O Homem nas Trevas (2016)

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O Homem nas Trevas (2016) (4)

O Homem nas Trevas
Original:Don't Breathe
Ano:2016•País:EUA
Direção:Fede Alvarez
Roteiro:Fede Alvarez, Rodo Sayagues
Produção:Fede Alvarez, Sam Raimi, Rob Tapert
Elenco:Stephen Lang, Jane Levy, Dylan Minnette, Daniel Zovatto, Emma Bercovici, Katia Bokor, Sergej Onopko, Dayna Clark

Os melhores thrillers são aqueles que despontam de situações simples, poucos personagens, ambientação reduzida, e mesmo assim são repletos de mudanças narrativas e surpresas, alternando a respiração do espectador entre um ritmo acelerado e a quase ausência completa nos momentos mais tensos. Em 2016, o gênero foi agraciado com algumas boas produções do estilo como Rua Cloverfield, 10 e o inédito Intruders, além, é claro, do divertido O Homem nas Trevas, de Fede Alvarez, que surpreendeu com os conceitos originais desenvolvidos na refilmagem de A Morte do Demônio, lançada em 2013.

Todos esses destaques do ano passado possuem uma característica em comum: a claustrofobia. Os personagens se envolvem em dificuldades reais, acreditando estarem diante de uma ação simples, mas a fuga, o único meio de sobrevivência, torna-se impossível devido as circunstâncias apresentadas. Em O Homem nas Trevas, o diretor desenvolveu a ideia, conforme relatou na entrevista que fizemos na época da estreia, pelo trio de assaltantes e imaginou um inimigo que poderia ser um verdadeiro problema: um cego com habilidades de guerra e que esconde seus próprios delitos. Stephen Lang fez corretamente o papel, como um vilão ocasional, movimentando-se rapidamente pelos cômodos, com a audição aguçada e o faro de um soldado à espreita. E então procurou dar tridimensionalidade para os assaltantes, mostrando seu lado humano na justificativa de suas ações, mais intensificado nas cenas excluídas da versão que foi para o cinema. Saiba mais adiante.

Rocky (Jane Levy) sonha em deixar Detroit para viver na Califórnia, prometendo uma vida melhor para a pequena Diddy (Emma Bercovici). Ela namora com Money (Daniel Zovatto), que tem nas atitudes ousadas sua principal característica. Ambos se associam a Alex (Dylan Minnette), cujo pai trabalha com sistemas de segurança de residências, para cometer pequenos furtos em moradas aparentemente protegidas, desde que não levem mais do que 10 mil, valor limite para a cobertura do seguro. Pela paixão discreta por Rocky, Alex é mais uma vez convencido a participar de mais uma invasão residencial, aquela que trará os ganhos necessários para uma aposentadoria do trio. E parece um serviço simples, uma vez que o local é isolado e só tem um único morador, um homem que ficou cego pela proximidade com os estilhaços de uma granada.

Esperam a noite. Dão de comer para o cão de guarda uma carne com soníferos, e, por uma pequena janela, Rocky consegue entrar na residência. A partir daí, com a abertura da porta dos fundos, a câmera de Alvarez faz travellings pelos cômodos já identificando elementos que terão sua importância na situação, como uma marreta, um revólver embaixo da cama e um teto de vidro, além da tubulação. O silêncio assume o papel de um quarto visitante, enquanto eles caminham pelos corredores sem se preocupar com os pequenos sons que ocasionam. Um pedaço de vidro, uma porta que se abre e a respiração ofegante transformam a experiência em momentos intensos, como a própria plateia do cinema demonstrava na expressão imóvel e boquiaberta. Money tenta silenciar o Homem Cego, dormindo com a TV ligada na transmissão de um vídeo particular.

Quando o Homem Cego silencia de vez Money, usando sua própria arma para desferir um disparo em seu pescoço – com a iluminação da bala no crânio -, o inferno começa a ganhar forma. Enquanto Alex só pensa em sair do local, mesmo que para isso precise alertar as autoridades, a ambiciosa Rocky ainda acredita que o furto possa acontecer e mudar sua vida. No entanto, O Homem Cego tem um pecado escondido no porão escuro, e a dupla descobrirá o segredo e perceberá que o senhor não é tão vítima quanto aparenta.

O assassinato de Money inicia um jogo de tensão sem fim. Acuados em um ambiente estranho e fechado, Rocky e Alex terão problemas em todos os sentidos, desde a escuridão do porão em uma das cenas mais angustiantes até a perseguição do cachorro pelos tubos e até mesmo fora da residência. Para manter o ritmo acelerado, algumas cenas foram deixadas de lado para trazer dinamismo e movimentação constante. Toda a participação do pai de Alex, o beijo entre ele e Rocky, os cuidados do jardim do Homem Cego e até discursos maiores foram deixados de fora e estão disponíveis no DVD da Sony. Há bastante material extra como dois documentários sobre os bastidores da produção, informação sobre o elenco e os Sons do Horror, mostrando como foram feita as cenas sonoras da produção. Também vale a pena assistir ao filme com os comentários do diretor, do roteirista Rodo Sayaguess e até do ator Stephen Lang.

