Veja por Mim (2021)

4.7
(7)

Veja por Mim
Original:See for Me / Mira por mí
Ano:2021•País:Canadá
Direção:Randall Okita
Roteiro:Adam Yorke, Tommy Gushue
Produção:Matt Code, Kristy Neville
Elenco:Kim Coates, Jessica Parker Kennedy, Laura Vandervoort, Natalie Brown, Skyler Davenport, Emily Piggford, Pascal Langdale, Joe Pingue, George Tchortov, Keaton Kaplan, Stuart Clow

O terror sensorial esteve em voga na época do lançamento de O Homem nas Trevas, Bird Box, Hush – A Morte Ouve e Um Lugar Silencioso. Continuações, influência em episódio da série The Walking Dead, e este ano, com duas produções bastante parecidas, Unseen e Veja por Mim (See for Me, 2021). Na verdade, a trajetória do cinema fantástico sempre abrigou os sentidos como elementos importantes para a criação do medo, destacando personagens em situações que aumentam a tensão pela deficiência; e são sempre produções curiosas, principalmente as que tentam emular a perspectiva das vítimas. Não é caso do longa de Randall Okita, embora se possa encontrar algum entretenimento, ainda que bastante superficial.

É difícil sentir qualquer empatia pela personagem de Skyler Davenport (atriz que ficou cega devido a um acidente vascular cerebral). Sophie é uma ex-esquiadora famosa e que se afastou das competições por ter perdido a visão. Sem interesse em retornar até mesmo para uma paraolimpíada, no entanto ela sempre desafia seus próprios limites, mostrando-se suficiente para trabalhar como cuidadora de animais de estimação, como o bichano da rica Debra (Laura Vandervoort) em uma mansão distante. Dispensando o apoio da mãe (Natalie Brown), ela recusa ajuda do taxista – ora, levar as malas é uma ação comum – e até as orientações da dona da casa, acreditando ser capaz de encontrar a despensa e programar o alarme. Para tal, ela pede ajuda do amigo esquiador Cam (Keaton Kaplan) para que ele seja seus olhos na casa através de uma vídeo-chamada.

Como Sophie tem o costume de roubar bebidas das casas para venda, Cam desiste de ajudá-la. Ao ficar presa do lado de fora, ela baixa um aplicativo chamado “See for Me“, que a conecta a atendentes dispostos a orientar pessoas com dificuldade de visão. Ela é atendida pela veterana do Exército e gamer Kelly (Jessica Parker Kennedy), que, sem buscar muitas informações da cliente, o que chega a ser engraçado, ajuda a garota a invadir a casa por um acesso. Pela ajuda prestada, Sophie guarda o registro do contato pois precisará pedir auxílio durante a madrugada, quando o local for invadido por três ladrões.

Um “home invasion” ao estilo Esqueceram de Mim? Não. Está mais para um que se relaciona com jogadores de games de tiro em primeira pessoa. Sophie ainda tem a “sorte” dos bandidos serem “gente boa” e aceitarem a oferta de dividir o dinheiro do assalto, mesmo que ela não tenha como explicar isso à polícia. Aliás, o longa mostra o lado bom da polícia americana, se mostrando bastante prestativa, chegando no momento certo para impedir que Sophie cometa uma grande burrice. Sem assumir o papel de heroína, o espectador pouco se preocupa com a garota quando ela resolve finalmente enfrentar os bandidos, com Kelly guiando a jovem com a arma em punho pelos ambientes da moradia.

Não se cria toda a tensão que se espera – ela não é um Stephen Lang para lutar com os criminosos -, mas pelo menos não tem os exageros de Unseen, que cria uma cegueira absolutamente artificial. E Okita nem se preocupou em explorar adequadamente a escuridão, terreno conhecido da jovem. Quando ela tem a ideia de apagar todas as luzes, ainda assim a escuridão não esconde o vilão ou a própria protagonista como se espera. Nesse ponto, O Homem nas Trevas foi muito melhor na sequência iluminada apenas pelos tiros.

Disponível no Paramount+, Veja por Mim é um passatempo básico, com suspense quase nulo, mas com uma boa produção e bom elenco, destacando o líder dos bandidos, Rico (Kim Coates, da série Sons of Anarchy), com uma aparição rápida e de bastante impacto. Mais um filme para a galeria dos thrillers sensoriais, com um pouco de claustrofobia, e que até vale a pena você ver.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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