Lobisomens e vampiros em entrevista com as estrelas de Hemlock Grove

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Eli Roth

Hemlock Grove - Eli Roth (2014)

Diretor de filmes como Cabana do Inferno e O Albergue, Eli Roth dispensa apresentações. Produtor de Hemlock Grove, ele havia estado no Brasil pela última vez em 2005, quando estava promovendo O Albergue. Dessa vez, havia acabado de voltar do Chile, onde estava gravando seu novo longa, Knock, Knock.

O que você pode dizer sobre a segunda temporada de Hemlock Grove?

Estou muito animado com ela. Ficamos muito animados com a resposta à primeira temporada, principalmente no Brasil e na América Latina. Meus filmes sempre se saíram bem aqui, é um território incrível para o terror. Na primeira temporada de Hemlock Grove nós estávamos adaptando um livro, e precisávamos encaixá-lo em treze episódios. Na segunda temporada, tivemos a vantagem de olhar para trás e ver o que funcionou e o que tínhamos que mudar. Queríamos fazer uma série melhor, mais enxuta, com mais sustos e reviravoltas. Nós já conhecíamos nosso elenco e nossos personagens e não estávamos presos a um livro, então podíamos seguir em qualquer direção. Eu estou muito orgulhoso. A série é uma metáfora para demônios interiores e o que torna alguém um monstro. Eu sempre a vi como uma metáfora para o vício em drogas. Peter era tão cuidadoso ao esconder sua transformação, se transformar apenas na lua cheia e longe das outras pessoas. Agora, ele se tornou tão desleixado que se transforma na frente de desconhecidos. Então, eu queria ver o que aconteceria se ele se transformasse na lua errada, se ele forçasse uma transformação que não deveria acontecer, que vai contra a natureza. Isso começa a destruí-lo, a deixá-lo louco, mas ele continua encontrando situações em que sente que não tem outra escolha e deve fazê-lo, mas isso o deixa cada vez mais louco. Quanto ao Roman, agora que ele se transformou, começou a sentir a necessidade de sangue e o consegue através de animais ou sanguessugas antes de começar a atacar humanos. E ele odeia isso, ele se sente enojado, faria qualquer coisa para se livrar disso. Shelley ainda está viva e quer se livrar de seu corpo e está transtornada por isso. É interessante porque todos têm dons, mas todos lutam contra eles e tentam mudar algo que odeiam em si mesmos. Na primeira temporada tratamos de quem ou o que matou, era isso que você queria saber. Agora você tem toda uma nova mitologia, uma nova força, e eu estou muito orgulhoso.

É divertido ou aterrorizante não ter um livro no qual se basear para a segunda temporada?

É divertido. Nós amamos o livro, mas sentimos que, na primeira temporada, estávamos nos estendendo para terminar os episódios em determinado ponto da história, e a série terminou onde o livro terminou. Na segunda temporada nós estávamos livres, e contamos com o showrunner Chic Eglee, que já trabalhou em The Walking Dead e com James Cameron, e ele abordou o projeto como um fã. Ele assistiu à primeira temporada em um fim de semana e adorou. Então ele disse “como fã, é isso o que eu quero ver”, e trouxe uma visão e uma mitologia totalmente diferentes. Além disso, você pode voltar e assistir à primeira temporada e ver o que funcionou ou não. Nós também tivemos diretores sensacionais na segunda temporada, como Vincenzo Natali, de Cubo e Splice. E nós sempre olhamos para a segunda temporada como um longo filme, sempre pensamos “qual é o filme de dez horas mais incrível que podemos fazer?”.

Vocês receberam críticas ruins na primeira temporada, e na segunda foi um pouco melhor, mas existe essa dicotomia: mesmo se as críticas não forem tão boas, a resposta do público foi ótima. O que você acha que aconteceu?

O trabalho dos críticos é criticar. Eles estão lá para destruir, e eles querem destruir qualquer coisa que não se encaixe em seus padrões. Essa não é uma série feita para agradar um crítico de 50 anos, mas sim para pessoas que amam uma boa história e amam televisão. Eu recebo críticas terríveis. O Albergue dividiu as opiniões dos críticos: alguns acham que é o pior filme do ano, outros que é o melhor filme da década. O que importa para mim é o público, o que importa é que as pessoas ainda falam sobre o filme e ele ainda passa na TV. O tempo é o único crítico com que eu me importo. Daqui dez anos, as pessoas ainda estarão assistindo e falando sobre isso. Quando você pensa, por exemplo, na primeira temporada de Breaking Bad, alguém sabe o que os críticos falaram sobre ela? Ninguém sabe porque ninguém se importa. Os críticos vão atacar a série, e isso não vai afetar a decisão dos fãs de assisti-la. Quando as pessoas se sentam para assistir Hemlock Grove, não estão fazendo comparações; elas só querem assistir a uma boa história. E é por isso que eu faço filmes: para fãs e para contar uma boa história. Então, nós não estamos fazendo um programa para agradar aos críticos, mas sim ao público.

