Guru das Sete Cidades (1972)

3.7
(3)

Guru das Sete Cidades
Original:
Ano:1972•País:Brasil
Direção:Carlos Bini
Roteiro:Carlos Bini
Produção:José Pinheiro de Carvalho - Guru Produções Cinematográficas
Elenco:Paulo Ramos, Otávio Terceiro, Rosângela Alves, Roberto Bustamante, Wilson Grey.

No começo da década de 1970, o então governador do Piauí, Alberto Silva, teve a brilhante ideia de bancar um filme-propaganda do estado, que explorasse bem suas paisagens naturais e culturais para exibição em todo o Brasil e, quem sabe, até no exterior. Hoje em dia, Guru das Sete Cidades, segundo longa de Carlos Bini lançado em 1972, surge como um produto curioso, perdido no catálogo do Canal Brasil e temporariamente a salvo, e de forma precária, em alguns canais do Youtube.

O filme, entretanto, segue caminhos muito estranhos para uma proposta de promoção turística, e de tão focado na paisagem piauiense, acaba ficando só na paisagem mesmo, inclusive no que diz respeito a argumento, roteiro, atuação e direção. O que poderia ser um bom “suspense cultural” se transforma num pastelão difícil de engolir – mesmo não ultrapassando os (intermináveis) 90 minutos de duração.

A trama é até peculiar: uma mulher se envolve com uma seita que realiza sacrifícios humanos em uma tentativa de assassinar o próprio marido. A seita, comandada pelo “líder espiritual” conhecido como Guru, realiza seus rituais religiosos no Parque Nacional de Sete Cidades, e é formada basicamente por motociclistas, hippies e “delinquentes juvenis” em geral.

O filme poderia ser até interessante. Certamente é peculiar. Mas erra feio em muitos momentos, sendo o principal desses erros a falta de consistência e “vazios” em muitos pontos do roteiro, principalmente aqueles que envolvem o Guru e a tal seita. O que eles cultuam? Não dá para entender bem. Mas a ideia é repetir a inquisição medieval, matando na tentativa de “purificar em nome de Deus”. Só isso. Sem nenhum dilema ético maior.

E são essas as informações que conseguimos captar. Não dá pra entender no que consistem os rituais e as práticas do grupo (eles meditam em grupo no pôr do sol, e depois saem para matar pessoas), nem as motivações e “retornos espirituais” que os membros da seita esperam. E O Guru?! Esse não cativa ninguém, além de ter pouquíssimo tempo de cena. É tudo muito superficial.

As atuações são tão fracas que tornam essa falta de consistência dos argumentos numa encenação aleatória que parece apenas querer recriar um quadro, uma “paisagem”, do que seria uma seita à la Charles Manson (um caso recente em 1972) entre as formações rochosas da savana piauiense.

Olhando por outros vieses, o filme traz conflitos geracionais até interessantes, a partir da personagem Soninha, que quer assassinar seu  marido, muito mais velho que ela e com uma visão mais conservadora (e também controladora) do mundo, por ele não corresponder às suas expectativas juvenis. O fato de os jovens fora do padrão social serem associados a criminosos fanáticos também daria muito pano pra manga.

Mas tudo que poderia nos propiciar altos insights sobre as estruturas sociais vira uma comédia pastelão devido a canastrice de todos os envolvidos. O desenvolvimento das cenas também não são bem construídos, e situações inverossímeis são apresentadas (a cena em que os membros da seita invadem a casa do marido), derretendo sob o sol piauiense um potencial enorme de mistério, suspense e até terror.

Guru das Sete Cidades começa com a promessa de um teen exploitation original, mas é recomendado apenas como curiosidade pitoresca do cinema nacional. A motivação da produção é apresentar o Piauí ao restante do Brasil, e por isso capricha na exibição da paisagem piauiense e seus pontos turísticos. A consequência (desnecessária) disso são muitas sequências aleatórias, que, aliadas à história, até renderiam um bom road movie, se tivessem aproveitado melhor o que tinham, mas como preferiram se sustentar apenas com as paisagens e não com a consistência, o produto final foi um filme em que nem os figurantes que vemos transitando nas ruas conseguem nos convencer.

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Pedro Emmanuel

Cearense, jornalista, quase geógrafo (ainda cursando), meio praieiro e ligeiramente antissocial. Minha viagem é aprender o máximo possível sobre a vida e sobre a morte, e assim ir assimilando alguns mistérios da existência. Vivo como se fosse um detetive, mas minha mente vagueia muito. Sou fã de Star Trek, Jefferson Airplane, e do Massacre da Serra Elétrica original.

3 thoughts on “Guru das Sete Cidades (1972)

  • 27/02/2024 em 16:35
    Permalink

    “Estou ansioso para NÃO VER!”
    Eu sobre este monte de bosta do cinema nacional

    Resposta
  • 18/03/2022 em 17:34
    Permalink

    precisando muito assistir para minha tese de mestrado… nao encontro o torrent em lugar algum. sugestão de onde encontrá-lo? grato

    Resposta
    • 20/03/2022 em 22:54
      Permalink

      Tem o filme completo no YouTube. A qualidade é que não tá lá essas coisas, mas dá pra curtir .

      Resposta

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