Drácula: A Última Viagem do Deméter (2023)

4.4
(89)

Drácula: A Última Viagem do Deméter
Original:ThLast Voyage of the Demeter
Ano:2023•País:EUA, UK, Malta, Itália, Alemanha
Direção:André Øvredal
Roteiro:Bram Stoker, Bragi F. Schut, Zak Olkewicz
Produção:Bradley J. Fischer, Mike Medavoy, Arnold Messer
Elenco:Corey Hawkins, Aisling Franciosi, Liam Cunningham, David Dastmalchian, Chris Walley, Jon Jon Briones, Stefan Kapicic, Martin Furulund, Nikolai Nikolaeff, Woody Norman, Javier Botet

As viagens do Deméter contribuíram para tornar a ameaça da vinda do Conde Drácula à Inglaterra ainda mais assustadora. Foram várias pelas diversas adaptações da obra original de Bram Stoker: em 1922, o Conde Orlok já havia atravessado os mares numa escuna; em 1931, foi o Conde, de Bela Lugosi, que alcançou o continente em uma embarcação chamada Vesta; em 1979, um Deméter infestado de ratos acompanhou Drácula, de Frank Langella, até os braços de Lucy (Kate Nelligan) em Whitby; assim como tantas outras, sempre mostrando que os barcos sempre chegam ao seu destino como embarcações-fantasmas, com toda a tripulação encontrada em pedaços. No material original, o horror experimentado aparece nos registros diários do capitão, no Capítulo VII, como parte dos escritos de Mina Murray, alertando sobre um enorme cão que teria sido visto nas imediações.

Os registros em russo, iniciados em 18 de julho, dão o tom do horror experimentado gradualmente pelos viajantes, com informes que resgatam desde a entrega de caixotes de areia até a última noite, do dia 4 de agosto. Esse pesadelo claustrofóbico serviria como uma das inspirações de Dan O’Bannon na construção do roteiro de Alien, O Oitavo Passageiro, deixando evidências que esse trecho da obra de Stoker tem potencial para despertar arrepios. Um monstro a bordo, a sensação perturbadora de ameaça, ainda mais quando não se sabe exatamente o que está atacando os tripulantes, já tem a força de uma narrativa completa, quase um roteiro pronto, bastando desenvolver o enredo e investir na produção e elenco.

Bragi Schut Jr. teve a ideia quando encontrou uma pessoa que trabalhou em Drácula de Bram Stoker (1992) e comprou uma miniatura do Deméter. A partir de 2003 – sim, vinte anos de produção – o roteiro passou por produtoras, diretores (Robert Schwentke, Marcus Nispel, Stefan Ruzowitzky, David Slade, Neil Marshall…) e boa parte do elenco (Jude Law, Viggo Mortensen, Noomi Rapace…) sem que houvesse uma batida de martelo. Foi apenas em outubro de 2019 que André Øvredal foi finalmente contratado para comandar o longa, com os direitos adquiridos pela Amblin Partners, e filmagens programadas para começar em 30 de junho de 2021. Apesar dos esforços e do material que dispunha, Drácula: A Última Viagem do Deméter não foi muito bem nas exibições-teste e nem no primeiro fim de semana de sua estreia. Será que a viagem realmente não valeu a pena?

O prólogo mostra o respeito à obra, com a chegada desastrosa do Deméter à Inglaterra em 6 de agosto de 1897. Quatro semanas antes, o barco estava em Verna, na Bulgária, contratando a tripulação que irá ajudar no transporte da carga, incluindo, óbvio, caixotes de areia, sendo que um deles destaca o emblema do dragão. Já há o receio sobre o conteúdo pela exposição do símbolo com um “Crazy Ralph” antecipando o horror que irão enfrentar na jornada. Mas isso não assusta o Doutor Clemens (Corey Hawkins), um médico com educação em Cambridge, que, embora tenha sido recusado em sua apresentação, foi graças ao seu ato heroico de salvamento do pequeno Toby (Woody Norman, nos cinemas também com Toc Toc Toc: Ecos do Além) que o Capitão Eliot (Liam Cunningham) resolveu inclui-lo no grupo.

