Sem Ar (2023)

4.2
(6)

Sem Ar
Original:The Dive
Ano:2023•País:Alemanha
Direção:Maximilian Erlenwein
Roteiro:Maximilian Erlenwein, Joachim Hedén
Produção:Jonas Katzenstein, Maximilian Leo
Elenco:Sophie Lowe, Louisa Krause

O medo de afogamento talvez seja o grande propulsor do meu interesse por produções do estilo. Explorações marítimas, com navios assombrados e submarinos encalhados, o combate a criaturas gigantes ou que estão em seu ambiente natural, conflito com piratas, assassinos, a sensação de abandono e claustrofobia são elementos que tornam minha apreciação pela Sétima Arte ainda maior. E quanto mais próxima da realidade, sem criaturas pré-históricas ou tubarões modificados geneticamente, maior o meu interesse. Foi com essa disposição que embarquei no thriller Além das Profundezas (Breaking Surface, 2020), um promotor de pesadelos e sensação de insegurança.

Dirigido de maneira competente por Joachim Hedén, o filme traz bastante dinamismo apesar da proposta quase em ambiente único, levando uma garota ao extremo pela necessidade de encontrar meios de levar oxigênio à irmã, presa no fundo do mar, tendo que correr além de suas forças para ajudá-la. Uma narrativa muito bem construída, com o apoio da fotografia e do cenário natural, o filme foi muito bem recebido ao ponto de atrair a atenção dos americanos para uma refilmagem. Sem Ar (The Dive, 2023) está chegando aos cinemas hoje numa tentativa de transmitir as mesmas sensações perturbadoras do original, agora com diálogos em inglês, embora seja um filme alemão, e mudanças significativas no seu enredo. Será que temos um outro mergulho interessante?

Com direção de Maximilian Erlenwein, Sem Ar é uma versão enxuta de Além das Profundezas. E isso se nota pelo fato do filme só ter duas personagens, as irmãs Drew (Sophie Lowe) e May (Louisa Krause), sem um prólogo mostrando o reencontro delas, o que fazem, a vida conjugal, a relação com a mãe, os cães ou até o passado em evidência. Começa já com as duas a caminho do local do mergulho, cantando “Only You (And You Alone)“, do The Platters, para logo estacionarem, deixando tanques de oxigênio reservas numa encosta e no porta-malas do veículo. Sem alerta de deslizamento, elas fazem o tradicional mergulho anual, visitam um ambiente conhecido com a liberação de oxigênio até que uma avalanche prende a silenciosa May no fundo do mar a 28 metros de profundidade.

Drew sai em busca de ajuda, avistando ao longe um barco pesqueiro – no original, era um avião bimotor -, e descobre que os tanques encostados no penhasco foram soterrados. Há dois no porta-malas, mas as chaves estão inacessíveis. Correr para um local próximo, tentar arrombar o veículo, emprestar seu próprio tanque, consciente que subidas rápidas irão afetá-la, mantendo a calma? O que fazer numa situação dessa para impedir que o fundo do mar se torne o leito final de sua irmã. Enquanto aguarda, May também precisa manter a tranquilidade para economizar oxigênio, sem que sua mente recorde situações mal explicadas do passado ou comece a pregar peças.

Para quem não conhece o original, verá Sem Ar com a proposta do título. Toda a tensão deixará o público ofegante ou completamente sem fôlego, ao se colocar no lugar de qualquer uma das duas. Mas é evidente que se trata de uma produção bastante inferior: além do visual não trazer a mesma fotografia impressionante e não ter o ambiente gélido como obstáculo, Erlenwein, ao não usar elenco de apoio ou um prólogo, enche seu filme de flashbacks, sequências que se repetem para justificar a frieza de May. Ainda que tenha uma boa dinâmica, a confusão mental das personagens pode irritar o espectador que prefere narrativas mais lineares, sem idas e vindas constantes.

Ambas as atrizes são muito boas, possuem uma química absoluta. É possível sentir toda a tensão envolvida, participando das situações improváveis de má sorte. Como Ida no original, Drew tem suas próprias ideias para alcançar seus objetivos, sendo que algumas até doidas, como a solução encontrada para tentar abrir o porta-malas. Sem cão de estimação ou a ameaça canina, Sem Ar conduz a personagem a uma capela estranha nas redondezas, o que já poderia construir uma outra trama, ainda mais perturbadora. Esse enredo nas mãos certas poderia remeter ao thriller Vertigem

Inferior e desnecessário, mais igualmente tenso, Sem Ar é mais uma amostra de que o mar pode promover situações assustadoras sem monstros, apenas pela ausência do maior elemento de manutenção da vida. Vale a pena embarcar nesse mergulho, se você não conhece o filme de Joachim Hedén. Caso o tenha visto, terá a sensação de que já esteve nessas profundezas antes e conhece o caminho da saída.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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