O Jogo da Morte (2021)

3.8
(5)

O Jogo da Morte
Original:YA idu igrat
Ano:2021•País:Rússia
Direção:Anna Zaytseva
Roteiro:Anna Zaytseva, Evgeniya Bogomyakova, Olga Klemesheva
Produção:Timur Bekmambetov, Igor Mishin, Anna Shalashina
Elenco:Anastasiya Bratsyun, Timofey Eletskiy, Danya Kiselyov, Olga Pipchenko, Anna Potebnya, Diana Shulmina, Ekaterina Stulova, Polina Vataga, Pavel Yulku

Dentre os mistérios que rondam a “deep web“, entre lendas macabras e vídeos estranhos, um que facilmente emergiu ficou conhecido como “O Desafio da Baleia Azul“, com a data de sua popularização apontada para 2016. Trata-se de um “jogo” em que o participante, geralmente jovens antissociais, precisa realizar uma série de tarefas no período de 50 dias, incluindo automutilação e se encerrando com o incentivo ao suicídio. Começou com a morte de um adolescente russo induzido pela tal brincadeira, em novembro de 2015, tendo outros casos até explodir com o artigo da jornalista Galina Mursaliyeva para o jornal russo Novaya Gazeta, em abril do ano seguinte, apontando um número assustador de 130 casos relacionados a um grupo conhecido como “F57“. O termo “baleia azul” viria posteriormente, podendo ter relação com uma letra de música da banda Lumen e também pelo fato de muitas baleias morrerem encalhadas em praias – aquela expressão “nadou, nadou e morreu na praia” com a ideia de não alcançar seus intentos. Prisões, relatos de casos pelo mundo todo, incluindo Brasil, e até informações falsas despontaram na época, surgindo derivados igualmente perturbadores, como o tal “Momo“. O terror russo O Jogo da Morte (YA idu igrat, 2021), de Anna Zaytseva, chegou aos cinemas na última quinta-feira explorando a brincadeira fatal e o formato de filmes como Buscando (2018) e Desaparecida (2023).

Depois que a irmã de Dana (Anna Potebnya) se suicida, atirando-se à frente de um trem, com diversos registros em vídeo do ocorrido, ela passa a tentar entender o que a levou a tal atitude, descobrindo nos acessos dela um perfil falso com postagens sensuais e a tal relação com o jogo da Baleia Azul. Um outro adolescente é visto caindo de um prédio, e Dana, sempre com a câmera do celular ligada para registrar suas aventuras, promove situações para que possa investigar, seja esvaziando um prédio ou visitando assediadores a partir de seu IP. É claro que o caminho que ela encontra para descobrir o que aconteceu é participando do jogo, seguindo as regras de seu “supervisor“.

Dentro do jogo, ela precisa realizar 21 tarefas, sem contar a qualquer pessoa sobre elas. Desafios como “conte três medos que você tem“, “desenhe sua dor“, “livre-se do que te incomoda“, “sente-se numa borda” passam a ser progressivamente mais perigosos, incluindo automutilação, adentrar o esgoto e atravessar uma avenida movimentada, sempre com o registro em vídeo. À medida em que realiza as atividades, Dana conta com a ajuda de sua melhor amiga e de um novo affair, Maks (Danya Kiselyov), também participante do jogo. Para dar tons mais sinistros, uma figura mascarada, com um rosto como o de um filtro fantasmagórico, é vista em algumas das tarefas, também presente em cenas de suicídio, além de representar o tal supervisor com quem a garota interage.

Com a narrativa sendo contada por telas, chats e filmagens, muitas vezes usando o Facetime, é preciso um enredo dinâmico com variados recursos. Zaytseva sabe cuidar bem do formato, alternando as cenas pelos diversos acessos de Dana, sabendo assustar com a ameaça de que alguém que ela ama poderá se ferir. Trata-se de um terror teen, contando com a boa atuação de Anna Potebnya e a ousadia de sua personagem. O enredo, de Zaytseva, Olga Klemesheva e Evgeniya Bogomyakova, até empolga, mas não surpreende. Não será preciso muito esforço para entender a raiz do mistério e como tudo irá se concluir, deixando um ou dois furos e clichês pelo caminho e a evidência mais uma vez da incompetência da polícia local.

Sem esperar muito, pode ser que você se divirta com O Jogo da Morte. Talvez o filme pudesse ter um reconhecimento maior, se tivesse sido lançado há uns oito anos, com a popularização desses jogos de indução e desafios. Ao final, fica a mensagem sobre o quanto a internet e os acessos podem ser perigosos, e também sobre a importância de acompanhar os jovens, entender suas angústias, e lhes dar os suportes necessários para que não sejam influenciados por pessoas e coisas erradas. Se você conhece alguém assim, que tal ajudá-lo com a sua atenção?

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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