O Massacre da Serra Elétrica: O Início (2006)

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O Massacre da Serra Elétrica: O Início (2006)

O Massacre da Serra Elétrica: O Início
Original:The Texas Chainsaw Massacre: The Beginning
Ano:2006•País:EUA
Direção:Jonathan Liebesman
Roteiro:Sheldon Turner
Produção:Michael Bay, Mike Fleiss, Andrew Form, Bradley Fuller, Kim Henkel, Tobe Hooper
Elenco:Jordana Brewster, Matt Bomer, Diora Baird, Taylor Handley, R. Lee Ermey, Andrew Bryniarski, Lee Tergesen, Terrence Evans, Kathy Lamkin, L.A. Calkins, Tim De Zarn, Lew Temple

Dentre os principais clássicos do gênero – aquelas produções que figuram entre as primeiras de qualquer lista das dez mais apavorantes da história do cinema – nunca havia entendido a adoração em torno do filme O Massacre da Serra Elétrica (1974). Vi o longa quando tinha nove anos de idade, numa época em que eu já conhecia bem os filmes de terror, pois constantemente esvaziava a prateleira das locadoras em busca de obras verdadeiramente assustadoras.

Nesse período, o que mais me apavorava eram os fantasmas. Eu ria dos Sexta-Feiras 13 e Halloween, mas ficava mudo com as vozes demoníacas de Amityville, ou com o palhaço de Poltergeist. Até mesmo o fantasma da biblioteca em Caça-Fantasmas já foi capaz de me tirar da sala.

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O Massacre da Serra Elétrica não me assustava porque eu não tinha o medo da violência como tenho hoje. Para mim, a possibilidade de encontrar uma família de canibais liderada por um homem que veste pele humana era praticamente impossível. Um fantasma poderia matar, um homem, não. Incrível! Até mesmo quando fui atrás de meu pai num supermercado e um homem apontou a arma para a minha cabeça, não tive tanto medo como tinha quando sentávamos frente a um copo para evocar um espírito.

Após anos de ignorância, passei a respeitar o clássico de 1974 quando o vi novamente mais amadurecido. O Boca do Inferno já estava no ar, todos falavam bem do filme, menos eu. Hoje, época em que o gênero busca corpos mutilados, percebo o quanto fui ignorante.

Em 2003, lançaram uma interessante refilmagem do filme original. Conseguiram recontar o filme de 74, acrescentando uma enxurrada de sangue e mutilações, sem poupar o espectador da crueldade humana. Não havia mais o terror puramente psicológico, mas uma orgia de vísceras, uma perna decepada, um homem crucificado preso a um gancho, além do rosto deformado da nova versão do ícone Leatherface, interpretado pelo grandalhão Andrew Bryniarski. Apesar dos exageros, o filme foi aclamado pelos fãs do gênero e fez um tremendo sucesso nos cinemas pelo mundo, o que tornou inevitável uma sequência. Mas, como continuar uma história praticamente encerrada pelo filme de 2003, que narrou um documentário policial sobre as 33 vítimas da família de canibais?

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Se uma continuação não seria possível, o ideal seria um prelúdio, apresentando os primeiros ataques da família Hewitt e até mesmo o nascimento do monstro apelidado de “rosto de couro“. E isso foi exatamente o que fizeram! E fizeram muito bem! A nova versão, lançada por aqui como O Massacre da Serra Elétrica: O Início, é tão interessante quanto o filme de 2003, com muito mais violência e mortes, e ainda com espaço para uma grande homenagem ao clássico de 74, num dos momentos mais doentes da história do cinema.

O novo massacre tem início num matadouro, em 1939, onde uma senhora sofre com a pressão do chefe, enquanto agoniza devido a fortes dores na barriga. Depois de uma chamada do patrão, ela cai dura no chão, praticamente morta. Seu corpo varre juntamente com a placenta um bebê com uma deformação no rosto. Bem-vindo ao mundo, Tommy Hewitt, vulgo Leatherface. Atirado ao lixo, o bebê é resgatado e criado por uma velha, mesmo com seu rosto macabro e seu retardo mental.