O Netflix é uma base firme para criadores. Na primeira temporada você teve um orçamento grande e não houve tanta interferência, não houve sequer um piloto. Como é criar dessa forma?

Foi incrível. Faz anos que as pessoas me pedem para fazer terror para a televisão, mas o problema é que eu sempre achei que me diriam “temos que ter estes atores, estes intervalos comerciais, você não pode matar este personagem, é por isso que as pessoas vão assistir”, e eu não sei trabalhar assim. O que faz com que televisão funcione é que as pessoas amam os personagens, e o que faz com que o horror funcione é que as pessoas podem morrer a qualquer momento. Então, como resolver isso? A solução foi o Netflix querer fazer a série como um filme de 13 horas e lançar todos os episódios de uma vez, e eu adorei a ideia. É uma mistura perfeita de criatividade e tecnologia. Custa tanto para lançar um filme, e se alguém surge com uma ideia diferente, é mandada embora. Eles querem continuar fazendo sempre a mesma coisa, e às vezes o resultado é ótimo, outras não. Há ótimos filmes baseados em quadrinhos, e há péssimos filmes baseados em quadrinhos, mas, se é isso o que está funcionando, é isso o que eles vão fazer. Mas na televisão atual se vê todo tipo de programas interessantes de terror, como The Strain, American Horror Story, Bates Motel, e muitos deles estão no Netflix. E eu expliquei ao Netflix como a nossa série se diferencia de Crepúsculo ou True Blood: ela se parece mais com Twin Peaks, ambientada em um universo estranho. Eu queria fazer uma série em que um vampiro dá a uma garota o melhor orgasmo de sua vida no banheiro da escola, em troca de poder consumir seu sangue menstrual, e eles disseram “ok, ótimo”. Quando o lobisomem se transforma, eu queria que fosse como quando você está na quarta série e os professores mostram o vídeo de um parto e toda a classe está gritando, todas as meninas dizem que nunca vão ter filhos. Era isso o que eu queria, que as pessoas pensassem “então é assim que funciona”, e nós fizemos o lobo comer a placenta, e foi ótimo ter o suporte do Netflix. Eles nos disseram para continuar ousando na segunda temporada, para continuar criando momentos que todo mundo vai comentar. Tem sido muito bom fazer parte disso, e a resposta dos fãs tem sido ótima, nós nunca conseguiríamos se as pessoas não estivessem assistindo.

Você já pensou em transformar um de seus filmes em uma série? Talvez uma antologia?

As pessoas já me pediram por um seriado de O Albergue. Agora nós estamos na era de ouro do horror na televisão, várias produções estão sendo repensadas. Poderia haver uma série de O Último Exorcismo, ou uma de O Albergue, mas eu só faria se surgisse uma ótima ideia. Eu adoro a ideia de séries de terror que não são ligadas aos filmes. Veremos! The Green Inferno, Canibais, eu adoraria fazer. O filme será lançado no Brasil no dia 25 de setembro, nós o filmamos no trecho peruano da Amazônia e foi incrível. Eu acho que os fãs de terror aqui irão adorar, porque o filme trata de gringos que querem salvar o planeta e adoram usar hashtags e tweets, eles protestam e salvam os últimos membros de uma tribo que querem viver isolados. Os americanos os ajudam, mas, quando estão indo embora, seu avião cai e as pessoas que eles salvaram pensam que eles são invasores e os comem. Eu adoro fazer filmes, mas a televisão tem sido um ótimo lugar atualmente.

Você está conversando com o Netflix sobre uma terceira temporada?

Eu adoraria… mas depende de vocês. Se blogs, jornais e fãs nos apoiarem…

Quais são seus próximos projetos?

Eu acabo de terminar de gravar meu novo filme, Knock, Knock, com Lorenza Izzo, Ana de Armas e Keanu Reeves. Nós gravamos no Chile e agora voltamos para Los Angeles. Eu adotei filmar na América do Sul, é muito mais divertido do que nos Estados Unidos. Então agora eu estou finalizando a pós-produção de Knock, Knock e depois vou começar a promover Canibais.

