O Chamado 2 (2005)

3.7
(3)

O Chamado 2 VERSUS Ringu 2

Atenção: SPOILERS! Não leia este texto se não tiver visto O Chamado 2 e Ringu 2!

Sou um dos fãs da continuação oriental de Ringu, o polêmico Ringu 2, que deu um nó na cabeça de muita gente ao apresentar complicadas teorias científicas e até uma amalucada experiência para dispersão dos poderes malignos de Sadako no mar. Mesmo não concordando com tudo que a seqüência japonesa mostra (nunca engoli a informação de que Sadako viveu não só sete dias, mas a vida inteira no fundo do poço, por exemplo), é inegável que Ringu 2 é um filme muito mais rico e interessante que O Chamado 2. Ainda mais porque a seqüência americana se resume a uma trama banal sobre possessão.

Para começar a análise dos dois filmes, acredito que um dos grandes problemas da continuação americana é trazer de volta a dupla principal do primeiro filme, Rachel Keller e seu filho Aidan. Com isso, qualquer possibilidade de criar um novo mistério se dilui (lembre-se que mãe e filho já enfrentaram Samara em O Chamado e já sabem praticamente tudo o que precisam saber sobre ela). Pessoalmente, prefiro a solução encontrada pelo roteiro de Ringu 2, que transforma personagens secundários do primeiro Ringu em personagens principais, colocando-os para fazer uma nova investigação sobre os mistérios do filme original. No caso, Mai Takano, a namorada do falecido professor Ryuji Takayama (o equivalente ao videomaker Noah no remake americano), alia-se a um jornalista que era colega de trabalho de Reiko (a Rachel japonesa) para descobrir o mistério por trás da morte de Ryuji e do desaparecimento de Reiko.

Se utilizasse esta mesma linha narrativa, ou algo semelhante, O Chamado 2 teria pelo menos o frescor de apresentar algo novo, considerando que os dois personagens não sabiam nada sobre Sadako ou sobre a maldição, tendo que descobrir tudo por conta própria. E, novamente, em Ringu 2 havia a contagem de sete dias, com os personagens condenados a morrer, a não ser que descubram uma forma de deter Sadako de uma vez por todas. Isso não existe no roteiro de O Chamado 2, onde o que parece é que Rachel tem todo o tempo do mundo para investigar o passado de Samara e descobrir uma forma de detê-la, tirando qualquer suspense que a situação poderia render se, de alguma forma, os personagens principais estivessem novamente amaldiçoados – e por isso eu acredito que o melhor era criar novos personagens, utilizando Rachel e Aidan como personagens secundários, exatamente como fizeram em Ringu 2.

Além disso, a trama de O Chamado 2 deixa de enfocar a maldição de Samara (que em Ringu 2 continuava se espalhando e fazendo vítimas) para centrar o foco na possessão de Aidan por Samara. Na continuação japonesa, até temos algo parecido: Yoichi, o filho de Ryuji e Reiko, herdou do pai diversos poderes paranormais. Influenciado por Sadako, e pela perda prematura do pai e da mãe, Yoichi começa a usar seus poderes para o Mal – como a própria Sadako. Isso abria as portas para que a menina voltasse ao mundo no corpo do próprio Yoichi, o que levou os cientistas a tentar aquele experimento de eliminar a energia negativa de Sadako na água do mar, no final da seqüência japonesa.

Ringu 2 (1999) (4)

Mesmo que tenha partido para este lado, Ringu 2 nunca abandonou a trama primordial, aquela de que a maldição de Sadako continuava se espalhando. Porém, isso aconteceu em O Chamado 2, eliminando parte do charme da continuação americana. Para piorar, O Chamado 2 tenta passar a ideia de que o objetivo de Samara nunca foi realmente espalhar maldições ou matar pessoas: ela queria simplesmente um corpo de criança para possuir e voltar a viver uma infância normal, coisa que nunca teve porque sempre fez mal às outras pessoas, de propósito ou não.

Porém, o clímax de O Chamado 2 e Ringu 2 é idêntico, com Reiko/Rachel voltando ao fundo do poço onde Sadako/Samara morreu, e sendo perseguida pela menina-fantasma ao escalar as paredes do poço. O filme japonês fez isso sem a necessidade de abusar dos efeitos especiais, como fez a produção americana, que deu super-agilidade a Samara. Mas é inegável que as duas cenas são assustadoras e têm sua dose de suspense. Em Ringu 2, a perseguição encerrava com a participação do espírito de Ryuji, o ex-marido morto de Reiko, no fundo do poço. Nada disso acontece em O Chamado 2, porque os americanos aparentemente odeiam este tipo de coisa e gostam de tudo bem explicadinho – e como explicar a participação de um personagem morto no filme anterior???

