Horas de Horror (2005)

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Horas de Horror
Original:The Dark Hours
Ano:2005•País:Canadá
Direção:Paul Fox
Roteiro:Wil Zmak
Produção:Brent Barclay
Elenco:Kate Greenhouse, Bruce McFee, Jeff Seymour, David Calderisi, Trevor Hayes, Gordon Currie, Iris Graham, Dov Tiefenbach, Aidan Devine

Ao interpretar uma maldosa sinopse desta maneira: “Uma assassino com um tumor no cérebro mantém em cativeiro três pessoas e as submeterá a uma série de jogos onde morrer é a melhor opção“, eu estaria comparando esta produção canadense a Jogos Mortais, que à época de seu lançamento era um dos filmes de horror mais surpreendentes já realizados. Isto significa que há uma tendência a colocar o filme para assistir com um saco de pedras do lado da poltrona, pronto para detonar com qualquer comparação: o oportunismo da direção, a falta de criatividade e mais uma tonelada de coisas que poderiam colocá-lo como um grande desperdício de tempo.

Entretanto venho aqui para trazer boas notícias, pois embora este resumo basicamente seja verdadeiro, é apenas nisto que Horas de Horror se assemelha ao seu primo mais famoso. Não é uma cópia descarada e muito menos o assassino deste aqui tem qualquer semelhança com Jigsaw. Na realidade é um thriller muito interessante, bem dirigido e interpretado, com reviravoltas muito bem boladas e que mexe muito com a cabeça do espectador, seja na forma de um roteiro bem trabalhado ou criando um excepcional clima de tensão.

É difícil escrever um resumo do roteiro sem entregar algum fato que seja significante para a conclusão do filme, mas vou fazer o possível para que isso não aconteça. O ideal mesmo para curtir plenamente a projeção é que você assista sem saber detalhes demais sobre a história, pois o mínimo além do necessário pode estragar a surpresa, portanto estejam avisados.

Samantha Goodman (Kate Greenhouse) é uma renomada médica que trabalha em uma instituição para doentes mentais perigosos, ela é muito focada em seu trabalho e tem um tipo raro de tumor no cérebro. Porém, agora ela tem um caso difícil em mãos: Donald Weckman (Bruce McFee, Terra dos Mortos), um perigoso psicopata está preso nesta instituição há quinze anos e, mesmo afirmando que não é um maluco como os outros do lugar e que deve ser solto ou ao menos transferido para uma prisão comum, não passa nos critérios de avaliação psicológica de Samantha.

Durante a última sessão de análise, Harlan perde a cabeça com Samantha e parte para cima dela, mas consegue ser pego e é mantido sedado. Por causa deste último caso, o chefe da doutora solicita que ela tire o fim de semana de folga, a fim de relaxar e aliviar o estresse. A princípio ela pensa em chamar o marido escritor David Goodman (Gordon Currie, Sexta-Feira 13: Parte VIII), para um passeio em Vegas, mas ele está ocupado demais, pois tem um prazo entregar seu último trabalho para a editora, portanto pretende passar este tempo em uma cabana isolada. Para ajudá-lo pretende levar a irmã adolescente de Samantha, Melody (Iris Graham, O Exorcismo de Emily Rose) a fim de ajudar nas pesquisas. Claro que Samantha vai ao encontro do marido, mesmo que ele não saiba, afinal o principal motivo para que ela precise encontrar David é para falar sobre seu tumor no cérebro que está crescendo progressivamente.

Chegando à cabana, ela encontra seu marido, sua irmã e o cachorro Bruiser, todos prontos para que ela dê a trágica notícia, mas primeiro vai ao subsolo da cozinha acender o aquecedor. Samantha vê um carrinho de neve se aproximando da cabana. Ela volta sem dar muita bola e um tempo depois conta sobre o tumor. David é um pouco mais racional, mas Melody reage mal e começa a chorar o que faz com que Samantha se irrite e se tranque no banheiro, onde tem uma tontura passageira.

