Fique Acordado (2023)

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Fique Acordado Original:Double Blind Ano:2023•País:Irlanda Direção:Ian Hunt Duffy Roteiro:Darrach MacGarrigle Produção:Simon James Doyle, Patrick Ewald, Patrick O’Neill, Juliane Wothe Elenco:Millie Brady, Pollyanna McIntosh, Akshay Kumar, Diarmuid Noyes, Brenock O’Connor, Abby Fitz, Shonagh Marie, Frank Blake

“This can’t be good for us. We sleep for a reason, right? We’re meant to sleep.”

Um ensaio clínico randomizado duplo-cego é aquele em que nem o examinador nem o examinado possuem ciência da variável que está sendo estudada no momento, o que diminui a possibilidade de erros (vieses) de seleção no processo. Isso aumenta a acurácia do estudo, sendo o método padrão de avaliação das intervenções terapêuticas e o que possui a maior relevância estatística. No entanto, existem muitas questões nebulosas envolvendo a confecção de estudos científicos, principalmente motivações inescrupulosas de patrocinadores das pesquisas e conflitos éticos sobre a segurança dessas pesquisas. É justamente sobre essa temática que trata Double Blind, produção irlandesa de 2023 baseada na famosa creepypasta The Russian Sleep Experiment.

A gigante farmacêutica Blackwood está realizando testes iniciais sobre os efeitos de uma droga misteriosa. Em sérias dificuldades financeiras, Claire (Millie Brady, Pride and Prejudice and Zombies) e outros participantes se voluntariam para testar os efeitos desse medicamento, sendo confinados em um complexo isolado. O principal efeito colateral apresentado pelos pacientes é a insônia, o que leva os pesquisadores a oferecerem um grande bônus para aqueles que conseguirem ficar acordados até o final. No entanto, quando o primeiro participante enfim pega no sono, fica claro que adormecer não é uma opção.

Feito para ser um A Hora do Pesadelo com contornos científicos, Fique Acordado agrada principalmente pela constante tensão, competentemente construída pelo diretor Ian Hunt Duffy. A incômoda sensação de ter que resistir ao sono a todo momento, tão comum nos filmes estrelados por Freddy Krueger, deixa o espectador pregado na cadeira durante seus rápidos 90 minutos. As cenas de morte também são bem interessantes, com destaque para uma que envolve um elevador que não é elevador, e outra dentro de um banheiro.

O que me incomodou um pouco foi a sinalização de um possível envolvimento sobrenatural, principalmente na figura da Dra. Burke (Pollyanna McIntosh, The Walking Dead), que nunca é plenamente desenvolvido, se limitando aos devaneios de Amir (Akshay Kumar, Star Wars: The Last Jedi). O final, que aponta para um confronto contra o capitalismo representado pelas grandes empresas farmacêuticas, acaba sendo um pouco anticlimático (e indicando uma desnecessária continuação).

Uma curiosidade é que em nenhum momento são realizados estudos duplos-cegos aqui. O ensaio clínico conduzido no filme se enquadra na chamada fase 1, em que se administram medicamentos para voluntários de forma aberta e não-randomizada, apenas para verificar os possíveis efeitos colaterais em indivíduos sãos. O chamado cegamento começa na fase 2, onde um grupo receberá a droga propriamente dita e o outro grupo receberá apenas placebo.

Creio que o filme se beneficiaria se gastasse um pouco mais de tempo desenvolvendo seus personagens e um tantinho de esmero nos conceitos técnicos não faria mal (a explicação do porquê não se pode dormir até dói os ouvidos). Apesar de tudo isso, Fique Acordado é uma produção interessante. Mesmo não sendo o novo A Hora do Pesadelo, vale uma conferida despretensiosa num domingo à noite, seja pelo ritmo frenético ou cenas de morte realmente sangrentas.

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