4.6
(5)

O Homem dos Sonhos
Original:Dream Scenario
Ano:2023•País:EUA
Direção:Kristoffer Borgli
Roteiro:Kristoffer Borgli
Produção:Lars Knudsen, Ari Aster, Tiler Campellone, Jacob Jaffke, Nicolas Cage
Elenco:Nicolas Cage, Julianne Nicholson, Michael Cera, Tim Meadows, Dilan Gelula, Dylan Baker.

Esta é uma comédia estranha e um tanto bizarra, onde um pai de família, um homem sem nada de especial, começa a aparecer nos sonhos de milhões de pessoas, sem nenhuma explicação. O fenômeno rapidamente o torna famoso e conhecido no mundo todo, o que traz grandes mudanças para sua vida.

Inicialmente, Paul Mathews (Nicolas Cage), um professor universitário e pai de duas filhas, ainda sem entender direito por que está entrando nos sonhos de pessoas desconhecidas e algumas conhecidas, como sua filha mais nova Sophie (Lily Bird), começa a embarcar no fenômeno, aproveitando (ou buscando aproveitar) de sua fama súbita. Mas a fama, assim como suas aparições oníricas, começa a tomar rumos inesperados.

O Homem dos Sonhos (Dream Scenario) é uma produção com um humor ácido que pesa mais no bizarro da situação e, principalmente, nas reações das pessoas (e da sociedade em geral) para o fenômeno insólito. Esse humor vai tomando curvas mais sombrias e amargas no desenrolar da trama, e fica difícil não perceber todo o paralelo que o diretor Kristoffer Borgli (também o roteirista) faz com a ascensão meteórica à fama,  comum nos tempos contemporâneos de mídias sociais, e também como as pessoas não estão preparadas para tal, fazendo escolhas e tomando atitudes erradas e sofrendo as consequências.

Paul Mathews, a princípio, acredita que tudo que está acontecendo é uma oportunidade, uma “porta aberta” para que ele finalmente consiga realizar seus projetos ou a chance que estava esperando aparecer para publicar seu livro (que ele não escreveu) ou para trazer o reconhecimento que ele merece (ou acredita que merece). Até sua esposa Janet (Julianne Nicholson) acaba sendo agraciada pela fama do marido, em seu trabalho, por motivos sem nenhuma relação com sua capacidade ou competência, apenas por ser a esposa do famoso homem que aparece nos sonhos.

Todo o barulho da coisa, o “homem do momento”, é mostrado pelas reações das pessoas, com situações ridículas e absurdas, mas totalmente realistas e possíveis, como a empresa que pretende usar a fama de Mathews para anunciar refrigerante (por que não?) e até mesmo a aparição bizarra de uma pessoa fantasiada como Mathews (que vamos lembrar é um homem branco de meia-idade absolutamente padrão e mediano) na noite de Halloween.
E então, do mais absoluto nada, assim como começou, o “fenômeno” muda radicalmente, criando mais uma virada na vida do pobre professor. Novamente, é mais um paralelo com a fama e as guinadas inexplicáveis que ela dá ou como o público vê e reage aos famosos.

Cage apresenta uma interpretação formidável de uma pessoa nada formidável. Muito pelo contrário. A ideia é mostrar uma pessoa mediana, medíocre e que não consegue entender o que fazer e que faz todas as escolhas ruins nas situações que acaba se metendo. Não é um humor escrachado e exagerado, mas com muito realismo, beirando o sombrio e em diversos momentos, o incômodo. Segue mais a linha que mostra o que aconteceria de verdade se algo absurdo acontecesse na vida real. Não seria nada legal.

O filme vai num crescendo de surreal e desconforto, mas é espetacular no seu desenvolvimento. Vamos conhecendo cada vez melhor o protagonista e sua vida, mesmo ela sendo bastante sem graça, ao mesmo tempo que vamos acompanhando os desenrolares patéticos e idiotas de suas tentativas de lidar e aproveitar com a pretensa fama.
O desconforto e o incômodo que o espectador sente com as desventuras e situações de Paul Matthews vai aumentando no desenrolar da trama, não muito em conta da parte estranha dos sonhos, mas pela avalanche de infortúnios que cai sobre ele. Certo, alguns são consequências e causados pelo próprio personagem, falho em essência e perdido em vários momentos. Mas, em muitos casos, ele apenas sofre inocentemente reações sociais das quais ele não tem a menor culpa.

O Homem dos Sonhos é anunciado como uma comédia, mas não se deve esperar sair do cinema rindo despretensiosamente. É um filme que tem um humor estranho e pesado, que pode causar questionamentos sobre como reagimos a questões relativas à fama e à infâmia, como esquecemos de perguntar e nos ater a coisas básicas e relevantes e acabamos simplesmente reagindo e estímulos que são jogados em nossa cara, no nosso dia a dia. E como a fama pode não ser exatamente aquilo que imaginamos.

N.E. Há uma similaridade dessa história com um caso “real” ocorrido em 2006, a partir da criação da publicitária Andrea Natella. Foi registrado em Nova York uma situação que envolvia mais de 3000 pessoas alegando estarem sonhando com uma pessoa desconhecida. A lenda viralizou em 2009, até que Andrea admitiu que se tratava de uma campanha. 

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