E se Stephen King fosse realmente o autor de Stranger Things?

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O fenômeno Stranger Things despontou como a “coisa mais estranha” da internet dos últimos anos. De forma positiva, claro. Embebida de anos 80 e referências, a série de Matt e Ross Duffer surpreendeu o público ao apresentar uma história de ficção científica e horror, com muitos mistérios e personagens carismáticos. Foi uma paixão imediata, provocando maratonas para a conclusão rápida dos oito capítulos e muitas discussões nas redes sociais, impulsionando elogios por todos os lados, até mesmo de quem entende do assunto como o autor Stephen King.

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Um dos comentários mais comuns dos fóruns de discussão trazia o nome do rei do horror literário, ao dizer que “Stranger Things era a melhor adaptação de uma obra que Stephen King nunca escreveu.” É claro que a comparação se deve à própria estrutura similar do autor, com algumas coincidências narrativas que poderiam mesmo classificar a produção como fruto de um romance ou conto de King, embora para os leitores mais acostumados com sua literatura algumas mudanças seriam inevitáveis, tendo em vista sua obra e as adaptações. Basta lembrar que muitos consideram as melhores adaptações de Stephen King aquelas que se distanciam do texto original como O Iluminado, por exemplo, como se o Rei tivesse boas ideias, mas elas precisassem ser adequadamente esculpidas para atingir outros formatos.

Com Stranger Things não seria diferente! Vamos imaginar o que aconteceria se Stephen King fosse o responsável pelo texto original? Sem pensar na versão que ele teria escrito, claro, apenas em uma adaptação de Stranger Things para o formato minissérie baseada em uma obra de mais de 1000 páginas escritas por King. Será que teríamos muitas mudanças no tratamento? Permita-me passear pelo conceito…

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A série começaria com um dos meninos com uma idade próxima dos 80 anos (ora, anos 80, lembra-se?) observando um retrato antigo. Poderia ser Morgan Freeman, uma versão adulta de Lucas Sinclair (Caleb McLaughlin), um dos garotos fãs de RPG e aventuras com monstros. Segurando a imagem em que aparecem quatro crianças – quatro meninos e uma garota -, ele diria algo como nunca ter tido momentos mais felizes e assustadores do que aquele que vivera nos anos 80. A história saltaria para o passado, com os jovens, que fazem parte de um grupo com algum nome interessante, brincando de RPG. Após mais uma noite de diversão, já expondo os apelidos que cada um possui, eles iriam para suas casas, apresentando aos poucos alguns dos pais, como um deles – interpretado por David Morse – agindo com violência com o atraso do filho Will Byers (Noah Schnapp).

Na manhã seguinte, o menino não estaria em sua cama, nem apareceria na escola. A polícia iniciaria uma investigação, culpando o pai do garoto pelo sumiço. Os meninos resolveriam procurá-lo por conta própria, conhecendo mais intimamente no processo a estranha Eleven (Millie Bobby Brown), uma garotinha que sofre bullying na região por ser diferente, devido aos poderes geralmente expressados em momentos de raiva. Filha de uma fanática religiosa, ela teria alguma deficiência como um problema de audição que a apontaria como “aberração” pelos garotos do bairro, sem que as pessoas saibam que ela recentemente fugiu de um laboratório onde realizavam testes para mensurar seus poderes, de capacidade de ver o futuro e o passado das pessoas à produção de labaredas.

Haveria um monstro atacando na região, mas muitas pessoas acreditariam que ele seria a própria menina. Com a ajuda da garota, os meninos enfrentariam a criatura até conduzi-la novamente para a dimensão de onde veio. Anos mais tarde, com os meninos na casa dos 30 anos, Will retornaria com a aparência de criança, sendo visto primeiramente por Mike (na fase adulta, interpretado por Adrien Brody). Ele tentaria convencer os demais a voltar ao local pois o monstro aparenta ter voltado com mais força e desejo de vingança. Mas, como enfrentá-lo se Eleven precisou ser sacrificada no passado para mandá-lo para o Além? Talvez precise pedir ajuda para a irmã gêmea dela, uma punk que vive perdida nas ruas.

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Apesar de ser ambientada nos anos 80, não haveria referências à cultura pop apenas à política de Ronald Reagan e seu vice George H. W. Bush e à sociedade da época, com amplo detalhe da pequena cidade localizada no Maine. O livro traria detalhes introspectivos dos garotos, como seus traumas e relacionamentos, além de relatar alguns pesadelos dos meninos. Na cena final, Lucas (Freeman) deixaria uma lágrima escorrer e voltaria para a mesa da cozinha onde dois de seus amigos o estariam aguardando para mais uma partida de pôquer, com a menção dos apelidos ainda intactos.

Na exibição na TV, Stranger Things seria bastante elogiada, principalmente pela direção de Mick Garris, mas haveria concordância sobre o livro ser melhor. Anos depois, quando ninguém mais estivesse lembrando da adaptação, seria anunciado um remake. E a expectativa de que a nova versão não teria o mesmo charme do original, ainda que tivesse mais relação com o livro. E isso seria realmente a coisa mais estranha!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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