Evocando Espíritos 2 (2013)

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Evocando Espíritos 2 (2013)

Evocando Espíritos 2
Original:The Haunting in Connecticut 2: Ghosts of Georgia
Ano:2013•País:EUA
Direção:Tom Elkins
Roteiro:David Coggeshall
Produção:Paul Brooks, Scott Niemeyer
Elenco:Abigail Spencer, Emily Alyn Lind, Chad Michael Murray, Morgana Shaw, Grant James, Katee Sackhoff, Mary Louise Coffee, Lauren Pennington, Sam Polin, Lance E. Nichols

Reza a lenda que Oren Peli sempre teve medo de fantasmas. Certa vez, leu uma notícia no jornal sobre um casal que estaria se mudando de uma casa, alegando que o local possuía espíritos. Imaginou, então, que se ele estivesse no lugar deles, antes de se mudar, colocaria diversas câmeras pela moradia para registrar os fenômenos e finalmente comprovar que o sobrenatural existe. Assim nasceu Atividade Paranormal, oportunamente considerado um filme baseado em fatos reais. Dentro do cinema de horror essa frase é bastante comum no início das produções e até mesmo na capa do DVD ou Blu-Ray como no caso de O Misterioso Assassinato de uma Família, onde se lê também Filmagens reais do assassinato da familia Quintanilla. Na verdade, é uma variação do que acontecia na época dos movie gimmicks, quando William Castle enchia os cinemas de brincadeiras mirabolantes e os trailers com sentenças do tipo: Quando a campainha tocar, feche os olhos se você se impressiona facilmente, O filme que irá te aterrorizar. ou Não veja se tiver problemas cardíacos. Nos anos seguintes era comum encontrar nas capinhas dos antigos VHS alguns avisos sensacionalistas: Filme proibido em mais de 80 países ou, no caso de Cannibal Holocaust, mais controverso e polêmico filme de todos os tempos. São maneiras que o cinema fantástico encontrou para atrair olhares curiosos, mas que nem sempre condizem com o que está sendo anunciado.

Evocando Espíritos segue a linha horror-verdade ainda mais a sério. Não apenas exibe a tal famigerada frase como também mostra nos créditos finais fotos reais, convidando o espectador para conhecer mais a fundo a verdade por trás da ficção. O filme surgiu de uma série exibida no canal Discovery, em 2002, intitulada Haunting, que trazia dramatizações de famílias em contato com fantasmas. Dirigido por Peter Cornwell, o primeiro longa teve bom público nos cinemas, mas arrecadou inúmeras críticas negativas, até mesmo das pessoas que participaram dos fenômenos e consideraram o filme uma visão pobre dos acontecimentos. Só para constar, os roteiristas Adam Simon e Tim Metcalfe se inspiraram no livro In a Dark Place: The Story of a True Haunting, escrito por Ray Garton e publicado em 1992, que conta o pesadelo vivido pela família Snedeker na década de 80 quando se mudaram para uma casa em Southington, Connecticut, para facilitar o acesso ao hospital UConn Health Center, onde o filho de Carmen fazia tratamento contra o câncer. Foram inúmeras experiências estranhas, inclusive com a aparição dos que eles chamaram de demônios: Um deles era muito magro, com as maçãs do rosto salientes, longos cabelos e olhos negros. Outro tinha cabelos e olhos brancos, usava um smoking risca de giz, e seus pés estavam em constante movimento., ela informou a NBC, fazendo com que Ed e Lorraine Warren, casal popular na investigação de fenômenos paranormais, fossem ao local.

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Demorou bastante para produzirem um segundo filme inspirado na série. Na época da produção de Evocando Espíritos, a Gold Circle Films chegou a afirmar que seriam realizados mais dois longas com a proposta, um se basearia num acontecimento na Georgia e outro em Nova Iorque. Se a frase baseado em fatos reais já não fosse suficientemente sensacionalista, o título original exagerou na dose. The Haunting in Connecticut 2: Ghosts of Georgia!! A produção não tem relação alguma com Connecticut ou com a história do primeiro filme, tanto que o documentário original se intitulava A Haunting in Georgia. É óbvio que a produtora quis atrair a atenção do público que viu Evocando Espíritos e gerar uma franquia lucrativa, mas não precisava forçar uma continuação inexistente! No Brasil, não é diferente: a Imagem Filmes nomeou o longa como Evocando Espíritos 2 para uma estreia em 19 de julho de 2013, estabelecendo uma relação inexistente com o primeiro filme.