Além dos três, destacam-se na tripulação o primeiro-imediato Wojchek (David Dastmalchian, de Bird Box), Olgaren (Stefan Kapicic), o cozinheiro cristão Joseph (Jon Jon Briones) e o cachorro Huckleberry. Assim que os animais a bordo são encontrados mortos, incluindo Huck, a investigação leva à descoberta de uma moça clandestina. Enfraquecida pela perda de sangue, Anna (Aisling Franciosi) é resgatada e ajudada por Clemens, até que possa alertar a todos sobre a presença de um monstro, oriundo da Transilvânia, uma criatura voraz conhecida como Drácula (Javier Botet), que se alimenta do líquido vital.

A descrença inicial logo é combatida quando um vulto sombrio é avistado na neblina e membros da tripulação começam a desaparecer, deixando rastros vermelhos. Sem entender a natureza da ameaça, logo os sobreviventes terão que encontrar meios de enfrentá-lo ou até fugir do navio antes que o Deméter alcance o continente e o demônio alado possa espalhar o horror aos londrinos. Como a história é velha conhecida – embora o acréscimo de Drácula no título tenha sido desnecessário – e o resultado é mostrado no início, resta ao espectador acompanhar o triste destino dos tripulantes ou torcer por alguma surpresa não registrada pelo capitão.

Para tornar a experiência mais próxima do texto original, os registros narrados são bastante parecidos, com algumas pequenas alterações e acréscimos. Há um belíssimo trabalho de fotografia, a cargo de Tom Stern, assim como deve ser enaltecida a Direção de Arte. A atmosfera aterrorizante remete aos momentos de vislumbre noturno da primeira temporada da série The Terror, com o Deméter sendo engolido por uma névoa densa, assim como os porões onde os caixotes são mantidos, afugentando, inclusive, ratos. Drácula, também conhecido em Nosferatu e outras obras como o “senhor dos ratos“, sempre teve a companhia deles em sua trajetória cinematográfica, tanto na viagem quanto na sua chegada à Abadia de Carfax.

Contribui para boa parte dos aspectos técnicos a direção acertada do experiente André Øvredal, de A Autópsia e Histórias Assustadoras para Contar no Escuro. Com bons posicionamentos de câmera e aproveitando a ambientação tétrica, o Deméter assume uma função de personagem, até mesmo a de um herói, uma testemunha muda do transporte de um dos monstros mais assustadores que a literatura já produziu. E quando digo “boa parte” é porque os efeitos digitais prejudicam a aceitação desse Drácula reimaginado: e ele até que foi bem construído, com aspectos de um rato humano ou um morcego gigante, lembrando a besta de Max Schreck. Enquanto envolto nas sombras, nos cantos escuros da escuna, o monstro é muito mais perturbador do que sua revelação no terceiro ato.

Deixando uma sugestão para um novo filme – esperamos que não seja feito -, Drácula: A Última Viagem do Deméter é definitivamente um filme de monstro, com os clichês do subgênero e seus lugares-comuns. Está distante de ser ruim para a baixa bilheteria até o momento, assim como nem chega perto do que poderia ser o ideal. É uma viagem que merece ser vista tanto pelos fãs de vampirismo e do próprio Drácula quanto por quem aprecia histórias simples de horror, com bons personagens e um ambiente claustrofóbico.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

8 thoughts on “Drácula: A Última Viagem do Deméter (2023)

  • 12/09/2023 em 16:10
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    eu me diverti muito assistindo mas umas coisas me deixaram meio ~ assim ~
    nao me conformo de eles terem elaborado um plano pra matar o dracula durante o dia e terem esperado anoitecer (?!?!?!) pra por em pratica rsrsrs fora uma morte que tinha que ocorrer e foi altamente forçada em cena, mas ok.
    esse diretor tem umas coisas legais, o A Autópsia foi uma das melhores coisas da década de 2010 que vi.

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  • 12/09/2023 em 09:18
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    Está longe de ser tão ruim como muita gente falou. Por outro lado tb está muito longe de ser bom. Dou um 5,5 porque a fotografia é realmente muito boa.

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  • 10/09/2023 em 23:30
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    Boa noite acredito que deve ser uma mistura de O pacto dos lobos com Navio fantasma,ainda não vi embora o trailer deserta uma boa premissa deixando nossa hype lá em cima!