Além disso, o roteiro dos dois filmes tem em comum a investigação, que leva seus personagens de volta aos cenários do primeiro filme. Em Ringu 2, Mai Takano e Yoichi acaba visitando novamente a ilha onde Sadako e sua mãe viveram, e para onde Reiko já havia ido no Ringu original. Em O Chamado 2, é a vez de Rachel retornar ao Rancho Morgan, que ela já havia visitado no primeiro O Chamado. Entre as loucuras de um e a historinha sem graça de outro, ainda fico com a sequência japonesa, que pelo menos tem o mérito de ser criativa sem soar pedante, e sem precisar recriar cenas inteiras do original para assustar, como faz O Chamado 2. Além do quê, o roteiro bobinho sobre possessão simplesmente não convence, e havia várias formas dos produtores continuarem a história do original de uma forma mais criativa e interessante.

A impressão que fica, no fim, é que tanto o roteirista americano Ehren Kruger quanto o diretor japonês Hideo Nakata, os responsáveis por O Chamado 2, se inspiraram menos em Ringu 2 e mais em Dark Water, um drama sobrenatural japonês que o próprio Nakata dirigiu em 2002, mais uma vez baseado em romance de Kôji Suzuki, o mesmo autor dos livros que deram origem à série Ringu. Em Dark Water, uma mãe solteira e sua filha se mudam para um apartamento de um prédio antigo, onde presenciam diferentes fenômenos ligados à água (mais ou menos como em O Chamado 2), até descobrirem que existe uma menina fantasma rodeando o local. Porém, a fantasminha não quer matar ninguém: ela quer apenas o amor de uma mãe (EXATAMENTE como em O Chamado 2).

Nakata chega a recriar, em O Chamado 2, uma cena inteira de Dark Water, quando Samara sai da banheira para atacar Rachel (algo semelhante acontecia no outro filme de 2002), além da cena em que a água escorre pelo teto do banheiro, que também está em Dark Water. Será que o diretor não se enganou e acreditou ter sido contratado para fazer o remake de Dark Water, e não de Ringu 2?

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Felipe M. Guerra

Jornalista por profissão e Cineasta por paixão. Diretor da saga "Entrei em Pânico...", entre muitos outros. Escreve para o Blog Filmes para Doidos!

9 thoughts on “O Chamado 2 (2005)

  • 29/08/2016 em 18:37
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    porque duas caveiras achei injusto eu acho
    que pela historia essa seria a continuaçao mas certa como o segundo filme eu adorei o filme

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  • 10/07/2016 em 23:52
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    eu não curti muito o chamado 2 por não ser a mesma garota samara e tambem por a maquiagem desta nova atriz não ser legal como do primeiro filme, a maquiagem desta atris foi tão mau feita que já da para perceber que é outra atriz. A já iria me esquecendo!, bom a unica coisa que gostei deste filme foi a samara não ter amostrado tanto o seu rosto para ninguém criticar a maquiagem mau feita!

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  • 10/12/2014 em 10:52
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    Um filme não precisa ser uma “cópia” do original para ser bom. Eu gostei dos dois chamados. Não digo qual o melhor porque faz tempo que eu assisti, então não me lembro detalhadamente. Mas sobre a água, pra mim funciona porque dá aquela sensação de sufocamento, especialmente porque eu não sei nadar, haha

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  • 29/10/2014 em 21:52
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    ola eu gosto dos remakes, nunca vi os japoneses,só uma curiosidade, por acaso, O Grito é do msm diretor ou não,pois a tematica parece meio igual,tirando a agua!!!

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      30/10/2014 em 10:28
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      Não é o mesmo diretor, Matthy. Quem dirigiu O Grito foi o Takashi Shimizu, e quem dirigiu O Chamado 2 foi o Hideo Nakata.

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  • 03/04/2014 em 12:56
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    Enquanto eu assistia o filme eu sempre me perguntava….”e se o individuo assistir essa fita em um local sem telefone?????” hehehe tenso.

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    • 10/12/2014 em 10:46
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      Eu tbm me perguntava isso sempre hahahahahahahahaha

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  • 08/01/2014 em 23:30
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    duas caveiras tá bom mesmo,mas esse filme é legalzinho.

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