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Corrida Silenciosa
Original:Silent Running
Ano:1972•País:EUA
Direção:Douglas Trumbull
Roteiro:Deric Washburn, Mike Cimino, Steve Bochco
Produção:Michael Gruskoff
Elenco:Bruce Dern, Cliff Potts, Ron Rifkin, Jesse Vint, Mark Persons, Joseph Campanella, Roy Engel

“Promessa de Conservação: eu prometo, como americano, preservar e lealmente defender contra devastação os recursos naturais do meu país, o seu solo e seus minerais, suas florestas, suas águas e vida selvagem.”

Esse texto de comprometimento, válido não somente para os americanos e seu país, os Estados Unidos da América, mas para toda a humanidade e nações da Terra, é a premissa básica para o argumento ecológico de um dos mais belos filmes de ficção científica da história do gênero. Trata-se de Corrida Silenciosa (Silent Running), produzido em 1972, estrelado por Bruce Dern e dirigido por Douglas Trumbull, mais conhecido não como cineasta e sim por sua atuação na área dos efeitos especiais como no clássico de Stanley Kubrick 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), que aliás ganhou um Oscar nessa categoria.

(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)

Num futuro não determinado, a natureza não existe mais na Terra, as florestas, plantações de frutas e verduras e a vida animal fazem agora parte de um passado morto pela ação destrutiva da humanidade. As últimas espécies de vegetação natural, árvores, hortas e alguns animais como coelhos, esquilos, pássaros, tartarugas e lagartos são mantidos vivos em enormes domos transportados pelo espaço por uma imensa nave cargueira chamada “Valley Forge”, administradas pelo astronauta botânico Freeman Lowell (Bruce Dern). Trabalhando sob a “Promessa de Conservação” citada no início, ele e mais três astronautas, Wolf, Barker e Keenan (interpretados por Cliff Potts, Ron Rifkin e Jesse Vint), viajam pelo espaço infinito levando as florestas em gigantescos domos, mantendo viva pelo menos no espaço a natureza de nosso planeta decadente (cuja temperatura passou a ser de 24 graus Célsius constante), apesar que apenas em seus recursos naturais, pois a evolução e modernidade da civilização conseguiu quase extinguir as doenças e desemprego, porém num mundo agora artificial.

Lowell é o responsável há mais de oito anos por um projeto de manutenção das florestas no espaço com o objetivo de um dia poder novamente plantá-las na Terra e poder garantir para as futuras gerações o prazer de desfrutar da natureza, algo inexistente para a humanidade atual, que sobrevive com alimentos artificiais. Porém, ele recebe uma ordem de um comando superior para, sem explicação alguma (nisso o roteiro apresenta uma falha), destruir os domos com as florestas através de detonadores nucleares, e retornar para a Terra com o cargueiro em condições de ser utilizado agora comercialmente. Uma vez não aceitando abortar sua missão e destruir as últimas florestas existentes, após a explosão nuclear de alguns domos Lowell se rebela tomado por um súbito momento de insanidade e mata um de seus companheiros com um golpe de pá, o qual queria explodir a floresta onde ele se encontrava. Imediatamente depois ele prende os outros dois astronautas em outro domo enquanto era preparada sua destruição e aciona o lançamento da enorme cápsula florestal vindo também a explodir no espaço junto com os homens.

Após matar os outros tripulantes, que estavam acatando ordens superiores e não concordavam com sua opinião de manter vivas as florestas, Lowell sequestra e tenta assumir o controle do cargueiro que desorientado vai em direção aos anéis gasosos de Saturno. Uma vez ferido na perna direita no confronto com um dos astronautas, ele recruta três pequenos robôs de manutenção da “Valley Forge”, os drones números 1, 2 e 3, e alterando suas programações, ele utilizou as máquinas para realizarem uma operação em sua perna que teve sucesso.

