Os Melhores Filmes de Horror de 2020

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Quando apontam o ano de 2020 como um dos piores de todos os tempos para o Brasil e o mundo, esquecem que as coisas começaram a ficar ruins entre o final de fevereiro e começo de março. Até então o ano caminhava como qualquer outro, com as pessoas indo trabalhar, máscaras só no carnaval, parques, shoppings e cinemas funcionando normalmente. Costumo dizer que as coisas degringolaram a partir do dia 19 de fevereiro, com a morte de José Mojica Marins. Foi realmente um grande divisor, como uma última praga de Zé do Caixão para que o ano de sua partida nunca seja esquecido.

Sem os cinemas, muitas estreias foram adiadas, festivais passaram a ser online e o sistema de streaming ganhou uma incontrolável parcela de adeptos. Será que ainda é possível destacar os melhores lançamentos de terror de 2020, em um ano que terá como principal recordação as quase 200 mil mortes? Sim, com respeito às vítimas, ainda que de maneira tortuosa, muitas produções chegaram até nós e trouxeram prévias do que ira vir em 2021, se o mundo voltar ao normal. Se é que existe um “normal“.

Antes do apocalipse

Uma das primeiras estreias de 2020 foi o terror com elementos de ficção científica AMEAÇA PROFUNDA, lançado em 9 de janeiro. Com direção de William Eubank, o longa chamava a atenção pela presença no elenco de Kristen Stewart e Vincent Cassel, numa produção claustrofóbica, com referência ao demônio de Lovecraft Cthulhu. Apesar dos bons elementos, foi apenas um filme mediano, cheio de clichês em uma tentativa forçada de emocionar e surpreender. Na mesma época, em menos telas, estava disponível o aguardado O FAROL, de Robert Eggers. Também criou-se uma grande expectativa pelo diretor ser o mesmo de A Bruxa, e tendo no elenco Robert Pattinson e Willem Dafoe em uma belíssima fotografia em preto e branco. Contudo, mesmo com sua metáfora funcional, o longa deixou de lado o principal potencial do trabalho anterior do diretor: o medo. Ainda assim, se mantém como um bom filme.

Em fevereiro, os cinemas foram alimentados por produções interessantes e uma terrivelmente medíocre. MARIA E JOÃO: O CONTO DAS BRUXA, de Oz Perkins, foi uma boa releitura, com excelente trabalho de fotografia e bom elenco, com destaque para a atuação de Alice Krige. Se não tivesse um final tão simplório, poderia ter mais oportunidade em algumas listas dos melhores do ano. Por outro lado, essa possibilidade ficou reservada para O HOMEM INVISÍVEL, de Leigh Whannell, um longa que não bebe da fonte de H.G. Wells, mas traz ótimas reflexões sobre violência doméstica e um suspense muito bem realizado, com a excelente interpretação de Elisabeth Moss. Correndo por fora, mas sem deixar de lado a diversão, houve em 27 de fevereiro o lançamento de A HORA DA SUA MORTE, de Justin Dec, com o protagonismo de Elizabeth Lail, no papel de uma jovem que descobre através de um aplicativo que seus dias estão contados. Divertido, com algumas boas pitadas de humor, mas sem irritar como o péssimo O GRITO, de Nicolas Pesce, que chegou em 13 de fevereiro com a pretensão de dar um restart numa franquia que jazia bem adormecida. Chato, irritante e com efeitos especiais horrorosos, foi provavelmente o filme que despencou os cinemas de 2020.

Março reservou a chegada do mediano A MALDIÇÃO DO ESPELHO, de Aleksandr Domogarov, que se manteve preso nas telonas até os cinemas voltarem a abrir. Algo que também aconteceu com o interessante sul-coreano AS FACES DO DEMÔNIO, de Hong-seon Kim, que mostrou uma possessão curiosa, ameaçando todos os integrantes de uma família.

Durante o apocalipse

Com os cinemas fechando as portas pela quarentena do covid-19, o mundo passou a observar as estreias dos streaming. E foram muitas, com uma dificuldade imensa de acompanhar a todas. Algumas se destacam como o também sul-coreano #ALIVE, que chegou a Netflix trazendo um apocalipse zumbi, com o apoio das tecnologias. A terceira temporada de CASTLEVANIA, além do filme O SILÊNCIO DA CIDADE BRANCA, a antologia COLETIVO TERROR, a segunda de KINGDOM e o filme A MARCA DO DEMÔNIO vieram no mês de início da quarentena, com as pessoas ainda tentando entender como o vírus iria se comportar por aqui.

