Um Crime Perfeito
Original:A Perfect Murder
Ano:1998•País:EUA Direção:Andrew Davis Roteiro:Frederick Knott, Patrick Smith Kelly Produção:Anne Kopelson, Arnold Kopelson, Peter Macgregor-Scott, Christopher Mankiewicz Elenco:Michael Douglas, Gwyneth Paltrow, Viggo Mortensen, David Suchet, Sarita Choudhury, Novella Nelson, Constance Towers, Will Lyman |
“Somos suspeitos de um crime perfeito, mas crimes perfeitos não deixam suspeitos…“. Pra ser sincero, a menção de um trecho da música do Engenheiros do Hawaii não tem função alguma que não seja dar um toque nacional à análise do filmaço Um Crime Perfeito (A Perfect Murder, 1998), de Andrew Davis. O longa é uma adaptação livre da clássica peça de Frederick Knott que já havia servido de mote para o excepcional Disque M para Matar, de Alfred Hitchcock. Poderia ser uma refilmagem do longa de 1954, estrelado por Ray Milland e Grace Kelly, porém o roteiro de Patrick Smith Kelly não apenas utilizou o conceito original como fez mudanças significativas e atualizadas, explorando ambientes diversos e a excelente atuação do triângulo composto por Michael Douglas, Gwyneth Paltrow e Viggo Mortensen.
No enredo, o executivo Steven Taylor (Douglas) já tem consciência que sua esposa, Emily (Paltrow), anda tendo um caso com o artista David Shaw (Mortensen). A evidência disso é mostrada na cena em que o traído oferece ao “conhecido de sua mulher” a chance de comprar suas obras e até expô-las numa galeria internacional para surpresa da dupla. Ele combina um encontro com David em seu ateliê e abre o jogo, respondendo a uma possível apelação sentimental: “É sério? Você rouba a joia da coroa da alma de um homem e a sua única desculpa é a existência de um sentimento típico de um cartão Hallmark? Mesmo se fosse verdade, isso não é bom o suficiente!”
Para uma surpresa hitchcockiana ainda maior, o milionário, já com uma crise financeira avançada, faz-lhe uma proposta de cunho irrecusável: ele deve matar sua esposa para receber uma boa quantia em dinheiro. O crime perfeito envolveria um excelente álibi de Steven, em mais uma noite de jogos com os conhecidos, e um plano de invasão que poderia transparecer um violento latrocínio. É essa proposta que difere do texto original, uma vez que Ray Milland chantageava um outro criminoso para a ação drástica, e mantinha o álibi convidando o amante da esposa para jantar fora. Ambas as ideias são bem construídas e trazem perspectivas interessantes de um jogo de gato e rato cheio de armadilhas, mas falho.
Enquanto Steven pensa na possibilidade de embolsar a boa herança da esposa morta, ele nem desconfia que está lidando com um amante que age com segurança em seu plano. Transmite uma sensação de perda, quando desconfia que o plano pode ter funcionado, mas também está disposto a lançar tudo para o alto, em uma nova chantagem e reviravolta. No entanto, Steven é um gênio perspicaz e frio, sempre um passo a frente de seus inimigos, aproveitando a ingenuidade de Emily, tal qual sua versão na pele de Grace Kelly. Em um mundo machista e manipulador, ela difere da original pelos próprios méritos, não necessitando de um apoio policial para encontrar o caminho adequado diante dos obstáculos.
Mesmo não tendo o olhar atento de Hitchcock, hábil no dinamismo de uma câmera com pouco espaço, Andrew Davis (do filmaço O Fugitivo) faz um ótimo trabalho como diretor, facilitado pelo elenco e fotografia. Sua câmera vai além da residência dos Taylors para explorar outros ambientes, o que também contribui para o resultado satisfatório sem muito esforço. E vale mencionar as referências ao filme original, seja na própria escolha do título, oriundo de uma quote de 1954, e na investigação sobre o passado de David, que traz uma foto dele como jogador de tênis, o esporte de Milland. E ainda pode-se somar a essas referências o diálogo inteligente, a disputa psicológica e as reviravoltas, comuns nas tramas do grande cineasta!
Um thriller com boas viradas da trama, Um Crime Perfeito é uma obra de acertos, cenas de tensão e suspense, e muita criatividade. Está disponível na Netflix com o título original, valendo uma conferida.
Revi outro dia mesmo. Filmaço !!!!