A partir desse momento, ele batiza os robôs com os nomes originais dos sobrinhos do Pato Donald, o número 1 é Dewey e o número 2 é Huey, sendo que o terceiro, Louie, havia sido tragado por uma tempestade cósmica quando realizava um serviço de manutenção na nave. As máquinas passaram a ser seus companheiros de viagem numa jornada sem rumo objetivando apenas manter vivas as florestas restantes. Porém, a vegetação começou a morrer gradativamente para o desespero de Lowell que tentava sem êxito a sua recuperação, enquanto uma nave de resgate chamada “Berkshire”, desconhecendo o que realmente aconteceu no cargueiro espacial, procurava o paradeiro da “Valley Forge”. A apenas algumas horas antes do contato final entre as naves, o botânico Lowell descobriu o real motivo da decadência das árvores e animais do domo que consistia na falta do Sol, pois eles estavam muito distantes do astro rei. A solução foi a implantação de várias luzes artificiais que substituiriam a luz solar e as florestas então se recuperaram.

Porém, antes do contato de resgate da “Berkshire”, Lowell já muito cansado e sem forças para continuar, despacha o drone Dewey, treinado para a manutenção da vegetação, no único e último domo florestal, que se solta do cargueiro sem rumo pelo espaço infinito, enquanto ele juntamente com o outro drone Huey, que estava avariado devido a um acidente, aciona o mecanismo nuclear de autodestruição da “Valley Forge”, culminando num último e fatal clarão na escuridão do espaço.

Um porta-aviões desativado após missões em guerras foi modificado para servir como cenário do interior do cargueiro espacial, que por sua vez também foi reaproveitado e apareceu na série de TV Galactica – Astronave de Combate (1978 / 1979), como uma nave agrícola da frota de refugiados.

Os robôs anões Dewey e Huey podem ser considerados um grande destaque do filme, além da magnífica interpretação de Bruce Dern como o botânico Freeman Lowell. Os drones parecem humanos e são super carismáticos, apesar de não falarem, andando vagarosamente com suas pequenas pernas mecânicas. Curiosamente, vários robôs similares foram vistos posteriormente em Guerra nas Estrelas, 1977, de George Lucas, incluindo o popular “R2-D2”).

Já Dern está excepcional, no difícil papel de um cientista perturbado pela ideia de destruição de seus sonhos, as últimas florestas terráqueas vivas. É bem compreensível sua atitude num momento de loucura, matando seus companheiros em função de um objetivo maior com a manutenção do que restou da natureza, sem pensar muito nas consequências fatais desses atos.

Uma cena muito engraçada envolvendo os pequenos robôs é quando eles estão jogando baralho com Lowell, que os ensina o jogo através de novas programações, e que após algumas rodadas é surpreendido pelos Drones que trapaceiam e o vencem. Outro momento de humor é quando Lowell está ensinando os robôs a plantarem uma árvore e eles de forma desajeitada fazem um péssimo serviço na primeira tentativa, mostrando que suas habilidades são melhores mesmo para os serviços de manutenção da nave.

Os efeitos especiais são belíssimos com as reproduções de miniaturas detalhadas do cargueiro espacial e seus domos florestais, além dos cenários internos da nave, com suas portas, painéis de controle e pontes de comando. A trilha sonora é um capítulo à parte, com uma música magistral a cargo de Peter Schickele e as canções “Silent Running” e “Rejoice in the Sun” com letras de Diane Lampert e interpretadas por Joan Baez, transmitindo momentos memoráveis principalmente nas sequências finais com o domo remanescente em sua jornada solitária pelo espaço infinito.

Lançado no Brasil em DVD pela “Universal”, Corrida Silenciosa é um inesquecível filme ecológico de ficção científica, produzido há muitos anos e já demonstrando a preocupação na manutenção das reservas naturais de nosso planeta, passando uma mensagem de paz para a humanidade e reconhecimento da importância fundamental da natureza em nossas vidas, servindo de alerta para uma evolução coordenada de nossa civilização.

“Tivemos uma época em que havia flores por toda a Terra… e havia vales. E havia planícies de grama alta e verde onde você poderia deitar – você poderia dormir. E havia céus azuis, e havia ar fresco… e havia coisas crescendo em todos os lugares…” – Freeman Lowell

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