Vila do Medo
Original:Ox-Head Village / Ushikubi Village
Ano:2022•País:Japão Direção:Takashi Shimizu Roteiro:Takashi Shimizu, Daisuke Hosaka Produção:Muneyuki Kii, Harue Miyake, Chikako Nakabayashi, Daisuke Takahashi Elenco:Kôki, Riku Hagiwara, Keiko Horiuchi, Haruka Imô, Akaji Maro, Satoru Matsuo, Riko, Fumiya Takahashi, Rinka Ôtani |
Takashi Shimizu desenvolveu um multiverso de vilarejos assombrados com a trilogia “Village of Terrors“, iniciada com A Vila dos Uivos (Inunaki mura / Howling Village, 2019), seguida por A Vila dos Suicídios (Jukai Mura / Suicide Forest Village, 2021) e encerrada com este Vila do Medo (Ushikubi Village / Ox-Head Village, 2022). A principal conexão entre os filmes, além de envolverem aldeias-fantasmas, é a youtuber Akina (Rinka Ôtani), que participa das três histórias, encontrando fins trágicos em todas elas – há também o garotinho Ryotaro (Akira Sasamoto), apesar de não ser possível associar o ator aos três filmes, pela ausência de crédito nas produções, ainda que o personagem seja uma breve referência.
E como acontece nos outros dois filmes, o enredo, todos escritos por Shimizu em parceria de Daisuke Hosaka, tem inspiração em uma lenda urbana japonesa. No caso, trata-se de “Gozu” (ou “Cabeça de Boi“), que facilita a criatividade dos narradores pelo fato dela já vir com uma maldição: qualquer um que souber sua história está fadado a enlouquecer e ter uma morte horrível nas mãos dessa entidade. Como há casos distintos que a envolvem, a própria concepção original já se perdeu em teorias, situações que alguém ouviu falar, variações do mesmo tema. É quase como a da Bloody Mary ou Loira do Banheiro, contada no Ocidente. Assim, a amaldiçoada youtuber apresenta a seus espectadores uma visita a um hotel abandonado ao lado de duas amigas, Mitsuki (Riko) e outra garota – fez o mesmo no túnel de A Vila dos Uivos e na floresta do suicídio.
Sangue no corredor, escuridão e um elevador maldito: quem entrar nele é conduzido a outro mundo. A terceira amiga, vestindo uma máscara de boi, é colocada no local, e depois é considerada desaparecida. A adolescente Kanon (Kôki) é alertada pelo amigo chato Ren (Riku Hagiwara) que o tal vídeo da youtuber mostra que a tal jovem da vestimenta é idêntica a ela, iniciando assim o pesadelo da garota ao testemunhar aparições fantasmagóricas à medida em que tenta buscar informações sobre a sua possível doppelgänger. Além de assombrações e o amigo persistente e deslumbrado, a jovem descobre algo sobre seu passado e uma relação com adoração a deuses, um vilarejo sombrio e um buraco.
Dentre as três produções, todas disponíveis na HBO Max, esta é a mais simples. Uma história sem exageros, com pequenos núcleos e poucos personagens e mais fácil de entender. Se os anteriores eram até exageradamente didáticos, repetindo explicações e excessivos flashbacks, Vila do Medo – título nacional preguiçoso – vai direto ao ponto, até porque a narrativa não é tão complicada, como os anteriores que acrescentavam até viagens no tempo. Pela simplicidade, os efeitos especiais não são o principal destaque da produção: não há pessoas mescladas a árvores ou lobisomens. E também há menos elementos assustadores, ainda que traga fantasmas pálidos em um ônibus, crianças com máscaras de bois, e até uma cena em que uma assombração é vista no momento em que a personagem simplesmente coloca a mão sobre a boca.
O diretor da franquia Ju-On mostra mais uma vez que entende de fantasmas e sabe usá-los bem, mesmo que a trama não seja um primor. Seu retorno ao mundo dos espíritos nessa trilogia até diverte pela curiosidade que envolve lendas urbanas não tão populares por aqui, mas que perturbam a juventude do oriente. Das três, a melhor é a do vilarejo uivante, seguido por esta e deixando para o último posto os irritantes adolescentes de Aokigahara. Só de pensar que eles podem estar rondando ali já me traz arrepios!