Durante os créditos, o filme apresenta rapidamente várias idades da vida do rapaz, suas tendências de alto-mutilação e o preconceito que sofreu durante toda a infância e início da fase adulta. Aqui fica claro que Tommy sempre foi uma vítima do sistema, alguém que não conseguira ter as mesmas oportunidades que as outras pessoas, sofrendo humilhações e todas as formas de menosprezo – o maniqueísmo de Hollywood novamente em ação. Alguém que talvez precisasse de ajuda médica e não o trabalho numa Casa de Carnes chamada Lee. De seu sofrimento pessoal até as marretadas violentas contra seu chefe era apenas questão de dias. O primeiro encontro com a motossera é um toque mágico do roteiro.

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Acompanhamos então, em 1969, quatro anos antes dos acontecimentos do filme de 2003, os momentos que antecedem a viagem de quatro amigos pelo Texas rumo ao Vietnã, onde os irmãos, Dean (Taylor Handley) e Eric (Matthew Borner) pretendem se alistar – mesmo contra a vontade do mais novo. Com eles, as belas namoradas, Chrissie (a semi-brasileira Jordana Brewster) e Diora Baird (Baley), curtem o passeio pelo deserto em busca de momentos californianos.

Assim como no primeiro filme, eles param no Açougue da família esquisita para conversar sobre o futuro, abastecer, comprar algumas coisinhas, arrumar alguma encrenca no local, enfim. Nesse ínterim, o espectador é apresentado ao nascimento de mais um personagem clássico da nova franquia, o psicótico Xerife Hoyt (interpretado pelo talentosíssimo R.Lee Ermey). Quando o verdadeiro Xerife aparece na casa dos horrores em busca do assassino Tommy e ainda diz que é a única lei da região, seu destino já está praticamente definido. É só questão de tempo.

Na estrada, os jovens enfrentam a fúria de uma motoqueira ladra, mas esquecem de olhar a estrada, onde uma gigantesca vaca está prestes a explodir com o impacto do veículo. (Nota-se aqui a ironia do roteiro ao mostrar sempre a carne como principal motivo de todas as dores que os jovens terão pelo caminho rumo ao inferno. No filme de 2003, a ironia foi trabalhada quando a personagem de Jessica Biel se esconde num frigorífico, entre nacos) A batida é tão violenta que o carro capota na estrada por um lado e arremessa Chrissie para o outro, sem que ela quebre um osso sequer.

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Surge então o novo Xerife da região, pronto para carregar os jovens para o matadouro caseiro, local onde terão que aprender a resistir à dor e à tortura psicológica para tentar sobreviver antes que Tommy os leve para o porão.

Assim como no filme de 2003, as mortes demoram a acontecer. È impossível não torcer por um fim rápido para as vítimas, depois de presenciar tanta simulação da dor. Dois dos jovens chegam realmente a clamar pela morte rápida, inclusive colocando uma espingarda apontada para a própria testa. Tenho outros planos para você!, diz o Xerife contrariando o pedido. Essa ideia já havia sido trabalhada no primeiro filme, quando a caronista estoura os miolos quando descobre que está sendo levada para o lado errado e também quando o rapaz pede que a namorada finalize seu sofrimento com uma faca.

Mas a dor física não chega a incomodar tanto quanto a psicológica. Ficar amarrada ao pé da mesa, enquanto duas senhoras conversam durante o café da tarde, é um bom exemplo disso. Outro seria o momento em que dois jovens são lavados como porcos para serem preparados para o abate; ou quando alguns dedos são derrubados no chão durante a refeição…

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Com todos esses momentos inspirados, O Massacre da Serra Elétrica: O Início peca novamente pelas inverdades apresentadas. È difícil imaginar que alguém que esteja do lado de fora da casa, próximo da estrada, sabendo o que acontece por lá, queira retornar para salvar os amigos ao invés de aproveitar a oportunidade para escapar. È heroico, mas improvável. A possibilidade da lâmina quente da motossera destroçar seu corpo é motivo mais do que suficiente para uma fuga imediata.

Além do mais, o uso de jovens bonitas entra em contraste direto com a família canibal, sempre apresentada como deformada ou feiosa, numa manipulação da opinião. Tal estratégia de aproximação do público adolescente acaba perdendo um pouco do impacto e da veracidade. É mais fácil se importar com pessoas comuns, como acontece no clássico, que continha inclusive um paralítico entre as vítimas, do que jovens modelos oriundos de revistas de moda.

