The Cursed (2021)

4.5
(26)

The Cursed
Original:The Cursed
Ano:2021•País:EUA
Direção:Sean Ellis
Roteiro:Sean Ellis
Produção:Sean Ellis, Mickey Liddell, Pete Shilaimon
Elenco:Boyd Holbrook, Kelly Reilly, Alistair Petrie, Roxane Duran, Nigel Betts, Stuart Bowman, Simon Kunz, Amelia Crouch, Max Mackintosh, Tommy Rodger

A licantropia ganhou mais um capítulo com o interessante The Cursed, longa escrito e dirigido por Sean Ellis. Dentro da filmografia desse subgênero – atualmente mais lembrado pelas histórias envoltas em humor como O Lobo de Snow Hollow e Um Lobo Entre Nós -, são poucas as produções que se destacam pelo contexto, indo além de uma concepção simplória de filme de monstro para trazer conteúdo e ambientação. Anjos da Noite 3: A Rebelião, de 2009, para citar um mais recente, ou se quiser ir a fundo pode-se lembrar de Possuída: O Início (2004), o excelente A Companhia dos Lobos (1984) e até o absoluto O Lobisomem (1941), longa que parece ter servido de inspiração frágil para The Cursed, além de um outro que vale a recomendação, O Pacto dos Lobos (2001), que conta uma versão sobre a besta de Gévaudan, mencionada aqui.

The Cursed constrói seus méritos por um passeio histórico e muito bem desenvolvido por dois períodos, abordando inicialmente uma sequência de batalha de Somme durante a Primeira Guerra Mundial. É durante um confronto com gás, em 1917, que um soldado é resgatado com três ferimentos de bala em seu abdômen, incluindo uma de prata, e que, em seus delírios, canta uma antiga canção de ninar. Trinta e cinco anos antes, o barão Seamus Laurent (Alistair Petrie) contrata um exército de mercenários para exterminar um clã cigano, estabelecido em suas terras. Em uma belíssima cena com a câmera estática, todo o ataque e incêndio das tendas é mostrado sem cortes, até traçar o destino dos líderes: um é desmembrado e mantido como um espantalho, enquanto a mulher é enterrada viva, recitando uma maldição iminente, segurando em suas mãos uma mandíbula com presas de prata.

Após a tragédia, as crianças locais passam a ser atormentadas por pesadelos que envolvem o espantalho e a mandíbula, incluindo os filhos de Seamus, Edward (Max Mackintosh) e Charlotte (Amelia Crouch). Com a insistência do coroinha Timmy (Tommy Rodger), eles vão ao local maldito e desenterram o artefato, somente para o garoto colocá-lo na boca – sabe-se lá como – e morder Edward no pescoço. Mais tarde, quando estranhos “galhos” começarem a surgir nas costas de Edward, considerado vítima de um animal selvagem, ele não será mais visto, para desespero de sua mãe Isabelle (Kelly Reilly). Chega à região o patologista John McBride (Boyd Holbrook), disposto a investigar o que acontecera com os ciganos como também para buscar uma redenção por uma tragédia ocorrida no passado, no episódio em Gévaudan – embora este tenha ocorrido um século antes, contrariando um fato histórico.

Assim, John irá se unir à polícia local, com o apoio de Moliere (Nigel Betts), para tentar matar a criatura, já imaginando que o monstro parece ter intenções vingativas contra a família Laurent. Outras bestas rondarão a região, após novas vítimas, e o rapaz precisará aprontar armadilhas e um bom plano para evitar que o episódio do passado se repita, produzindo balas de prata para proteger Isabelle e Charlotte.

Outro fator importante em produções com lobisomens são os efeitos especiais. Depois das experiências impressionantes vistas em 1981, com Joe Dante e, principalmente, John Landis, qualquer caracterização que não traga algum grau de realismo perde pontos na sua avaliação final. Inicialmente realizado com efeitos práticos, The Cursed depois passa a expor sua construção digital, o que diminui bastante o impacto. Nada que possa compará-lo a bagaceiras caras do estilo como as criaturas de Van Helsing – O Caçador de Monstros, entre outros. O monstro de Sean Ellis não possui pelos, é quadrúpede, sem qualquer sinal de humanidade; não segue aquela fórmula dos filmes clássicos que faz o lobisomem se transformar somente nas noites de Lua Cheia.

Contudo, os efeitos levemente artificiais são amenizados pelos aspectos técnicos da produção. Fotografia, figurino e o próprio cenário, moldado pelas incertezas e pelo medo do desconhecido e que trazem boas recordações das caracterizações que envolviam as produções da Hammer, devem ser enaltecidos, assim como a direção acertada de Sean Ellis – faz um ótimo trabalho no último ato, na sequência do confronto final – e a boa atuação do elenco, destacando Kelly Reilly.

Com referência ao filme de 41, pela maldição cigana, e uma sequência de autópsia feita em homenagem a O Enigma de Outro Mundo, The Cursed é uma das melhores produções disponibilizadas em 2022. Foi lançado na mesma madrugada do novo – e péssimo – O Massacre da Serra Elétrica, aquele em que Leatherface invade um ônibus com pessoas estúpidas. Mas na comparação perde feio: The Cursed é um chocolate Ferrero Rocher, agradável a quase todos os paladares, enquanto o longa de David Blue Garcia é apenas uma bolacha Passatempo, e que você só compra no mercado porque o preço é acessível e fica bom se molhar no achocolatado.

Ainda é cedo para saber se o filme terá fôlego para figurar entre os destaques pelos próximos oito meses, mas, com certeza, será durante muito tempo lembrado dentro do subgênero, pelo contexto e por sua atmosfera incômoda que esconde uma besta nos arredores de uma comunidade.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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