A Vila dos Suicídios (2021)

3.7
(9)

A Vila dos Suicídios
Original:Jukai Mura / Suicide Forest Village
Ano:2021•País:Japão
Direção:Takashi Shimizu
Roteiro:Takashi Shimizu, Daisuke Hosaka
Produção: Muneyuki Kii, Harue Miyake, Chikako Nakabayashi, Daisuke Takahashi
Elenco:Yumi Adachi, Hideko Hara, Fûju Kamio, Haruka Kudo, Jun Kunimura, Yuki Kura, Asuka Kurosawa, Kazuya Takahashi, Muga Tsukaji, Anna Yamada, Mayu Yamaguchi

A conhecida Aokigahara ou “Floresta do Suicídio“, situada na base noroeste do Monte Fuji, no Japão, é um ambiente mórbido onde dezenas de pessoas desesperadas anualmente entram para não saírem mais. A própria entrada do “mar de árvores” possui dizeres sobre valorização da vida, com restrição para visitas turísticas e curiosos, como se isso fosse o suficiente para impedir novas ações drásticas. A atmosfera depressiva que a envolve já serviu de mote para diversas produções de drama e horror, mas faltava alguém com a capacidade narrativa de Takashi Shimizu. O responsável pelas franquias Ju-On e O Grito volta a lidar com assombrações desesperadas com A Vila dos Suicídios (Jukai Mura / Suicide Forest Village, 2021), segundo filme da trilogia “Village of Terrors“, iniciada com A Vila dos Uivos (Inunaki mura / Howling Village, 2019) e encerrada com Vila do Medo (Ushikubi Village, 2022).

Como o filme anterior, este aborda lendas assustadoras em vilarejos, aproveitando relatos que compõem o imaginário aterrorizante do local, acrescentando elementos comuns na filmografia do diretor, como fantasmas perturbados e mortos-vivos. A youtuber Akina (Rinka Otani), mesma personagem e atriz do filme anterior, embora não-creditada, está transmitindo ao vivo de Aokigahara para mostrar aos seus fãs que as lendas sobre “entrar para nunca mais sair” do local não são verdadeiras, culminando não exatamente como ela imaginava. Na cena seguinte, Hibiki (Anna Yamada) e sua irmã Mei (Mayu Yamaguch) estão ajudando Akira (Fuju Kamio) e Miyu (Haruka Kudo) com as mudanças para uma nova casa, quando descobrem embaixo dela uma estranha caixa.

Trata-se um material amaldiçoado, com conexão a um dado vilarejo na Floresta do Suicídio, e que traz mau agouro a quem simplesmente manuseá-la. A lenda em questão envolve uma aldeia que abandonava na floresta as pessoas consideradas indesejáveis, e estas formaram uma comunidade onde eram realizados rituais estranhos, como cortar dedos e guardar na tal caixa. Com o tempo, eles se tornaram espíritos vingativos que conduzem a Aokigahara quem adentrar seus limites ou mexer na caixa maldita. Quando o grupo de jovens é tocado por ela, passa a ser vítima de mortes violentas como atropelamento, suicídio e incêndio, além de influenciado por possessão.

Parece simples e interessante, mas o roteiro de Daisuke Hosaka e Shimizu coloca muita gordura desnecessária em sua narrativa para completar sua arrastada uma hora e cinquenta e sete minutos. Para exemplificar, um grupo de amigos online de Hibiki resolve entrar na floresta para conhecer seus mistérios. Além de serem intragáveis, as andanças dos jovens pela região não trazem os arrepios propostos, pelo contrário, e ainda piora quando, depois que o espectador nem se lembra mais deles, eles reaparecem na busca por uma saída. E também pode-se incluir o senhorzinho que passeia de carro nas proximidades e que, apesar de saber de muitas coisas, fica enrolando para dar as respostas que o público e os personagens procuram.

Como se espera de um trabalho de Shimizu, há momentos assustadores, como um que envolve uma visão perturbadora de fantasmas perdidos e os zumbis que mesclaram com as árvores para compor um cenário aterrador – e com ótimos efeitos especiais. São muito bem realizados, mas poucos, assim como os sustos, em um ritmo menos intenso do que o de A Vila dos Uivos. Há algumas “surpresas“, como a relação com traumas do passado, envolvendo obviamente suicídio, sem que traga o impacto dramático que se espera. E também há clichês e algumas doses piegas de sentimentalismo com “fantasma bonzinho” como fora utilizado no longa anterior.

Apesar dos percalços, A Vila dos Suicídios pode valer a sua conferida. Além de ser um trabalho de um cineasta calejado no gênero, traz curiosidades e uma nova visita a um ambiente pessimista, um purgatório cercado por árvores mortas e assombrado por criaturas errantes.

Em tempo, produções com esta temática podem tanto servir de entretenimento aos fãs de horror como gatilho emocional. Se souber de alguém que esteja precisando de apoio psicológico ou você mesmo esteja passando por dificuldades que conduzem a pensamentos negativos, o caminho é o diálogo e o contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida) através do telefone 188. Lembre-se: você não está sozinho e tem uma importância que desconhece. Para mais detalhes sobre o canal de apoio, clique aqui.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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