Evocando Espíritos 2 apresenta a família Wyrick, composta pela mãe Lisa (Abigail Spenser, de Guerra é Guerra), o pai Andy (Chad Michael Murray, de A Casa de Cera) e a filha Heidi (Emily Alyn Lind, de J.Edgar). Eles se mudam para uma casa rural em Georgia para que Lisa consiga esquecer as visões que anda tendo com a falecida mãe. Logo na cena inicial, ela a enxerga num canto do quarto, envolta pela escuridão, dizendo coisas do tipo deixe-os entrar, abra sua mente etc. A nova casa segue o estilo assustador como o gênero pede, e esta ainda possui um brinde: próximo a ela existe um trailer abandonado, onde a pequena Heidi testemunha uma aparição logo que chega à morada. Nem bem se mudam e já são surpreendidos pela chegada da irmã de Andy, Joyce (Katee Sackhoff, de Luzes do Além), que decide ocupar o tal trailer macabro.

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Heidi começa a ter contato com um tal de Sr. Gordy (Grant James, de Acima de Qualquer Suspeita), surgindo como o fantasma de Poltergeist 2. Considerado um amigo imaginário, embora a mãe já note que a filha herdou sua sensibilidade, a tal aparição indica para a família onde há dinheiro na região e dá alguns conselhos para a menina, conquistando a confiança dela aos poucos. Porém nem todos aparecem de modo simpático, como algumas entidades cadavéricas que tentam atrair os moradores para um ambiente misterioso na floresta sinistra. Pesquisas são feitas e a verdade vai surgindo aos poucos: Sr. Gordy foi o último morador da residência, que há muito tempo era uma estação ferroviária cujo chefe era considerado uma boa pessoa por ter salvado muitos escravos, mas foi descoberto e assassinado. Bom, na verdade, existe uma reviravolta nessa história, algo que se for dito será um spoiler e estragará a surpresa de quem ainda não viu o filme. Basta apenas saber que é uma surpresa no estilo O Chamado!

O filme é interessante. Há bons sustos e visões sinistras, numa trama inteligente e bem feita. É claro que há algumas soluções fáceis, típicas do estilo, e um final otimista como do original, porém sua condução acertada, a cargo do estreante Tom Elkins (o nome é sempre associado aos trabalhos de edições de filmes como Luzes do Além, Evocando Espíritos, Possuída e A Aparição), e o elenco esforçado fazem do longa uma produção acima da média. Os clichês do gênero estão lá, sem incomodar, abafados por uma história bem construída e curiosa. Felizmente, os efeitos especiais, em sua maioria, seguem a old school, com maquiagens e bonecos, tendo destaque na sequência final quando aparecem expostos num inferno taxidêrmico.

E o tal baseado em fatos reais? Se você não teve a oportunidade de assistir ao documentário do Discovery – embora seja possível encontrá-lo no youtube -, basta saber que o longa foi acompanhado de perto pela família Wyrick, mas a produção fantasiou muito dos acontecimentos considerados verdadeiros. Aliás, os próprios relatos da família parecem ter sido exagerados, como se quisessem chamar a atenção para a sua história. O que aconteceu em Connecticut é mais passível de ser aceito porque os fatos são justificáveis: eles se mudaram para a nova casa pela proximidade do hospital e acreditavam que as visões que o menino tinha eram frutos dos fortes medicamentos que ele tomava. Já em Georgia não há motivos para eles continuarem no local depois das primeiras aparições, principalmente por elas terem sido testemunhadas não apenas pela menina ou a mãe, mas pela Joyce e Andy.

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Além disso, o documentário consegue ser assustador ao acrescentar sussurros infantis, na narração tétrica de Anthony Call e na cena em que a menina Heidi diz que o Sr. Gordy está ao lado da mãe. A dúvida sobre a existência dele se torna efetiva pelo fato da mãe, assumidamente sensitiva, não conseguir vê-lo, considerando-o apenas um amigo imaginário. A tensão aumenta quando o nome Gordy é associado a um antigo morador e a pequena consegue identificá-lo numa fotografia. Diferente das produções normais, com os pais sempre questionando a existência das assombrações, aqui eles sabem que há algo sinistro no local, algo que se intensifica com a aparição de um homem envolto em sangue, chamado Khan. A verdadeira Heidi também teria sido assombrada por uma Figura Sombria e até exibiria marcas em seu rosto.

Nenhum espírito será evocado no roteiro de David Coggeshall. A produção, obviamente hollywoodiana, segue o estilo Ecos do Além com as aparições clamando para que seus corpos sejam encontrados e haja uma solução para um crime do passado. Apesar da clara sensação de já ter visto esse filme, Evocando Espíritos 2 irá cumprir o prometido, fazendo o público saltar na cadeira e querer saber se ele é realmente baseado em fatos reais.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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