O Lobisomem (1956)

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O Lobisomem (1956)

O Lobisomem
Original:The Werewolf
Ano:1956•País:EUA
Direção:Fred F. Sears
Roteiro:James B. Gordon, Robert E. Kent
Produção:Sam Katzman
Elenco:Steven Ritch, Don Megowan, Joyce Holden, Eleanore Tanin, Kim Charney, Harry Lauter, Larry J. Blake, Ken Christy, James Gavin, Fred F. Sears

Em primeiríssimo lugar é preciso alertar o leitor para não confundir este O Lobisomem com o clássico de 1941, dirigido por George Waggner, que imortalizou o mítico Lon Chaney, Jr., e muito menos com o remake de 2010.

O homônimo aqui é uma interessante produção de baixo orçamento de 1956, dirigido por Fred F. Sears, autor de clássicos de ficção B como Invasão dos Discos Voadores (Earth vs. theFlyingSaucers, 1956) e o inacreditável O Ataque vem do Polo (The GiantClaw, 1957), com seu incrível urubu intergaláctico! Tranqueira esta que, segundo dizem, fez Sears abandonar o cinema, depois de ser engando pelo produtor picareta Sam Kaztman, e se entregar ao alcoolismo. Foi encontrado morto em seu rancho, pelo seu empresário, em 1957. Fred Sears tinha 44 anos, e 54 filmes em seu currículo.

Este O Lobisomem da década de 50 marcou história. Pela primeira vez o lobisomem não tem relação com o sobrenatural, ele aqui é uma criação cientifica, como veremos adiante.

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O filme abre com a imagem de uma rua escura e vazia, ao fundo vemos um homem caminhando. Enquanto este homem caminha em direção à câmera, uma narração em off relata o mito do lobisomem. A voz é do próprio diretor:

A palavra ‘licantropia’ define um humano com o poder de se tornar lobo, ou que tem o poder de transformar outros em lobos. Muitos dizem que a licantropia não é mais que um mito ou superstição. No entanto a crença de que um humano pode se transformar em lobo tem persistido desde a Idade das Trevas até nossos dias. É uma crença universal. Os antigos romanos e gregos escreveram sobre esse fenômeno. Há relatos desses acontecimentos em Bornéu, Turquia, América do Sul. Por todo o lado. A tribo dos navajos e outras tribos contam histórias sobre homens lobos. A lenda tem persistido desde o inicio dos tempos. Por quê? Porque é que essas lendas não morreram? As lendas que dizem que os homens lobos andam pela Terra.

O andarilho se aproxima da câmera e entra em um bar. Entram então os letreiros.

Interessante notar que o filme apresenta a mitologia da licantropia, tal como a conhecemos, para dispensá-la no resto do filme. Um contraponto muito curioso.

O andarilho (interpretado por Steven Rich), além da aparência frágil, sofre de amnésia, não sabendo quem é, e nem onde está. Ela paga um drink com uma nota alta. O que chama a atenção de outro bebum do bar, que vai tentar assaltar o viajante num beco escuro. O viajante, transformado agora num lobisomem, mata seu oponente e foge para a floresta.

O auxiliar do xerife (Harry Lauter) sai no encalço da criatura, até então ele pensa se tratar de um ser humano comum, até ser atacado também, mas é salvo pelo xerife (Don Megowan, completamente inexpressivo), ficando apenas com o braço dilacerado.

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Não demora muito para as estradas da cidade serem bloqueadas. Chamando a atenção da imprensa.

Aos poucos vamos sabendo a história do protagonista, que se chama Duncan Marsh e que teve o azar de sofrer um acidente na estrada, e cair nas mão de dois médicos malucos, o Dr. Morgan Chambers (George Lynn) e o Dr. EmeryForrest (S. John Launer). Esses dois doutores na verdade são cientistas que na verdade buscam um soro contra radiação (uma paranoia muito em moda na época), e usaram o pobre Duncan como cobaia, inoculando nele um soro feito a base de um lobo mutante que morreu de radiação (?!).