Entre abril e julho, a Netflix aumentou sua carga de lançamentos, trazendo sucessos do cinema dos anos anteriores, mas com o thriller de investigação com elementos de bruxaria LEGADO NOS OSSOS e, meses depois, OFERENDA À TEMPESTADE, com uma grande diminuição da qualidade em relação aos dois primeiros filmes dessa franquia. Foi lançada a série brasileira REALITY Z, o prelúdio de O GRITO, com uma série chatinha, dividida em capítulos de 30 minutos, e o longa polonês SEM CONEXÃO. Ainda teve a série CURSED – A LENDA DO LAGO, para os fãs de mitologia e maldições, e a última temporada da série fantástica DARK.

A partir de agosto, começou uma certa expectativa sobre um possível retorno dos cinemas, algo que não aconteceu nesse mês, embora os shoppings já estivessem abertos. A CAVERNA teve sua estreia, com viagens no tempo e aventura, assim como a quinta temporada de LÚCIFER para delírio dos fãs do demônio galã, e o longa oriental A MALDIÇÃO DA PONTE. Em setembro, foi a vez de O FANTASMA DE CANTERVILLE, a comédia de terror BABÁ: A RAINHA DA MORTE, com a volta do elenco principal, e o interessante O DIABO DE CADA DIA, sem o mesmo peso da versão literária. Chegou também a animação bem feita JURASSIC WORLD: ACAMPAMENTO JURÁSSICO, com bastante fidelidade aos filmes da franquia de dinossauros.

E, então, os cinemas reabriram as portas, e o mês de outubro foi repleto de lançamentos, como se as distribuidoras quisessem descarregar suas pendências de uma vez. O fraco remake CONVENÇÃO DAS BRUXAS, com uma estereotipada Anne Hathaway, e a continuação de JOVENS BRUXAS foram algumas das opções para os que estavam saudosos com o cinema, mas também teve a versão Blumhouse de A ILHA DA FANTASIA, resultando em algo bobo e pretensioso, o atrasado OS NOVOS MUTANTES, sem se definir para que lado seguir, além do piscou-perdeu POSSESSÃO – O ÚLTIMO ESTÁGIO. Em novembro e dezembro, o terror continuou tendo exemplares nas telonas como INVASÃO ZUMBI 2, AMIZADE MALDITA e FREAKY – NO CORPO DE UM ASSASSINO.

Enquanto a Netflix continuava apresentando exemplares como os ótimos O QUE FICOU PARA TRÁS, A LIGAÇÃO e VOZES, entre outros, a Amazon Prime trazia muitas opções como o interessante VIGIADOS, além da parceria com a Blumhouse que rendeu MAU OLHADO, NOTURNO, MENTIRA INCONDICIONAL e CAIXA PRETA, além da segunda temporada de ALÉM DA IMAGINAÇÃO, de Jordan Peele. É apenas uma pequena amostra do que os streaming apresentaram porque, na verdade, o número de lançamentos de terror foi muito maior.

Ainda assim, não foram suficientes para abrigar os principais destaques de 2020. Assim, para ajudá-los na escolha do que procurar, segue uma lista das principais obras lançadas em 2020, sem que ela possa ser considerada final, até porque muitas produções ainda serão conhecidas.

DESTAQUES DE 2020

12. Freaky: No Corpo de um Assassino

Foi lançado recentemente nos cinemas, mais precisamente em 10 de dezembro, pela Blumhouse, e foi ajudado pela divulgação na CCXP. Trata-se de uma slasher bem humorado com a mesma pegada de A Morte te dá Parabéns, também dirigido por Christopher Landon. A estudante de ensino médio Millie tem uma vida como qualquer outra, com dificuldade de se relacionar e sofrendo bullying por parte de seus colegas, até que, às vésperas de uma sexta-feira 13, ela é atacada pelo serial killer conhecido como Açougueiro e, devido ao uso de um punhal especial, trocam de corpos. Ela com a ajuda dos amigos têm 24 horas para desfazer essa troca antes que se torne permanente. Com ótimas referências, principalmente a Sexta-Feira 13 com um começo sangrento e criativo, este foi, sem dúvida, o filme-pipoca de 2020. Bem divertido, com destaque para a ótima interpretação de Vince Vaughn.

