4.4
(8)

Monster
Original:Monster
Ano:2023•País:Indonésia
Direção:Rako Prijanto
Roteiro:David Charbonier, Justin Powell, Alim Sudio
Produção:Frederica
Elenco:Marsha Timothy, Alex Abbad, Anantya Kirana, Sultan Hamonangan

É possível se perder navegando entre os 180 filmes classificados como terror na plataforma Netflix, mas entre medalhões como Pânico VI (2023) e originais como Irmã Morte (2023), não é raro encontrar produções menos conhecidas e igualmente inusitadas como Monster. Importante não confundir este último com a famosa série true crime do mesmo canal, nem com o ótimo anime baseado no mangá homônimo de Naoki Urasawa.

Pelo menos 3 particularidades fazem do longa que dá título a este texto, Monster, uma obra peculiar. A primeira delas é o seu país de origem, a Indonésia. Localizado na Ásia, a distante Indonésia vem surpreendendo a todos pela sua expressiva indústria cinematográfica, da qual destaca-se em especial as produções dedicadas ao gênero horror. Apenas para lembrar alguns exemplos recentes (que merecem sua atenção), poderíamos citar Impetigore (2019), Os Escravos de Satanás (2017) e The Queen of Black Magic (2019). Os filmes do gênero produzidos no país se caracterizam, em sua maioria, por explorar em suas tramas os costumes e as tradições locais, além de aproveitar o cenário natural e a arquitetura colonial, sobretudo casarões escuros, muitas vezes construídos na época em que o país ainda estava sob o domínio estrangeiro. Curiosidade aqui: os primeiros colonizadores europeus a se estabelecerem no local foram ninguém menos que os portugueses, em 1512, que permaneceram por lá até serem expulsos pelos holandeses em 1575. A Indonésia só se tornou um país livre muito recentemente, já no século XX, em 1945.

A segunda característica que torna Monster atípico não é apenas a escolha de uma protagonista criança, mas também como esta personagem é utilizada. No cinema americano ao qual estamos familiarizados não é incomum personagens infantis em filmes de terror, pelo contrário, há pouco tempo vivemos um certo revival oitentista (década em que as crianças e os adolescentes sequestraram o gênero), com produções como It: A Coisa (2017), Super 8 (2011) ou Verão de 84 (2017). Contudo, em sua grande maioria, estas obras tinham um tom mais aventuresco ou eram permeados por doses de humor que evitavam que a censura fosse mais restritiva. Este não é o caso de Monster, no qual a corajosa Alana, uma garotinha de pouco mais de 12 anos sofre horrores nas mãos de um infanticida em série; sem espaço para momentos felizes ou alívios cômicos. E por último, talvez o recurso estilístico mais controverso, que deve causar algum estranhamento ao espectador: o filme não tem um diálogo sequer.

Dirigido por Rako Prijanto (de Bayi Ajaib, 2023), Monster parte de um plot inicial atrativo em que emula uma espécie de home invasion reverso, onde as vítimas são colocadas na casa de seu algoz. A trama, escrita por Alim Sudio (Kang Mak, 2024) é uma releitura oficial do horror americano O Menino Atrás da Porta, uma produção de 2020 que não chamou muito a atenção do público e passou despercebida pelos cinemas e pelos canais de streaming onde esteve disponibilizado (atualmente pode ser encontrado no catálogo da Globoplay). A trama narra o pesadelo de Alana, uma menina que tenta de todas as maneiras resgatar o amigo Rabin. Ambos foram sequestrados e levados para uma casa localizada em uma área rural isolada, próximo a uma montanha. Alana consegue escapar, porém não irá embora sem salvar o amigo, que está acorrentado em um quarto. Tudo indica que o menino será abusado e torturado, antes de ser morto por um sádico serial killer.

Referência ao clássico O Iluminado

Podemos começar com o ponto mais discutível, que é a ausência dos diálogos. É possível deduzir que os realizadores de Monster optaram pelo silêncio como uma estratégia para intensificar o suspense, já que a protagonista tem que se mover furtivamente entre os corredores e cômodos da casa onde o amigo está aprisionado. A intenção é até louvável, porém os complementos para esta ambientação de suspense, que são a trilha musical e os efeitos sonoros, não são utilizadas nos momentos adequados. O resultado é que o “silêncio dos personagens” funciona pouco e acaba sendo enfadonho em determinadas cenas. No cinema do gênero, conceitos similares, com o mínimo de diálogos, já foram empregados mais efetivamente, como em Um Lugar Silencioso (2018) e em Ninguém Vai te Salvar (2023).

Mesmo que Monster não seja um bom filme, quando comparado a obra original americana (O Menino Atrás da Porta), algumas escolhas de seus realizadores tornam o longa indonésio superior. A principal delas é a presença da atriz Anantya Kirana, de 13 anos, vivendo uma protagonista carismática que consegue demonstrar suas emoções e terrores sem o apoio de diálogos ou apelar para gritos histéricos. Ainda em relação aos personagens, outra melhoria é a caracterização mais agressiva dos vilões, que aqui apresentam um visual mais sujo e ameaçador. A residência usada como cenário também é muito mais interessante, pois além de mais antiga e menos limpa, possui muitos cômodos interligados; o que a princípio parece um labirinto, converte-se em um trunfo para a personagem no mortal jogo de gato e rato em que foi jogada. Por último, a adaptação asiática apresenta algumas sequências mais soft gore que a americana, com direito até mesmo o desmembramento de um cadáver infantil.

Apesar da curta duração e do bom e tenso desfecho, o roteiro é pobre por apresentar poucos pontos de reviravolta ou revelações importantes que enriqueçam a trama, além de se perder algumas vezes, tornando as idas e vindas da protagonista sem sentido, excedendo o entendimento do que seria coragem ou estupidez dos personagens.

Enfim, apesar das limitações e problemas comentados, Monster é uma opção válida para o infernauta que considerar ignorar estes pontos. Poderá então encontrar um horror angustiante e eficiente em boa parte do seu tempo de exibição.

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