O Cemitério do Terror (1985)

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O Cemitério do Terror
Original:Cementerio del Terror
Ano:1985•País:México
Direção:Rubén Galindo Jr.
Roteiro:Rubén Galindo Jr.
Produção:Raúl Galindo
Elenco:Hugo Stiglitz, José Gómez Parcero, Bety Robles, Leo Villanueva, Raúl Meraz, René Cardona III, Servando Manzetti

O Cinema de Horror Mexicano é pouco conhecido no Brasil devido a falta de divulgação das distribuidoras e muito mais pelo preconceito. Quando chega algo por aqui são na maioria exemplares que mancham a cinematografia do país como o péssimo Cañitas, exibido durante um bom tempo na Netflix, ou o fraquinho Km 31, lançado em DVD em 2007 pela Paris Filmes. Somente agora com Somos lo que hay, de Jorge Grau, e, principalmente o seu remake Somos o que Somos, de 2013, os olhares novos se voltaram para o horror na terra do Mariachi, embora clássicos como Satánico pandemonium, de Gilberto Martínez Solares, e Alucarda, de Juan López Moctezuma, continuem somente sendo lembrados em mostras de cinema. Mas, há muito mais para se ver no México do que a beleza de Salma Hayek!

Em 1985, quando o slasher já se estabelecia como um subgênero e George Romero lançava seu terceiro exemplar da franquia dos mortos-vivos comedores de carne humana, era produzido no México o horror Cementerio del terror, a estreia do cineasta Rubén Galindo Jr., que depois faria Don’t Panic (88) e o elogiado Ladrones de tumbas (90). Pode-se apontar o longa como uma mistura paupérrima de slasher com zumbis, mas com uma quantidade suficiente de sangue e mortes violentas para atrair a atenção dos amantes do gênero. Antes de falar da produção, peço permissão para um parágrafo particular.

Nos anos 80, quando ninguém por aqui pensava em produzir filmes amadores, eu, meu irmão Luciano e meu primo Rogério já criávamos nossas próprias histórias de terror, filmadas com uma pesada câmera Panasonic M9000. Entre personagens divertidos como “Os Detetives Cor-de-Rosa” e uma trama de sequestro ao som de Leva Eu Sodade, de Os Cantores de Ébano, fizemos um curta de terror – infelizmente nunca terminado já que tínhamos que devolver a câmera para nosso avô – sobre um terrível assassino em série que acidentalmente morria atropelado e seu corpo depois coincidentemente acabava sendo usado de cobaia para um ritual de magia negra e voltava à vida, imortal. Recordei desse curta ao assistir ao mexicano Cementerio del terror, de 1985, provavelmente realizado na mesma época da nossa brincadeira de cineasta amador.

Na noite de Halloween, estudantes de medicina convencem suas namoradas a deixar de lado um show de rock para uma festa particular num casarão abandonado. Assim que Jorge (Cervando Manzetti) encontra um livro macabro no sótão, intitulado Devlon, ele tem uma ideia extremamente romântica para o momento íntimo com as garotas: roubar um cadáver no necrotério para realizar um ritual macabro de ressurreição no cemitério. O corpo escolhido é o do assassino Devlon (José Gomez Parcero), responsável pela morte de dezessete pessoas incluindo os próprios pais, além de ser praticante de magia negra, ou seja, possuidor de um currículo perfeito para experiências adolescentes. O psiquiatra Dr. Camilo Cardan (Hugo Stiglitz) acredita que o serial killer é, na verdade, um demônio e seu corpo precisa ser cremado para evitar que ele retorne.

Facilmente, os jovens invadem o necrotério e levam o corpo para o cemitério, onde iniciam a leitura do livro. Uma forte tempestade atinge o grupo – apenas o grupo, pois não chove em mais nenhum local -, obrigando-os a voltar para a mansão, enquanto o corpo retorna à vida e vai ao encontro de suas vítimas. Seria um slasher comum se a trama se baseasse apenas na vingança sobrenatural de Devlon, mas o filme ainda tem mais a contar, surpreendendo o espectador ao assassinar os seis jovens das formas mais criativas e violentas como um exemplar de Sexta-Feira 13: machadada na cabeça, tripas arrancadas, pregado na parede, arremessada pela janela e outra que encara os restos de uma garrafa. A partir daí, a narrativa acompanha o psiquiatra e o Capitão Adam Ancira (Raúl Meraz) na busca pelo assassino, ao passo que tentam resgatar um grupo de cinco crianças perdidas, que acabará indo ao cemitério, ao casarão e depois ao cemitério e ao casarão.

Numa das passagens pelo local onde foi feito o ritual, zumbis começam a emergir de suas velhas tumbas em maquiagens toscas e corpos intactos. É provável que a solução para essa noite de terror esteja no livro Devlon, mas para chegar a ele será necessário enfrentar os mortos e o assassino imortal e poderoso. O gore já estabelecido na primeira metade slasher diminui com as vítimas inocentes, restando ao público se divertir com as interpretações nem sempre convincentes dos jovens e a tensão risível no ato final.

Também conhecido com o título inglês Cemetery of Terror lançado pelo mundo, o filme conseguiu uma passagem rápida pelos cinemas novaiorquinos, talvez pelas filmagens terem sido realizadas no Texas. Na época do lançamento, Galindo Jr. chegou a dizer que fez seu longa inspirado em The Evil Dead, clássico absoluto de Sam Raimi. E desdenhou do fato de alguns críticos compararem a trilha sonora de Chucho Zarzosa com a de Halloween III, de Tommy Lee Wallace, de 1982. A despeito dessas semelhanças e dos defeitos técnicos, Cementerio del terror é divertido em sua concepção simples e sua narrativa dinâmica, sendo um bom exemplar do cinema bagaceira do México.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “O Cemitério do Terror (1985)

  • 19/12/2018 em 22:09
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    Só uma observação.. Foi mencionado o Jorge grau, mas tem o Jorge Grau espanhol e o Jorge Michel Grau, que é outro Jorge, mexicano. Ocultar o Michel causou confusão.

    Resposta

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