11. #Alive

Enquanto todos os olhares estavam ansiosos pelos zumbis de Península, a Coreia do Sul mostrou que sabe trazer os mortos à vida de uma maneira ainda mais criativa. Com o apocalipse acontecendo de forma acelerada, um jovem encontra refúgio dentro de seu próprio apartamento e tenta sobreviver com o uso das tecnologias até mesmo para se comunicar com uma vizinha que mora no prédio da frente. Drone, walkie talk e o computador o auxiliam na comunicação e sobrevivência, mas a comida está cada vez mais escassa. Claustrofóbico e com boas cenas de tensão e desespero, #Alive é um filme simples mas eficiente dentre as estreias da Netflix em 2020. Recomendado!

10. As Faces do Demônio

Outro exemplar sul-coreano, mas desta vez troquem os mortos-vivos pela possessão demoníaca. Uma família é atormentada por um demônio que troca de corpos entre os membros, alterando o comportamento de cada um deles, cabendo a um tio-padre a execução de um exorcismo. Mas, em quem estaria o demônio? Uma ideia bem realizada, que explora a relação familiar ao mesmo tempo em que promove momentos de tensão e violência física e psicológica. Traz um final meio-clichê, mas até chegar a ele o enredo ainda reserva algumas interessantes reviravoltas. Estreou nos cinemas em março, quando houve a quarentena, e ficou por lá até a reabertura em setembro.

9. A Ligação

Para fechar a trinca sul-coreana, mais um exemplar lançado no sistema de streaming. Com uma trama que envolve acidentes temporais e mistério, o filme traz uma jovem que consegue se comunicar por telefone com uma garota que viveu na mesma casa vinte anos antes. Nessa troca de contato, passado e presente se chocam de maneira criativa e com altas doses de suspense e surpresas. Com exceção da cena desnecessária durante os créditos, A Ligação é daqueles filmes que irão te fazer roer as unhas, enquanto permite um curioso diálogo com o drama fantástico A Casa do Lago, de 2006.

8. O Chalé

Já que mencionamos a Casa do Lago, que tal falar de um outro ambiente, neste filmaço que teve uma passagem rápida no festival internacional do Rio de Janeiro em 2019? Resgatando Alicia Silverstone em um papel menor, uma mulher, que em breve será madrasta e que no passado participou de um culto satânico, tem que passar alguns dias com duas crianças em um chalé isolado para facilitar a aproximação. Eventos assustadores começam a acontecer alterando a confiança e o comportamento do trio até resultar em uma situação perturbadora e incontrolável. Tenso, claustrofóbico, assustador são alguns dos adjetivos que podem ser usados para tratar dessa produção que merece fazer parte desta lista!

7. Possessor

Um retorno ao body horror tão bem desenvolvido por David Cronenberg só poderia vir de seu filho. Trata-se de um thriller com elementos de ficção científica, mas que não ignoram o horror gráfico, para apresentar uma organização que faz uso de implantes cerebrais para criar assassinos para clientes pagantes. Uma ideia que poderia desenvolver um filme de ação com algum protagonista popular, mas que se tornou aterrorizante pelo modo como apresentou sua parte final, com sequências angustiantes e que podem fazê-lo tirar os olhos da tela. Muito bom!

6. O Cemitério das Almas Perdidas

Produção nacional em destaque entre os melhores do ano. Só poderia vir, obviamente, do cineasta Rodrigo Aragão, que sabe como ninguém trazer um pouco de tudo que o fã de horror mais aprecia com toques brasileiros. Corrompido pelo poder do Livro Negro, um Jesuíta inicia um reinado de terror durante o período do Brasil colonial. Anos mais tarde, sendo alimentado pelos moradores de um vilarejo , ele pretende dar continuidade ao pesadelo com uma trupe circense de passagem no local, convocando mortos-vivos para trazer o inferno à Terra. Sangue, desmembramentos, ótimos efeitos de maquiagem e caracterização dos vilões fazem desta produção uma das melhores do diretor. Não teve passagem pelos cinemas ainda e merecia, mas foi exibido virtualmente em festivais online.

