Imaginário – Brinquedo Diabólico (2024)

3.8
(5)

Imaginário - Brinquedo Diabólico
Original:Imaginary
Ano:2024•País:EUA
Direção:Jeff Wadlow
Roteiro:Jeff Wadlow, Jason Oremland, Greg Erb
Produção:Jason Blum, Paul Uddo, Jeff Wadlow
Elenco:DeWanda Wise, Taegen Burns, Pyper Braun, Betty Buckley, Tom Payne, Veronica Falcón, Samuel Salary, Matthew Sato, Alix Angelis

“Ele sempre está com fome.”

A realidade e a imaginação são separadas por uma linha tênue que envolve inocência e criatividade. E é por isso que o terreno se torna mais fértil e inventivo na infância, quando as crenças em seres fantásticos, amigos imaginários e heróis são permitidas, sem que você precise de um acompanhamento psicológico. Crianças possuem a chave de acesso ao Mundo da Imaginação, o que a psicologia chama de “paracosmos“, e o acesso se faz através da mente, conduzindo a um local onde tudo é possível, como ter poderes especiais e brincar para sempre. Pelo menos, é o que acreditamos quando deixamos nossos pequenos dar asas ao impossível, dialogando com bonecos ou dando xícaras de chá a ursinhos. Contudo, em Imaginário: Brinquedo Diabólico, a brincadeira pode se tornar perigosa e a conexão a esse universo fantástico pode ser oriunda do medo.

Essa é a nova aposta da Blumhouse, a mesma produtora por trás de outros “brinquedos” malditos como M3GAN (2022) e Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim (2023). Desta vez, a relação é maior com a infância, no resgate às memórias deixadas para trás no amadurecimento. E uma boa forma de abordar essas lembranças se faz pelos bonecos de outrora, os velhos companheiros de aventuras imaginativas que ajudaram a construir um período saudável de criação e brincadeiras inocentes. Imaginário: Brinquedo Diabólico vem para perturbar esse porto seguro, explorando traumas e um passado mal resolvido.

Dirigido por Jeff Wadlow, de Verdade ou Desafio (2018) e A Ilha da Fantasia (2020), a partir de um enredo co-escrito por ele, Jason Oremland e Greg Erb, o filme tem um pontapé inicial assustador: Jessica (DeWanda Wise) está sendo perseguida por uma aranha gigante, com a aparência de seu pai Ben (Samuel Salary), pela velha casa de sua infância – um pesadelo recorrente, inspirador de suas produções literárias infantis de sucesso, e que talvez possa encontrar um fim em sua intenção de retornar ao passado. Com o apoio de seu marido Max (Tom Payne), ela ainda tem como desafio conquistar as filhas dele, a “aborrescenteTaylor (Taegen Burns) e a graciosa Alice (Pyper Braun), que não tem boas recordações de sua insana mãe biológica.

Assim que chegam ao velho endereço, pouco tempo atrás habitado pelo pai de Jéssica, agora internado em um hospital psiquiátrico, encontram paredes pintadas com artes infantis e ambientes que permitem ouvir conversas em outros cômodos. Sussurros convidam Alice a visitar os porões, onde caixas de lembranças em um espaço empoeirado escondem em um local secreto um ursinho com a cabeça levemente torta. Chauncey passa a ser o melhor amigo da garota, alguém com quem ela confidencia suas preferências e compartilha brincadeiras. Mas, como se nota, não se trata de um simples amigo imaginário, principalmente quando a pequena começar a emular a voz do boneco e a realizar uma série de tarefas para ter acesso a um lugar encantado e incrível.

Aos poucos Chauncey e Wadlow apresentam um horror crescente e ameaçador. Quando Max precisa se ausentar para trabalho com sua banda, Jéssica percebe que é o momento de provar a seu marido e a ela mesma sua capacidade de assumir um papel de mãe, conquistando-as à medida em que as protege. Contudo, ela também teve uma infância mal explicada, envolvendo sumiço repentino, corte no braço e afastamento de seu pai. A busca por essas recordações talvez traga algumas respostas e até uma forma de evitar que Alice seja mais uma vítima dessa terrível entidade, camuflada de brinquedo infantil. Ou se trata apenas de uma imaginação fértil?

Com sustos intensos, aparições pelos cantos, vozes e uma atmosfera de insegurança, Imaginário: Brinquedo Diabólico, que está chegando aos cinemas hoje, flerta com o medo e o fantástico. Com assombrações bem caracterizadas, há momentos ali que despertam calafrios a partir de ambientes escuros e um horror sugestivo, assim como outros que assombram pelas criaturas que circundam a narrativa. Além de funcionar como um filme de terror simples, sem grandes pretensões, ele também traz reflexões sobre a infância e momentos esquecidos, sobre proteção e cuidado. Pode ser que seus excessos incomodem, principalmente no último ato, assim como as tentativas de surpreender o espectador, mas ainda assim vale a pena conhecer Chauncey, desde que você não o encontre com fome.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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