Após sair do banheiro, os três ouvem o cachorro latir, pois alguém está batendo a porta. É um rapaz chamado Adrian (Dov Tiefenbach, Jason X), que estava em uma casa próxima aguardando alguns amigos, mas nenhum deles veio e seu aquecedor estava ligado. David reluta para que o rapaz entre, mas cede após o pedido de Samantha. Como estamos carecas de saber, deixar um estranho entrar em sua casa no meio do nada e à noite não é uma coisa inteligente de se fazer. Adrian não é exceção à regra e dá um tirombaço na fuça do cachorro e mantém os três na cozinha como reféns.

O que aparentava ser uma tentativa de assalto normal, começa a se complicar quando aparece o comparsa de Adrian, Harlan Pyne (Aidan Devine, Marcas da Violência), que foi um ex-paciente psicótico da doutora Samantha e que pelo visto também não era chegado aos seus critérios de avaliação psicológica. Agora Harlan pretende fazer o mesmo tipo de testes nos três cativos.

E, digamos, os jogos começam. Falar muito sobre eles seria um spoiler imenso, portanto basta saber que estes ‘jogos‘ não são o foco principal, nem o melhor atrativo que o filme proporciona: na verdade o filme mantém esta interação forçada apenas como um estopim para algo muito maior. Outra coisa é que não se tratam de armadilhas engenhosas em desafios quase impossíveis; na verdade, tecnicamente, são tão corriqueiros que você mesmo pode fazer em casa. Vão desde um inocente “strip-fone” até a clássica brincadeira de criança “verdade ou desafio“, claro que com as regras um pouco mais intensas do que você conhece, mas por aí já dá para ter uma ideia do que vem pela frente. E é só, mesmo correndo o risco de ser redundante nesta afirmação, repito que entregar mais é estragar revelações que funcionam muito bem e te fazem pensar, o que eu achei muito bacana.

Horas de Horror é um filme que tem uma característica que eu gosto muito: te faz pensar até o fim. E mesmo quando termina, você elabora sua própria versão para a conclusão, sem deixar pontas soltas demais ou excessos de incoerências. O engraçado foi que eu comecei assistindo crente que veria um filmeco daqueles que você não dá a mínima quando acaba. Verdadeiramente começa assim, lento e linear até quase a metade, chegando a ponto de bocejar. Mas isso é feito de propósito, pois as idas e vindas no tempo e as revelações vão envolvendo o público e tornam a experiência cada vez mais intrigante.

Os aspectos técnicos também são excelentes: a fotografia e os cenários muito bem executados mostram lugares limpos, que contrastam com a sujeira da violência física e psicológica que ocorre na tela. Por exemplo, os tons do branco impoluto do hospital e da floresta morta coberta pela neve. O vermelho e o marrom predominantes na cabana e é claro a escuridão quando as coisas começam a esquentar. A direção de Paul Fox aliado com o roteiro bem montado de Wil Zmak colocam as personagens em um ambiente claustrofóbico e situações ameaçadoras, minuciosamente montado com planos de câmera bem trabalhados, em especial nas cenas das vozes e delírios de Samantha, com diversos closes e o uso de espaços vagos em silêncio que ajudam a aumentar o suspense.

E é claro, tudo isto não teria impacto suficiente se não houvesse bons atores, pois eles entregam personagens não apenas convincentes, quanto geram uma relação de empatia para com o espectador. Todos eles interpretam muito bem, mas o destaque de longe é Kate Greenhouse, que consegue passar uma sensação de frieza em certos momentos que estragaria a surpresa se contasse, mas é assustadora e vale a pena.

Finalizando, Horas de Horror é um terror psicológico de primeira linha, que não faz feio, e é prova de que o Canadá pode apresentar coisas melhores que hockey, Bryan Adams ou Celine Dion (hehehe, brincadeirinha). Portanto, se é de sangue com cérebro que você gosta, aqui tem um prato cheio, esqueça qualquer tipo de comparação e divirta-se.

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Gabriel Paixão

Colaborador e fã de bagaceiras de gosto duvidoso. Um Floydiano de carteirinha que tem em casa estantes repletas de vinis riscados e VHS's embolorados. Co-autor do livro Medo de Palhaço, produz as Horreviews e Fevericídios no Canal do Inferno!

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