O Pesadelo
Original:The Nightmare
Ano:2015•País:EUA Direção:Rodney Ascher Roteiro: Produção:Ross M. Dinerstein, Glen Zipper Elenco:Siegfried Peters, Yatoya Toy, Stephen Michael Joseph, Elise Robson, Nicole Bosworth, Age Wilson |
O medo costuma ser trabalhado de diferentes formas pelo cinema de horror. Desde temáticas com casas assombradas, possessões demoníacas, zumbis e até assassinos psicopatas mascarados. Dentro desta leitura, o cinema de horror, assim como o de aventura, comédia e romance, além de outros gêneros, é naturalmente formado por diferentes subgêneros. Cada um destes vai ter características próprias dentro de questões narrativas e de estilo.
Mas independente do subgênero, a narrativa fílmica segue uma padronização para que o produto fílmico seja reconhecido e consumido pelo público. Esta formatação geralmente começa apresentando histórias e personagens dentro de uma harmonia. Algo então acontece dentro da trama para estabelecer uma desarmonia. Ao final deve haver uma nova harmonia. No caso do filme de horror, é fácil apresentar este exemplo quando temos, no caso do slasher, um grupo de jovens curtindo a vida (harmonia). De repente surge o assassino que vai matando todos os coadjuvantes por determinado motivo (desarmonia). Ao final, a final girl e algum mocinho sortido vão matar o vilão e sobreviverem (nova harmonia). Ou mesmo quando o vilão vence o embate, é possível falar de uma nova harmonia já que não necessariamente precisamos ter o final feliz dentro da trama.
O que acontece então quando esta lógica narrativa é deixada de lado para apresentar um medo mais próximo da realidade? Esta é a proposta do filme O Pesadelo (The Nightmare, 2015), que parece muito mais com um Globo Repórter do que com uma película de horror. O Pesadelo resulta em um dos filmes mais assustadores dos últimos tempos unicamente por parecer ser o mais próximo possível da realidade, algo que muitas obras do gênero acabam esquecendo de fazer para apostar em sustos fáceis.
O Pesadelo narra um fenômeno real e bastante assustador que é o da paralisia do sono. O fenômeno é comprovado pela medicina e responde como um acontecimento que causa muito espanto e vários mitos e consiste em uma condição caracterizada pela paralisia temporária de todo corpo, que acontece imediatamente após o despertar, ou mais raramente, logo após adormecer.
De forma bem direta, é como se a pessoa acordasse, já que ela abre o olho e tem consciência, mas parte do cérebro ainda permanece “adormecida”, o que faz com que o corpo não responda aos estímulos do movimento. Em outras palavras, é o ato de acordar, mas sem poder se mexer. O processo é muito rápido, durando cerca de cinco ou dez segundos, mas assustador o suficiente para quem vivencia. E para completar, a paralisia acontece na maioria dos casos no meio da noite e não já de manhã.
Alguns relatos de pessoas que já passaram por este tipo de experiência afirmam que alem da paralisia, era possível ver estranhas sombras próximas da cama. O que são? O que querem? Este é o terreno que o diretor Rodney Ascher, responsável pelo documentário Quarto 237 (de O Iluminado), decide explorar. E para fazer isto, ele utiliza uma forma no mínimo curiosa de abordar esta temática: utilizar uma linguagem de documentário com entrevistas e representações.
O Pesadelo então abandona a estética narrativa apresentada no começo deste texto para seguir um caminho mais jornalístico e, por consequência, mais sério. E tal seriedade acaba apresentando o problema ao acompanhar o drama de oito entrevistados que relatam suas experiências com paralisia do sono e / ou com as tais sombras. Apreciadores da narrativa tradicional fílmica podem demorar a “embarcar” em O Pesadelo. Mas uma vez dentro deste universo de sonhos, sombras e ilusões, o público vai se ver diante de cenários comuns, como quartos, nos quais a realidade acaba sendo mostrada de forma muito mais assustadora do que qualquer assassino ou caso de possessão. Basta imaginar o que cada pessoa faria ao acordar no meio da noite no próprio quarto, sem conseguir se mexer e com uma sombra parada do lado da cama.
Apresentar um mundo “real” de forma jornalística e séria acaba sendo o grande trunfo de O Pesadelo. O filme inclusive segue firmemente a estética de documentário por mostrar sombras que na verdade e claramente são atores vestidos com um tecido preto que cobre todo o corpo. Destaque para o elenco desconhecido, mas bastante funcional.
O Pesadelo teve sua estreia no Festival de Sundance de 2015 participando posteriormente de outros festivais e tendo um lançamento comercial bastante limitado. O filme logo gerou burburinho entre os fãs que se dividiram em gostar da produção ou não. Neste caso, o trunfo de seguir uma forma de documentário tanto atraiu como também afastou grupos de fãs.
Atualmente O Pesadelo está na programação do Netflix em uma ótima oportunidade dos fãs conferirem. E depois descobrirem se vão dormir sem problemas ou ficarão com medo de acordarem no meio da noite sem conseguirem se mexer e ainda serem visitados pelas sombras vistas no filme.
Há nove anos, tive uma experiência dessa, da paralisia do sono – felizmente, foi um evento isolado e nunca mais aconteceu. No entanto, passar por isso me marcou bastante, a ponto de eu escrever um roteiro que pretendia transformar numa curta história em quadrinhos. O tempo passou e eu ocasionalmente vim a me tornar ator. Transformei o roteiro da HQ em um roteiro para curta-metragem e, há pouco tempo, o dirigi. O curta é esse aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=2KQFTfKGUNM
Daí, ontem à noite vi esse documentário na Netflix e percebi as semelhanças dos relatos das pessoas com o que me aconteceu na ocasião. Admito que fiquei com bastante medo de dormir logo depois.
Brrr…
Resolvi ver o filme depois de ler a crítica e o comentário acima, coisa que não costumo fazer. No fim das contas acabei concordando com ambos. O filme é descabido e pretensioso, mas também pode realmente levar ao medo dependendo da pessoa que vê. Achei interessante até.
Terminei de assistir a pouco, e não consigo entender ainda como esse filme conseguiu uma avaliação tão positiva por aqui. Sou seguidor do Boca a anos, e praticamente todas as boas experiências que tive nos últimos anos relacionadas a filmes de terror vieram daqui. Inclusive, ao ler esta crítica, lembrei imediatamente de Lake Mungo, outro falso-documentário avaliado por aqui. O que me traz a meu comentário de hoje. Foram 1 hora e meia perdidas, tentando fazer um esforço para entender o que poderia ter levado a quem escreveu esta crítica dizer que “O Pesadelo resulta em um dos filmes mais assustadores dos últimos tempos”. Aos que ainda não assistiram, arrisquem por conta própria. Infelizmente, faço parte do time que achou essa produção a coisa mais descabida e pretensiosa já lançada nos últimos tempos.