5. Anything for Jackson

Muitas vezes o gênero promove surpresas como o deste terror de Justin G. Dyck. Um casal de idosos sequestra uma jovem grávida para promover um ritual de “renascimento” do neto falecido. Quando se imagina que o enredo trará apenas a luta da jovem para tentar se libertar dos insanos, a história apresenta uma perspectiva diferente ao concentrar ações nos sequestradores e almas errantes que irão incomodá-los durante o processo. É melhor você não assistir a este terror satanista sozinho ou poderá ter pesadelos.

4. O que Ficou para Trás

Com características de um terror social, sem se esquivar dos momentos assustadores, esta produção chegou a Netflix este ano abordando o subgênero das casas assombradas. Um casal de refugiados do Sudão participa de um programa de restabelecimento europeu que lhe dará liberdade e moradia, desde que, de maneira alguma, eles deixem o local ou se envolvam em problemas. Mas, a casa tem buracos na parede, de onde surgem entidades atormentadas, e o passado da dupla não parece disposto a abandoná-los. Filme bem realizado, com uma ótima mensagem por trás de cada arrepio.

3, O Homem Invisível

Seria uma refilmagem da clássica produção de 1933 com Claude Rains, inspirada em H.G.Wells? Felizmente não. É um filme que tem vida própria e traz metáforas sobre violência doméstica e feminicídio ao mostrar uma mulher que tenta fugir do marido agressor, sem imaginar que ele descobriu um meio de se tornar invisível. As mensagens são evidentes ao simbolizar a dificuldade que ela tem em convencer a polícia de que o marido a está agredindo, além do terror psicológico proposto por ele, mostrando que a mulher que sofre agressões, muitas delas a irão acompanhar como um inimigo invisível em sua cabeça. Com cenas de suspense, deixando de lado a ficção científica, O Homem Invisível foi a melhor estreia nos cinemas brasileiros em 2020.

2. Relic

Pessoas que sofrem de demência ou qualquer problema degenerativo muitas vezes se sentem sozinhas, como se deixassem parte de si, suas memórias e vivências, pela casa. Esse excelente terror traz essa mensagem representada na filha e na neta que tentam amenizar o sofrimento da senhora com a companhia, mas sentem na pele como funciona a mente de uma pessoa assim, seja no quarto que parece se alterar como se a pessoa não se lembrasse do lugar, ou na emblemática cena final, capaz de levar o infernauta às lágrimas. Mas, o medo também convive nessa ótima produção, que trará boas reflexões e sustos.

1. The Dark and the Wicked

No trono, assumindo o posto de melhor filme de terror de 2020 está este filmaço que pode ser apontado como uma mistura de A Bruxa com Hereditário. No enredo, dois irmãos vão ao encontro da mãe numa residência rural isolada para ajudá-la nos cuidados dos últimos suspiros do pai. Porém, eles logo percebem que há uma força agindo ali, que desencadeará um horror crescente e incômodo. Assombrações, visões perturbadoras e uma intensa sensação de estar sempre com uma presença maligna, acompanhando-o para aonde quer que você vá. Muitos sustos e momentos de desespero fazem parte do cardápio dessa produção que merece ser conhecida em um lançamento nos cinemas.

Peraí, que tem mais um pouquinho de buuu….

Além dessas doze produções listadas, muitas outras correm por fora entre as preferências do Boca do Inferno e podem merecer a Menção Honrosa! Como não deixar de mencionar o thriller de perseguição Alone, que mostrou uma protagonista bastante inteligente, interpretada por Jules Willcox? E por falar em protagonismo feminino, o que dizer da tensa produção Run, estrelado pela ótima Sarah Paulson?  É uma espécie de Louca Obsessão, mas em um grau doentio e bastante perturbador! Por fim, há méritos também para o thriller violento e bem humorado O Lobo de Snow Hollow, de Jim Cummings, e que traz Robert Forster em seu último papel, fazendo o que ele faz de melhor! Mas, são assuntos para reviews próprias, em breve no Boca do Inferno!

Vamos esperar que 2021 seja um ano mais interessante para as telas grandes!

Feliz Ano-Novo, infernautas!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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