Vozes (2020)

3.3
(3)

Vozes
Original:Voces
Ano:2020•País:Espanha
Direção:Ángel Gómez Hernández
Roteiro:Santiago Díaz, Ángel Gómez Hernández, Víctor Gado, Juan Moreno
Produção:Guillermo Sempere, Juan Moreno
Elenco:Rodolfo Sancho, Ana Fernández, Ramón Barea, Belén Fabra, Lucas Blas, Nerea Barros, Beatriz Arjona, José Bermúdez, José Luis Lozano, Álvaro Fontalba, Javier Botet

Não há razões que justifiquem a demora em assistir ao interessante Vozes, filme espanhol que chegou a Netflix em 27 de novembro de 2020. Talvez pela grande demanda de lançamentos, você acabe optando por maratonar séries e rever clássicos a experimentar uma nova obra de terror; ou talvez envolva até um preconceito com a plataforma de streaming, uma vez que algumas de suas produções novas já despontarem com uma bagagem de repulsa. Mas Vozes parecia sussurrar uma conferida – desculpem o trocadilho -, principalmente pelas boas avaliações, alcançando seu estopim em uma imagem divulgada pelo amigo Renato Rosatti no grupo do Boca do Inferno. Resolvi lhe dar, então, a devida atenção e ouvidos (desculpa novamente).

Trata-se de mais uma obra que aborda a psicofonia ou o fenômeno EVP, de captação de sons do além. Muitas produções que envolvem assombrações em residências e pedem a visita de especialistas acabam apresentando um personagem que faz essa captação, com um microfone apropriado para registro. Porém, são poucas as que abordam exclusivamente o “som dos mortos” como é o caso do terror Vozes do Além (White Noise, 2005), estrelado por Michael Keaton, e este filme que tem a direção de Ángel Gómez Hernández, em sua estreia em longas. E mesmo não sendo um argumento tão original, resulta em uma produção bem eficiente, com boas sequências de sustos e calafrios.

No enredo, um casal de reformadores de moradias acaba de comprar uma nova residência. Diferente da maioria de filmes similares, o longa não começa mostrando Daniel (Rodolfo Sancho, de A Herança de Valdemar, 2010) e Sara (Belén Fabra, de O Cadáver de Anna Fritz, 2015) chegando ao novo endereço, mas já preocupados com o modo como o filho Eric (Lucas Blas) anda agindo: na cena inicial o garoto está relatando à psicóloga (Beatriz Arjona) sobre as vozes que ficam pedindo para que ele faça desenhos. Oriundas das paredes, da cama e principalmente do walkie-talkie, o garoto é atormentando por esses contatos frequentes, o que impossibilita seu sono e lhe causa uma desorientação, uma vez que elas soam como a voz de seu pai.

Após uma tragédia abalar a família e finalmente convencido que existe algo de estranho no casarão, Daniel entra em contato com um especialista em psicofonia, autor de diversas obras sobre o fenômeno. Germán (Ramón Barea, de O Guardião Invisível, 2017) aceita o desafio e vai ao local com sua filha Sofia (Nerea Barros), espalhando câmeras e passeando entre os cômodos para ver se consegue algum registro, em um clichê de produções do estilo sempre eficaz. E logo eles percebem que há realmente manifestações na morada – o filme não permite que o infernauta respire em momentos de alívio, onde nada acontece -, captadas por câmeras de calor e nos áudios. Ao buscar a fundo a história da casa, descobrem que não é à toa que ela é conhecida pelos locais como “a casa das vozes“, consequência de um passado extremamente perturbador.

O que mais impressiona em Vozes é atmosfera proposta na fria fotografia de Pablo Rosso (trabalhou em [Rec] e Enquanto Você Dorme, entre outros). A câmera visita os cômodos, sem se esquivar dos vultos e aparições constantes. Há diversas sequências assustadoras, como a que envolve a mãe, quando ela decide olhar por baixo da cama do filho; além de toda as cenas que acontecem no porão restrito, com rastros de dor, tortura e morte. Em muitas delas, pode ser que você salte na poltrona (há pelo menos dois sustos genuínos) ou detone as unhas das mãos, preocupado com o destino terrível reservado a determinados personagens. O Mal ali presente vai muito além de um fantasma perturbado, mas uma entidade realmente disposta a destruir quem queira residir ali.

Há algumas referências facilmente notadas em Vozes. Desde Terror em Amityville (as vozes que obrigam a fazer coisas, as moscas que até causam um acidente fatal), passando por Invocação do Mal e o clássico setentista A Profecia (no destino de uma personagem). Mesmo com essas homenagens, você ainda irá se impactar com uma produção bastante intensa e atmosférica, daquelas que mereciam até mesmo uma passagem pelos cinemas. E ao final, ao ver a piscina – com a mesma tomada do começo – no formato de uma orelha, você irá se sentir satisfeito por ter acompanhado uma obra que se atenta a todos os detalhes para entreter e assustar.

Em tempo, há uma pontinha do ator-monstro Javier Botet como uma cliente na livraria. Para quem não sabe, ele atuou como monstros em [REC] (Menina Medeiros), Mama (a própria), A Colina Escarlate (Enola), Do Outro Lado da Porta (Myrtu), Invocação do Mal 2 (O Homem Torto), O Guardião Invisível (Besajaun), Alien: Covernant (Xenomorph), A Múmia (Set), Exorcismos e Demônios (Homem sem Face), It – A Coisa (Hobo), Sobrenatural: A Última Chave (KeyFace), Slender Man: Pesadelo Sem Rosto (Slender Man), Mara: o Demônio do Sono (Mara), O 3º andar – Terror na Rua Malasaña (Dona do apartamento), O Que Ficou Para Trás (A Bruxa)….e por aí vai.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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