fim de semana. No caminho, mudam de ideia e desviam rumo ao México, na esperança de se divertir com as bebidas e mulheres da região, quando topam com um caroneiro que, logo se descobre, trata-se de um frio assassino procurado pela polícia, e que anda matando pessoas nas estradas americanas. O assassino faz dos amigos reféns e os obriga a deixá-lo no México para que possa fugir da polícia de seu país.
Considerado por muitos um dos primeiros filmes a retratar um serial killer de forma direta nas telas, O Mundo Odeia-Me é mais um trabalho de Ida Lupino, atriz da chamada “era de ouro” de Hollywood, e que construiu uma ousada carreira na direção cinematográfica a partir da década de 1950. Não contente em tratar temas de muita complexidade para as cabeças conservadoras daquela época, como maternidade solo (Not Wanted, 1949) e estupro (Outrage, 1950), Ida jogou um serial killer na cara de todos numa narrativa concisa, um tanto provocativa, e absolutamente tensa.
Essa tensão, inclusive, talvez seja a característica que mais se evidencia em O Mundo Odeia-Me. Nos momentos iniciais, já sabemos que algo tenebroso vai rolar. O rádio do carro não para de noticiar a perseguição implacável a um caroneiro assassino que anda aterrorizando as estradas ao sul do país. Tão logo os dois amigos distraídos resolvem dar a primeira carona da viagem, já dão de cara com o fugitivo, numa apresentação que é apenas sublime (a imagem do caroneiro no banco traseiro com o rosto oculto pelas sombras é de gelar o coração).
Ágil, o roteiro não abre brecha para muitos rodeios. Nos tornamos reféns do assassino enquanto seguimos juntos rumo ao México, sem muitas paradas – a não ser para ouvir as notícias no rádio e bisbilhotar a investigação da polícia – que culmina em um desfecho igualmente objetivo e satisfatório.
Interessante observar que os filmes anteriores de Ida Lupino sempre contaram com personagens femininas marcantes exercendo o protagonismo. Para O Mundo Odeia-Me, foi escolhido um elenco estritamente masculino (nem as esposas aparecem), e o roteiro sugere em alguns momentos a possibilidade de uma “afetividade” entre homens – no caso, os dois amigos. São muitos momentos sutis de cuidado e sensibilidade entre os dois amigos – algo difícil de ver por aí, especialmente em um produto da década de 1950 que pode ser enquadrado como noir. No discípulo de Hitch-Hiker, A Morte Pede Carona (1986), temos algo semelhante, mas abordado de forma diferente.
O assassino Emmett Myers (opa!) também ganha destaque, brilhantemente interpretado por William Talman. Nada romantizado, o Myers aqui é um ser asqueroso movido pelo medo e pelo trauma. A breve humanizada que recebe, no entanto, não é suficiente para tornar o espectador sensível ao personagem.
Ida Lupino é uma das diretoras mais fascinantes de sua época, e entusiasta do cinema independente. Com o roteirista Collier Young, seu marido na época, fundou a produtora The Filmakers, voltada para filmes de baixo orçamento. Após uma dezena de filmes marcantes, dedicou-se cada vez mais a episódios para TV. Entre as séries que participou na direção de episódios, estão Alfred Hitchcock Presents, The Twilight Zone, A Feiticeira, e outros.
Nada banal e totalmente fora da curva, O Mundo Odeia-Me está disponível no YouTube e torrents.