O Keanu Reeves também está fazendo TV agora. Vocês conversaram sobre isso?

Sim, nós conversamos um pouco sobre isso. Todo mundo está trabalhando com TV agora, é incrível como o estigma desapareceu rapidamente. Agora atores de cinema estão sendo escalados para fazerem séries de televisão. É muito bom o Netflix ter entrado nesse mercado. As pessoas estão tentando combater a pirataria, e com a televisão todos os melhores roteiristas, todo mundo quer ter programas de televisão. Esta é a forma mais segura de garantir lucros, a audiência é global. Em todo lugar é possível ver alguém com uma camiseta do Heisenberg.

Você acha que a forma de negócios dos grandes estúdios deve mudar? Há filmes que custam o mesmo que o PIB de um país pequeno… Isso é sustentável?

Não é sustentável. Você tem um sucesso, um Guardiões da Galáxia, e eles dizem que um sucesso paga por todo o resto, mas estúdios perdem dinheiro todos os anos. Ter um estúdio não é mais uma fonte de lucro. Parece que é uma máquina grande demais para falhar, o público quer continuar tendo seu entretenimento, faz parte da cultura, mas isso é parte do motivo de tudo permanecer igual. As pessoas têm tanto medo de falhar, que precisam colocar esse ator, ter essa história, essa luta, esse final feliz, essa é a fórmula. Eu fiz Canibais com 5 milhões de dólares, e as pessoas fazem filmes com 200 milhões de dólares. É animador fazer algo diferente e que funcione, mas está ficando mais difícil. Já é bem mais difícil do que na época de O Albergue.

Como você contrata o Keanu Reeves com um baixo orçamento?

Você o coloca como produtor. Em Knock, Knock, nós colocamos Keanu como produtor e as gravações foram rápidas, duraram apenas um mês, ele não precisou de muito tempo para poder voltar aos filmes com um orçamento maior. Basicamente, ele é o produtor e nós dividimos o filme.

Você dirigiu o primeiro episódio de Hemlock Grove. Foi muito diferente de dirigir filmes como Cabana do Inferno e O Albergue?

Muito diferente. Eu percebi que cinema e televisão são mídias completamente diferentes. Eu queria trabalhar com televisão, vou trabalhar novamente, agora que entendo como funciona, mas, quando você dirige um filme, é um deus, tem total controle. Eu faço meus filmes sem interferências e tenho sorte em fazê-lo, e é por isso que faço filmes de baixo orçamento, porque assim tenho o controle de tudo. Hemlock Grove foi uma experiência ótima, mas há interferência do estúdio, do Netflix, de toda parte. Com frequência eu fui a voz principal, e pedi que confiassem em mim. Foi ótimo desenhar o universo da série, decidir qual seria a aparência de Roman, escolher os atores e tudo isso. Mas eu estou trabalhando em uma peça de um quebra-cabeças. Ao chegar no sétimo episódio, havia coisas que não ficaram claras porque não foram bem preparadas no primeiro episódio, então tivemos que voltar e regravar. Essa foi a vantagem de gravar todos os episódios antes que eles fossem ao ar, nós podíamos voltar e mudar alguma coisa. Então, muito do episódio não foram coisas que eu gravei, e outras cenas que eu gravei acabaram indo para o segundo episódio, ou para o nono, e tudo bem, porque não se trata do episódio de Eli Roth para a série, mas sim de fazer com que as pessoas entendam a história. Se houver confusão, é aí que devemos fazer os ajustes. Agora, é divertido assistir a segunda temporada, em que não dirigi nenhum dos episódios, mas eu posso ver que eles estão tentando superar o que eu fiz e estão utilizando o mesmo estilo e tom. Foi bom ver a resposta dos fãs para o mundo que eu quis criar. Quando você vai para Hemlock Grove, como quando eu assisto a Twin Peaks, você está entrando nesse mundo em que há coisas de que você pode gostar e coisas que pode odiar, alguns personagens serão seus favoritos, outros serão chatos, mas isso proporcionará uma experiência de que eu acho que vocês vão gostar, e é disso que tenho orgulho.

A segunda temporada de Hemlock Grove já está disponível na íntegra no Netflix. E você, o que achou da série?

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Silvana Perez

Escolheu alguns caminhos errados e acabou vindo parar na Boca do Inferno em 2012. Apresenta o podcast do site, o Falando no Diabo, desde 2019. Fez parte da curadoria e do júri no Cinefantasy. Ainda fala de feminismos no Spill the Beans e de ciclismo no Beco da Bike.

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