Outro ponto negativo é a ausência da fotografia documental de Daniel Pearl, cujos trabalhos nas versões de 1974 e 2003 foram perfeitos. Desta vez, a função ficou a cargo do desconhecido Lukas Ettlin, o que resultou num excesso de cenas escuras e sombrias, contrastando com o vermelho-sangue dos momentos violentos.

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Apesar de não contar com a participação da texana Heather Kafka, que no filme de 2003 fez a esquisita ladra de bebês Henrietta, o elenco, de um modo geral, foi bem escolhido. O destaque maior entre as vítimas fica por conta de Jordana Brewster (Prova Final). Alternando momentos de raiva e desespero, a atriz não é tão atlética quanto a Jessica Biel e nem expressiva quanto a Marilyn Burns, mas ainda assim é suficientemente capaz de esboçar ingenuidade e fraqueza. Já entre os Hewitts, quem chama a atenção é mais uma vez R.Lee Ermey, mais uma vez psicologicamente perturbado. Suas cenas são sempre carregadas de tensão e imprevisíveis.

Para concluir, não se pode ignorar o famigerado jantar familiar, em homenagem ao clássico. Com direito a oração e cabeça abaixada antes da refeição, a cena é bastante angustiante. Não tem tanto impacto como a de 1974, quando a vítima está sozinha diante dos insanos, mas é tão silenciosa e nojenta quanto. É sempre bom ver a família quase toda reunida mais uma vez.

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E, no final, a imagem que fica é a do soberano assassino da motosserra. Envolto em neblina, enquanto caminha lentamente pela estrada de terra, é impossível não pensar na solidão e na crueldade da figura mascarada. Ele está vivo! Leatherface estava apenas começando sua carreira!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

15 thoughts on “O Massacre da Serra Elétrica: O Início (2006)

  • 26/06/2022 em 06:59
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    Esse filme merecia uma edição oficial em Blu-ray aqui no Brasil …. alguém concorda comigo ? Um abraço a todos

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  • 15/04/2022 em 17:07
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    Um dos melhores da franquia que eu já assistir e olha que sou fã

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  • 22/03/2021 em 14:11
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    O Melhor de Todos Da Franquia é o de 2003
    Sem dúvidas,o de 74 é Insuperável
    Mais esse de 2006 a única coisa q tem é Violência Exagerada Nada mais

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  • 25/05/2018 em 20:12
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    É mais uma versão desnecessária do clássico de 1974.

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  • 30/09/2017 em 00:45
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    Um dos melhores da franquia, se não o melhor. Insano demais.

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  • 08/12/2016 em 22:35
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    a meu ver, esse é o mais explícito.
    mas não gostei da protagonista, Jordana pode ser bonita e 50% brasileira, mas seu personagem é totalmente esquecível – tanto que fica boa parte do filme sem aparecer!

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  • 15/10/2016 em 02:04
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    Qual a justificativa da família (cherife, velha e velho), para viver numa casa em que acontece várias mortes?

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  • 09/04/2014 em 15:19
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    Tbm acho o melhor de toda franquia. A violência é algo lindo de se ver neste filme. Fiquei muito angustiado em uma cena q um dos personagens é arrastado com um gancho enfiado na carne. Chocante!!!

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  • 05/04/2014 em 23:59
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    principalmente por mostrar o xerife sádico que é o mesmo do remake de 2003 ,ótimo filme..

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  • 04/04/2014 em 17:25
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    Falando francamente, eu detestei. Violência exagerada e desnecessária. Enredo fraco e direção fraca também.
    Na minha opinião, “O Massacre da Serra Elétrica 3D” é o único dessa onda que se salva…

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    • 26/12/2019 em 10:09
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      Inacreditável..tu acha o de 2006 fraco e diz que o 3D é o único que se salva? PQP, aquele filme beira o ridículo

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    • 20/02/2022 em 15:15
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      Excelente. Mostra o nascimento do leatherface e como ele se tornou o assassino brutal. Nota 10.

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  • 02/04/2014 em 22:49
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    eu gostei desse filme tbm.

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