Os doutores Morgan e Emery decidem ir até a cidade, para tentar matar Duncan, antes que este recupere a memória e revele a experiência da dupla. Para complicar ainda mais a situação, chegam à cidade a esposa de Duncan, Helen (EleanoreTanin), acompanhada de seu filho, o pequeno Chris (Kim Charney). Ambos em busca de indícios do pai de família desaparecido.

Tudo se encaminha para um desenlace trágico.

Neste filme, um homem comum se transforma em lobisomem graças a radiação – aqui se dispensa até a lua cheia. A transformação se dá em qualquer hora do dia, basta apenas que o indivíduo fique nervoso, como um precursor do Incrível Hulk, que apareceria nos quadrinhos apenas em 1962, seis anos depois desse filme.

O viés científico, até então inédito, seria copiado apenas um ano depois, em 1957, em outra produção B, o clássico tranqueira I Was a Teenage Werewolf de gene Fowley Jr., onde um jovem sociopata (interpretado por Michael Landon), é cobaia de experimentos para diminuir sua rebeldia, se transformando assim num lobisomem adolescente, toda vez que perde a calma.

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O documentário O outro Lado de Hollywood (The Celluloid Closet, 1995) de Rob Epstein e Jeffrey Friedman, sobre gays e lésbicas ao longo da história do cinema, levanta uma teoria de que O Lobisomem teria um subtexto gay. A dupla de cientistas seria um casal, e que ao transformar Duncan em lobisomem, estariam assim destruindo a tradicional família heterossexual. Quanto a esta teoria, embora eu ache exagerada, posso afirmar que achei estranho o plano de Morgan, de criar um soro para que apenas os dois cientistas sobrevivessem num futuro devastado por bombas atômicas.

Essa teoria de mensagem subliminar, francamente homofóbica e obtusa, vai ao gosto do cliente. Podemos mudar a metáfora para a ameaça comunista, neste caso a dupla de cientistas não formaria um casal, mas dois camaradas que ao incutir a licantropia em Duncan, estariam assim destruindo a família americana, detonando assim o núcleo do American Way of Life.

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Devaneios a parte, por outro lado é sugestiva a cena do primeiro assassinato. Na tentativa de assalto, o assaltante pede a vítima retornar com ele para o bar e lhe pagar uma bebida. Logo em seguida os dois acabam lutando. A cena é curiosa, com os dois se engalfinhando deitados no chão, onde vemos apenas os sapatos dos dois, um por cima do outro. Enquanto os dois são observados por uma testemunha, uma velha senhora.

Sem falar que este filme, ao contrário de noventa e nove por cento da produção de horror, só há vítimas masculinas, nenhuma personagem feminina corre risco com este lobisomem. Só me lembro de outro filme que só há vítimas masculinas: The Thing do John Carpenter, mas neste vale ressaltar, não existe personagem feminina alguma.

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Teorias e paranoias a parte, não deixa de ser interessante vermos o filme por esse prisma.

O Lobisomem tinha tudo para virar numa tranqueira risível, mas apesar do baixo orçamento e de algumas falhas (como quando o lobisomem está com a perna ferida, se vê pela calça rasgada que sua pele no local está como a de um homem comum, e não peluda como deveria ser), ele ainda mantém o interesse graças a dois fatores: o primeiro é a direção de Fred F. Sears, que consegue construir boas sequências e o segundo fator é Steven Rich, que está ótimo aqui (é outro que, assim como Sears, deveria ter tido melhores oportunidades em Hollywood), o ator passa toda a dimensão trágica e sofrida de seu personagem, um Bruce Banner que sofre de licantropia.

Interessante notar que o lobisomem aqui, no fim das contas, é a verdadeira vítima, pois todas as pessoas que ele mata aqui foram por legítima defesa.

Longe de ser perfeito, mas também longe de ser banal, este O Lobisomem é uma pérola escondida que merece ser descoberta.

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Paulo Blob

Nascido em Cachoeirinha, editou o zine punk: Foco de Revolta e criou o Blog do Blob. É colunista do site O Café e do portal Gore Boulevard!

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