Por toda a diversão proporcionada, O Homem nas Trevas confirma sua posição entre os destaque de 2016 com cenas bem realizadas, momentos de tensão e a atuação de Lang, uma ameaça real e que contribuiu bastante para a experiência positiva. Se Fede Alvarez conseguirá manter a qualidade em seus trabalhos, ainda é cedo para definir isso. Mas, está longe de ser um tiro no escuro!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

22 thoughts on “O Homem nas Trevas (2016)

  • 10/07/2019 em 00:30
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    Tive o prazer de ver O homem nas trevas no cinema , filmaço a caçada no telão é sangue nos olhos ✌

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  • 13/06/2018 em 16:57
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    [COMENTÁRIO COM SPOILERS]

    Eu achei o filme muito bom, sai do cinema com sentimento de ingresso bem pago, porém só achei desnecessário o lance da moça no porão, se o final fosse pessimista ( se a menina se desse mal) seria melhor ainda.

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  • 06/06/2017 em 13:16
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    Mais uma boa produção de Fede Alvarez. Que continue nos trazendo bons filmes, grata revelação.

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  • 21/01/2017 em 11:26
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    O comentário possui Spoilers.

    Bom dia caros amigos.
    O que dizer deste filme? Um ótimo começo, um ótimo desenvolvimento, a tensão criada foi algo que eu não via à tempos. Ótimo filme, ótima ideia, criativo em sua base, respeitoso em seus elementos, enfim, sem defeitos, certo? Não.
    Devo admitir que, para mim, o filme inteiro perde o significado com aquele final, não sei o que vocês acharam deste ponto específico, mas, simplesmente não consigo aceitar aquilo, foge inteiramente à proposta inicial do filme.
    A ideia estava clara desde o início: “não meche com quem tá quieto”, o cara tá tendo a casa invadida, o cara estava na dele, a única pessoa que merecia se dar bem naquele filme era ele mesmo. Por que aquela menina tem que sair com todos os espólios do filme? Foi ela quem perturbou o sossego alheio para início de conversa. O filme ficaria perfeito se acabasse justamente naquele enquadramento quase no finalzinho, em que ela está deitada no chão, a visão é a dela, em primeira pessoa, o fundo está embaçado e em primeiro plano está a joaninha e, de repente, a joaninha voa e “toda a segurança, o conforto, a esperança se vai”. Ali o filme acabaria perfeito para mim.
    No mais, é isso, filme perfeito, só o final que ficou cagado.

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  • 10/01/2017 em 10:19
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    O que dizer daquele furo no início do filme? *Spoiler*

    Se colocaram a garrafa com gás no quarto do cego, por que ele não dormiu?

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      10/01/2017 em 11:21
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      Não é furo. Ele é cego, tem os outros sentidos mais aguçados, além de ser um ex-combatente, o que já o deixa mais atento ao que acontece ao redor.

      Abs

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  • 09/01/2017 em 19:48
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    pelo amor de deus sera que ninguém nunca assistiu o “QUARTO DO PANICO” isso é uma cópia

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      09/01/2017 em 20:02
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      Oi, Danilo! Tudo bem?

      Não é cópia. Ele segue uma fórmula comum do subgênero “invasão domiciliar”, onde os invasores é que acabam sendo vítima da situação. No caso específico de Quarto do Pânico, eles invadem a casa de uma família e ela se tranca em um quarto. Onde está a ameaça? É basicamente uma resistência à situação. Intruders também é assim. Agora, você lembra de algum filme em que o dono da casa assaltada seja um cego? E ele guarda mistérios em seu porão?

      Abs

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    • 28/05/2021 em 00:20
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      “Um Clarão nas Trevas”, de 1967, com a Audrey Hepburn, acho. Ela é cega e sua casa é invadida por gente má. Ela se defende como uma cega!

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  • 23/11/2016 em 15:31
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    Otimo filme fez o dever de casa assustar

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  • 25/09/2016 em 01:16
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    Tá vendo no que dá querer roubar os outros. kkkkkkkkkkkkkkkkk

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  • 19/09/2016 em 19:33
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    Assisti ontem ao filme e gostei muito. Só acho que o título nacional não tem nada a ver. Porque colocaram O Homem das Trevas ? O título original define muito bem o que é o filme.

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      20/09/2016 em 08:43
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      No início da produção, o título do filme em inglês era o mesmo que é hoje em português, A Man in the Dark. Só depois mudou para Don’t Breathe. Aqui acabou ficando com o título original mesmo.

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  • 18/09/2016 em 19:20
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    Eu não considero um filme de terror, diria que suspense daqueles bem pesados mesmo, mas cara, adorei. Aquela sensação de agonia que você sente com o drama da menina tentando escapar do psicopata é o ponto alto do filme. Infelizmente eu tenho que dizer que a minha experiência só não foi perfeita porque tinha uns fdp no cinema que ficavam falando besteira no filme inteiro, então nas horas que ficava tudo em silêncio no filme, começava os cochichos, e estragou totalmente a minha imersão. Cinema hoje em dia só tem gente que não respeita os outros mesmo.

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      14/09/2016 em 10:45
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      Mas deve ter algum filme resenhado nesse site que você gosta, né, Paula?

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  • 13/09/2016 em 20:59
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    Melhor filme de terror do ano, na minha opinião, tudo nesse filme está ótimo, alias, boa crítica!

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    • 26/09/2016 em 10:56
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      Concordo plenamente!
      achei o filme ótimo demais!

      Resposta

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