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    • 13/09/2023 em 00:59
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      Recentemente concluí de ler o livro de Drácula e sinceramente amei a narrativa, bem como todo o desenrolar da história. Bem como também assiti ao filme Drácula (com o ator Keanu Reeves) e fiquei meio incrédulo de como alguns detalhes foram tirados e outros “nada a ver” acrescentados. Gostei mas também odiei (rs). Agora vou esperar “Deméter” chegar dublado nas plataformas e aproveitar enquanto não lançam outros filmes dos clássicos do Terror como Frankenstein e O Médico e O Monstro.

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  • 10/09/2023 em 09:44
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    A primeira vez que li Dracula foi no 3° ano do Ensino Médio, quando peguei uma edição bem velha e surrada da biblioteca da escola, logo de cara o melhor capítulo pra mim foi o Diário do Capitão, contando sobre a viagem do navio Demeter para Londres levando o conde Dracula, era praticamente uma história dentro da história.
    Corta pra 2004 e leio no antigo site Cinema em Cena que pretendiam levar esse capítulo para o cinema, obviamente que eu fiquei doido pra ver nas telas do cinema. Uma nota de produção aqui, outra ali e o projeto foi abandonado.
    Corta pra 2020 e o segundo capítulo da série do dracula da Netflix se passa todo dentro do Demeter, pensei que seria o máximo que eu teria e gostei.
    Corta pra junho de 2023 e do nada o trailer de Dracula a última viagem do Demeter aparece no meu Facebook, eu nem sabia que o filme estava sendo produzido, era óbvio que eu ia ver no cinema.
    Quase 20 anos esperando pelo filme,achei ele muito bacana,uma boa história de terror a moda antiga, nada demais, mas eu gostei, ganha uma nota 7,0 ou ***.

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    • 11/09/2023 em 14:32
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      Assisti o filme e me atrevo a dizer que gostei até certo ponto o filme e bacana fotografia estupenda mas no final fica a sensação que está faltando alguma coisa, talvez o próprio drácula em si quando se fala em drácula vem a nossa mente a figura que popularizou pelos filmes antigos da Hammer ou até mesmo filmes recentes do cinema e acho acertado a produção fugir de tais clichês batidos o problema é que na minha opinião é que quando a tão criatura aparece o drácula fica a sensação de está faltando algo até a metade do filme quando ela está envolto nas sombras fica a sensação clastrafobica e o medo que a tripulação está passando e por ser drácula que a tripulação não sabe o que ele é capaz mas a gente sabe mas finalmente quando se revela o filme parece mais um subgênero de vampirismo que a gente já viu em séries ,vídeo games e filmes é difícil acreditar que ali está o drácula mesmo com a deixa de um próximo filme não é ruim mas esperava muito mais .

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    • 15/09/2023 em 01:05
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      É um filme meio termo. Não é grande coisa, mas também não é ruim. É uma obra que diverte, é maneiro. Mas ficou longe de ser uma obra maravilhosa. Isso pq vc não sente que se trata de Dracula de fato. Apesar de ser o Drácula quem está alí, não passa a sensação de que é o Drácula de fato quem está alí aterrorizando. Me pareceu mais um vampiro qualquer de uma obra qualquer. Não pareceu ser o Dracula do livro. Ao menos não me convenceu disso. N conseguiu nem nesmo a atmosfera do filme de Bram Storker, quanto mais do livro! Eu achei bacana, mas dizer que assisti a um filme de Dracula, e ainda por cima o capítulo do navio do livro…decididamente não me senti assim. Nem mesmo a sensação de está ao menos vendo Nosferatu! Uma pena…

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  • 09/09/2023 em 21:45
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    Assisti o filme e o resultado geral foi satisfatório, não é um filme ruim, tem bons momentos, atuações convincentes, e foge um pouco do convencional, mas fica aquela sensação de que algo está faltando.
    A fotografia é realmente boa, o visual da criatura ficou bem interessante. O roteiro foge um pouco do texto original do livro pra tentar produzir um pouco mais de historia, o resultado disso é o surgimento de novos personagens o que é bom, mas o resultado no fim, fica no meio termo. O filme diverte e entretém mas tem suas falhas. Não vai se tornar um clássico, mas ainda assim é um bom filme!

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